Poucos tenistas na história ganharam mais títulos de Grand Slam do que Maria Esther Bueno, a 12ª maior vencedora até hoje. Na frente dela, que morreu nesta sexta (8), estão apenas lendas da modalidade, como a australiana Margaret Court, a americana Serena Williams e o suíço Roger Federer.
Os 19 troféus conquistados pela brasileira em simples, duplas e duplas mistas garantiram sua entrada no hall da fama da modalidade e deram a ela reconhecimento internacional.
Maria Esther frequentava os torneios de Wimbledon e do US Open anualmente, com as honras que os campeões desses torneios recebem, e por várias vezes acompanhou jogos no camarote real do clube inglês.
John Barrett, jornalista britânico que acompanhou tênis por décadas, escreveu em um dos seus livros que Maria Esther misturava a elegância de uma bailarina com a potência de uma ginasta. No seu jogo destacavam-se o saque potente e as subidas à rede para matar os pontos com voleios.
Os brasileiros, porém, praticamente não viram sua maior tenista em ação. A maior parte da carreira dela coincidiu com a era amadora do tênis, em que os atletas não eram pagos e não viviam do esporte.
A paulista também não teve a chance de disputar uma Olimpíada, porque o tênis saiu do programa olímpico em 1928 e retornou somente em 1988.
A partir de 1968, ano do seu último título, com o início da chamada era profissional, a modalidade mudou de patamar. Ficou mais rica, atraiu mais jogadores e estes tornaram-se ídolos mundiais.
Quando disputou Wimbledon pela primeira vez, aos 18 anos, Maria Esther ia ao clube de metrô, acompanhada apenas de amigos que também disputavam o circuito. Atualmente, jogadores de ponta viajam com equipes de quatro ou mais pessoas.
Maria Esther não desfrutou dessa época próspera como jogadora e, consciente do tamanho dos seus feitos, costumava lamentar a falta de reconhecimento no Brasil.
"Na época, os meus títulos foram muito comentados no Brasil. Mas não sabiam exatamente a importância. Foi difícil atender a todos e explicar o que tinha acontecido. Não tinha muito tempo para isso, além de ser muito tímida. Confundiram isso com arrogância”, disse à Folha em 1997, após Gustavo Kuerten conquistar Roland Garros pela primeira vez.
A ascensão de Guga foi responsável por uma popularização do tênis no Brasil, que ajudou a tornar a multicampeã mais conhecida no país.
Maria Esther também ganhou mais visibilidade ao se tornar comentarista do SporTV, participando de transmissões e contando suas histórias de circuito em programas de TV.
Nas quadras, ela também era presença constante. Jogava com frequência na Sociedade Harmonia de Tênis, em São Paulo, e foi fotografada batendo bola no Rio Open deste ano, em fevereiro.
Por mais que Maria Esther não tenha tido uma cena mundialmente conhecida, como o coração desenhado no saibro por Guga, o tamanho de seus feitos garante que ela nunca será uma página esquecida na história do esporte brasileiro.
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