Descrição de chapéu Copa do Mundo

Porta-voz da geração Messi, Mascherano tenta ressuscitar a Argentina

Mesmo sem braçadeira, volante liderou os panos quentes em semana de crise

São Petersburgo

O capitão da Argentina é Lionel Messi, 31, mas o líder de fato é Javier Mascherano, 34.

No auge da crise após a derrota contra a Croácia, foi convocada reunião do elenco com dirigentes e o técnico Jorge Sampaoli. Não foi Messi quem falou pelos jogadores. Foi Mascherano. Se o camisa 10 parece carregar o peso do mundo nos ombros, o volante é o mais desesperado para evitar a eliminação da seleção nesta terça (26), às 15h, contra a Nigéria, em São Petersburgo.

Há sempre o discurso de que Messi lidera pelo exemplo. Quem comanda a Argentina em campo, de fato, é Mascherano. “Sejamos otimistas. Vamos nos agarrar ao que fizemos no passado. Somos os atuais vice-campeões do mundo e temos de mostrar isso. Vou crer neste grupo até o último dia. Oxalá estas palavras se convertam em atos porque nos cansa escutar os outros falarem.”

Após empatar em 1 a 1 contra a Islândia e perder de 3 a 0 para a Croácia, a Argentina precisa primeiro vencer a Nigéria. Mas, para se classificar em segundo no grupo D, torcerá para a Islândia não passar pelos croatas, também nesta terça. Se isso acontecer, a decisão da vaga será nos critérios de desempate. O primeiro deles é o saldo de gols.

Messi não tem problema com a liderança de Mascherano, que era o capitão até Alejandro Sabella chegar ao cargo de técnico, em 2011.

A primeira coisa que fez foi viajar a Barcelona para conversar com o volante. Sondou-o sobre a possibilidade de abrir mão da braçadeira em favor de Messi, que nunca a havia pedido. A ideia era fazer o craque assumir um papel de protagonista ainda maior. Mascherano assentiu.

Os dois foram companheiros no Barcelona de 2010 a 2018. O volante foi contratado por recomendação de Messi, apesar da resistência inicial de Pep Guardiola.

“Foi uma das melhores contratações que fizemos. É um jogador único”, elogiou o treinador, ao se render ao argentino meses depois.

Deixar a seleção é o final de um ciclo para qualquer um. Mas é difícil achar jogador que tenha ligação com a camisa nacional como Mascherano, que saiu de um dos principais clubes do planeta e aceitou ir jogar no incipiente futebol chinês porque teria a chance de atuar como volante.

No Camp Nou, era quase sempre utilizado na zaga. Ele desejava provar que poderia ser escalado no meio-campo no Mundial da Rússia. Só conseguiu porque o amigo Messi e o pai do atacante, Jorge, fizeram lobby pelo cabeça de área. Sampaoli pensou em não incluí-lo na lista de 23 selecionados. Cedeu aos pedidos.

A primeira partida como profissional de Mascherano não foi pelo River Plate. Foi pela seleção argentina. Ele estreou em junho de 2003 em amistoso contra o Uruguai, em La Plata. Conseguiu entrar em campo pelo seu clube apenas em agosto daquele ano. Somente o zagueiro Emanuel Mammana, 22, conseguiu o mesmo. O defensor atua hoje pelo Zenit de São Petersburgo, cidade onde a Argentina joga sua vida no torneio.

No último treino, Mascherano se sentou ao lado de Sampaoli e conversaram por alguns minutos. O volante apontou para um pedaço de papel que estava na mão do treinador e pareceu sinalizar posicionamentos e movimentações.

Ele foi um dos líderes do pedido (atendido) para que a equipe atue contra a Nigéria com uma linha de quatro na defesa. Diante da Croácia, eram três zagueiros, sendo que um deles (Tagliafico) é lateral de ofício.

“Em uma reunião como a que tivemos na sexta, falamos de futebol porque, se as coisas vão bem, todos ganham. Temos esperança de que esta experiência não termine na terça-feira”, completou.

É a frase de quem tomou a frente do gabinete de crise implantado pela AFA (Associação de Futebol Argentino) para controlar o tsunami de problemas e boatos que tomaram conta da seleção. É o mesmo volante que antes da viagem à Rússia disse que se sentia um soldado que ia para a guerra disposto a morrer.

Seria uma frase perfeita para ser usada em São Petersburgo, que sobreviveu ao que ficou conhecido como “cerco a Leningrado” (então nome da cidade), quando a região foi sitiada por 900 dias pelas tropas nazistas, italianas e finlandesas durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944. Sem conseguir dominar a União Soviética, os soldados do eixo se retiraram, saqueando e queimando o que viam pela frente. A estimativa é que um milhão de pessoas morreram.

Messi coçando a barriga, ao lado esquerdo da foto, com camisa branca de treino da seleção argentina; Mascherano, ao lado direito
Lionel Messi e Javier Mascherano durante treino em Bronnitsy, cidade perto de Moscou - Juan Mabromata - 11 jun. 2018/AFP

Muito mais dramático que uma partida de futebol. Mas não digam isso a Mascherano.

“Estou cansado de comer merda”, disse ele aos seus colegas durante a Copa de 2014, no Brasil. O torneio que terminou com uma sensação do que poderia ter sido. Da mesma forma que a Copa América de 2007, 2015 e 2016, competições em que a Argentina também perdeu a final.

Se para Messi é possibilidade, no caso de Mascherano, é real. Esta é a última chance do volante que, para evitar o gol do holandês Robben na semifinal em 2014, deu um carrinho na pequena área em que rasgou o ânus. “É lindo estar na seleção argentina, mas tem dificuldades. Na seleção se vive diferente e isso pode te fazer sair mais fortalecido”, disse, antes da viagem a São Petersburgo. Mais fortalecido, neste caso, significa se classificar e evitar o vexame.

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