Descrição de chapéu Copa do Mundo

Rússia teme campanha de 'terrorismo por telefone' na Copa

Rostov-do-Don teve locais evacuados por falsas ameaças de bomba, semelhantes às do último ano

Igor Gielow
Kaliningrado

A evacuação de um hotel, bares e restaurantes da sede da Copa Rostov-do-Don, ocorrida na terça (26), reacendeu temores de uma campanha daquilo que na Rússia é chamado de “terrorismo por telefone”.

A polícia da cidade informou, segundo comunicado, cerca de 15 chamadas de estabelecimentos que haviam recebido ligações com ameaças de bomba. Naquele dia, a Croácia despachava a Islândia da Copa na cidade, vencendo por 2 a 1.

Segurança bloqueia entrada de hotel em Rostov-do-Don após ameaça de bomba no local
Segurança bloqueia entrada de hotel em Rostov-do-Don após ameaça de bomba no local - Reuters/Marko Djurica

Nenhuma das ameaças se concretizou. Em setembro e outubro do ano passado, uma grande campanha de ameaças de bomba ocorreu na Rússia, centrada em Moscou. O resultado foi uma série de operações de evacuação de shoppings, metrô, prédios públicos e hotéis, considerada uma das mais disruptivas do gênero já registradas na Europa.

A investigação subsequente identificou quatro suspeitos russos, moradores no exterior, como os responsáveis primários pela campanha. Eles usaram, segundo o Serviço Federal de Segurança (FSB, nas sigla russa, o principal sucessor da KGB soviética), servidores diversos para fazer ligações por meio de serviços de telefonia na internet. Havia cúmplices na Rússia, mas nenhuma prisão foi feita.

Por seu histórico como alvo de terrorismo, as autoridades não brincam com o tema na Rússia. Desde a dissolução da União Soviética, em 1991, o país foi alvo de diversos ataques terroristas, usualmente associados a grupos fundamentalistas islâmicos do Cáucaso. Mais recentemente, o Estado Islâmico, atacado pelos russos na Síria, também reivindicou atentados.

Aviões, trens e metrô foram alvos preferenciais, mas não únicos. A Olimpíada de Inverno de Sochi, em 2014, correu sem problemas —mas a poucos dias de seu início houve um ataque numa cidade próxima. No ano passado, terroristas alvejaram o metrô de São Petersburgo, segunda principal sede da Copa. A proximidade da Mundial levou o Kremlin a implantar medida rígidas de segurança nas 11 sedes.

Não se entra em um vagão de metrô em Moscou sem passar por detectores de metais, que já existiam mas usualmente estavam desligados ou sem monitoramento, e vários grupos de policiais. Em Kaliningrado, sede mais ocidental da Copa, duplas de policiais vigiam o centro da cidade diuturnamente e cães farejadores patrulham o terminal do aeroporto da cidade. Em Iekaterinburgo, a sede mais oriental do torneio, hotéis instalaram detectores de metais e máquinas de raio-x.

Para o governo russo, uma Copa impecável do ponto de vista de organização é vital para a imagem combalida do presidente Vladimir Putin no exterior. Se ele goza de grande prestígio interno, é visto como um pária internacional em vários pontos do Ocidente, com uma boa ajuda da imprensa na Europa e nos EUA, devido às suas ações agressivas para defender o que considera interesse do Kremlin —como a anexação da Crimeia, após um golpe derrubar o governo pró-russo na Ucrânia, em 2014.

A estratégia é de morder e assoprar. É notável o treinamento das forças de segurança para deixar o fluxo dos torcedores correr. Por vezes é possível perceber o desconforto ou a curiosidade de soldados e policiais com os grandes e barulhentos grupos de torcedores, algo incomum na rotina russa, mas até aqui não há relatos de quaisquer abusos por parte das autoridades.

A comunidade LGBT russa, que vive nas sombras devido a leis que coíbem sua expressão no país e pelo preconceito geral da sociedade, está vivendo dias de inusual respiro nas ruas de Moscou. Até o consumo de álcool, proibido desde 1995 nas ruas, é tolerado —e bastante— nas regiões lotadas de turistas das cidades maiores.

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