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Copa do Mundo

Se há correlação com a história, resta desejo de boa sorte à França

Eliminada Alemanha teve maior derrota militar de sua história em solo russo

Kaliningrado

Desde que a Inglaterra teve seu momento de glória no esporte que criou, ao derrotar a Alemanha na final da Copa que jogou em casa em 1966, um bordão se cristalizou em sua torcida: “Duas guerras mundiais, uma Copa do Mundo”. 

A piada, referente às derrotas germânicas nos conflitos iniciados em 1914 e em 1939, hoje seria alvo de alguma patrulha politicamente correta.

Ela trazia o elemento inescapável das disputas esportivas: elas não são separadas do contexto de conflitos políticos e militares. Basta ver a confusão com os provocadores kosovares-suíços e os irascíveis sérvios neste 2018.

Portanto, não deverá demorar mais do que o ato de escrever essas linhas para surgir algum meme alusivo à última grande derrota alemã em solo russo, na Segunda Guerra Mundial, já que a seleção alemã perdeu de 2 a 0 para a Coreia do Sul e está eliminada da Copa do Mundo da Rússia.

Há 77 anos, lembrados na Rússia no dia 22 passado, as forças nazistas de Adolf Hitler promoveram a maior invasão terrestre da história. 

Até ali, quase no terceiro ano do conflito, a Alemanha seguia sua marcha aparentemente inexorável –a não ser pelo fracasso em subjugar o Reino Unido pelo ar em 1940.

O fez amparada no pacto de não-agressão promovido em 1939 entre Hitler e a União Soviética de seu colega ditador Josef Stálin. O acordo permitiu ao nazista concentrar seus esforços na frente ocidental da guerra. 

O acerto protegia as forças de Stálin, em péssimo momento, e ainda garantia metade da Polônia e outros territórios no Leste Europeu para Moscou. Mas não poderia durar para sempre, bastando ler qualquer panfleto nazista sobre o comunismo e vice-versa.

O fato é que o comando soviético foi pego de surpresa em 1941: os seus últimos trens com suprimentos e combustível cruzavam a fronteira rumo à Alemanha quando a invasão começou.

O resto é história: após avançar milhares de quilômetros em território soviético e deixar um rastro de destruição enorme, a União Soviética usou seus vastos recursos humanos e auxílio material de aliados ocidentais.

A partir da vitória em Stalingrado (1943), a atual Volgogrado, que é sede da Copa, a maré virou e os soviéticos acabaram por tomar Berlim em 1945. Foi o início da divisão do mundo entre uma esfera comunista soviética e outra capitalista, liderada pelos EUA, arranjo que durou até 1991 –quando a União Soviética desmoronou. 

O saldo humano, que se levado em conta desautoriza qualquer brincadeira com resultados esportivos, foi aterrador. A União Soviética perdeu 27 milhões de cidadãos, 18 milhões deles soldados, na guerra. A agressora Alemanha, 4,3 milhões de soldados e cerca de 500 mil civis.

Lutar na Rússia, o maior país do mundo, é missão complexa. Em 1812, o Grande Exército de Napoleão Bonaparte chegou a tomar Moscou, só para encontrar uma cidade deserta e incendiada. A retirada no duro inverno russo dizimou suas forças.

O futebol, a exemplo da guerra, carrega intrinsecamente um certo grau de irracionalidade supersticiosa e incorreção política. Resta então desejar boa sorte à França, que pegará a Argentina nas oitavas.

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