Descrição de chapéu Copa do Mundo

Técnico demitido pela Espanha salvou time para Mundial após fracassos

Julen Lopetegui, que fechou com o Real Madrid, já deu lugar a Fernando Hierro

O ex-treinador da Espanha Julen Lopetegui em amistoso contra a Argentina
O ex-treinador da Espanha Julen Lopetegui em amistoso contra a Argentina - Juan Medina - 27.mar.18/Reuters
Moscou

É raro ver uma das seleções favoritas ao título mundial mergulhar em uma crise a dois dias da estreia. A Espanha viveu uma quarta-feira (13) caótica com a demissão de Julien Lopetegui, 51, treinador que parecia ter recolocado a equipe nos trilhos após os fracassos na Copa de 2014 e na Eurocopa de 2016. 

O técnico foi dispensado pelo presidente da Real Federação Espanhola, Luis Rubiales. O dirigente se considerou traído por não ter sido avisado de que Lopetegui havia fechado acordo para dirigir o Real Madrid após o Mundial. O clube da capital fez o anúncio na última terça-feira (11).

"A negociação é legítima, mas a forma é importante. A federação não sabia de nada e temos de passar uma mensagem para todos os funcionários. A seleção é de todos os espanhóis", disse Rubiales.

Na Rússia, a seleção será comandada pelo ex-zagueiro Fernando Hierro. Ele já estava na delegação como diretor de seleções. A Espanha estreia na sexta-feira (15), contra Portugal, em Sochi  (pronuncia-se Sôtchi).

Ídolo histórico do futebol nacional depois de ter jogado quatro vezes a Copa do Mundo (1990, 1994, 1998 e 2002), Hierro é uma solução caseira, como Lopetegui foi, de certa forma, ao ser escolhido o treinador em julho de 2016.

A Espanha havia sido eliminada nas quartas de final da Eurocopa dois anos depois de cair ainda na fase de grupos no Mundial no Brasil.

A federação quis reencontrar a fórmula que levou a equipe a ganhar dois títulos continentais e um mundial entre 2008 e 2012. Desempregado após sair do Porto (POR), o treinador de origem basca se encaixava na descrição.

Ele já conhecia todos os jogadores. Fez carreira nas categorias de base da seleção. Dirigiu os times sub-19, sub-20 e sub-21. A filosofia de jogo fez a Espanha se tornar a número 1 do futebol mundial era também a sua.

Deu tão certo que a seleção ganhou seu grupo nas eliminatórias superando a Itália. Nos amistosos de preparação para a Copa, venceu a Argentina por 6 a 1, em Madri. Com ele no cargo, estava invicta.

"A Espanha é uma das favoritas ao título", disseram Lionel Messi e Jorge Sampaoli após a goleada na Espanha.

A renovação nem foi tão grande. Onze dos 23 atletas convocados para a Eurocopa de 2016 estão no Mundial. Dos 11 jogadores titulares na derrota para a Itália nas quartas de final, há dois anos, sete estiveram em campo quando as duas seleções se encontraram nas eliminatórias (De Gea, Piqué, Sergio Ramos, Alba, Busquets, Iniesta e David Silva).

Entre o Mundial de 2014 e a Eurocopa seguinte, quando foi comandada por Vicente del Bosque, a Espanha teve 16 vitórias e dois empates em 27 partidas, aproveitamento de 61,7% dos pontos. Mas o número mais importante é um outro dois. Duas eliminações.

Já com Lopetegui foram 14 vitórias e seis empates, 80% de aproveitamento. 

Ele não apenas havia estabilizado o barco da seleção, como parecia capitanear um projeto de longo prazo. Há cerca de três semanas, a federação anunciou a renovação do contrato com o técnico até 2020. Estava mantido no cargo no mínimo até a próxima Eurocopa. 

Luis Rubiales evitou falar isso de todas as formas, mas se sentiu traído. Quando questionado sobre o assunto, Hierro desconversou.

 

"Vamos nos equivocar se pensamos no passado e não no futuro. Eu tenho minha consciência muito tranquila. As circunstâncias são as que são. A partir daí enfrentamos a responsabilidade com valentia", disse o agora técnico.

A decisão de demitir Lopetegui foi exclusiva do presidente da federação. Aconteceu em um momento em que jogadores de Real Madrid e Barcelona, madrilenos e catalães, deixaram as diferenças de lado e pediram ao cartola para não fazer a mudança porque seria prejudicial para a seleção.

Sergio Ramos, Andrés Iniesta, David Silva, Gerard Piqué, Sergio Busquets e Pepe Reina se reuniram com Rubiales horas antes da decisão final. Não conseguiram demovê-lo de ideia. Na noite de terça-feira (12), Hierro foi filmado conversando com Lopetegui, gesticulando muito e parecendo estar contrariado. 

Não é a primeira vez que a seleção passa por uma situação como essa. Em 1980, três dias antes do início da Eurocopa, László Kubala, ídolo histórico do Barcelona, era técnico da Espanha e acertou contrato com o clube em que era venerado e onde hoje tem uma estátua. Não foi demitido pela federação e trabalhou até o final do torneio europeu. 

Crises entre treinadores, dirigentes e jogadores não são frequentes, mas já aconteceram na história das Copas do Mundo. A mais recente foi em 2010, quando o elenco francês se rebelou contra Raymond Domenech após a expulsão do atacante Nicolas Anelka da delegação durante a competição. A França, que havia sido vice-campeã em 2006, somou apenas um ponto e foi eliminada na fase de grupos.

É quase tão radical quanto a Arábia Saudita, que demitiu o brasileiro Carlos Alberto Parreira após dois jogos do Mundial da França, em 1998, porque havia perdido para Dinamarca e França. Ele não comandou a equipe na última partida, contra a África do Sul.

Oito anos antes, na Itália, os jogadores fizeram uma intervenção na seleção de Camarões. O treinador era o russo Valeri Nepomniachtchi, mas não mandava nada. Os atletas discutiam e decidiam como a equipe entraria em campo. 

"Estou muito triste, mas desejando que joguemos um grande Mundial", afirmou Lopetegui, antes de embarcar para a Espanha. Foi a única declaração que deu.

O discurso de Hierro é de continuidade. Não há tempo ou motivo para mudar o rumo estabelecido. Um carimbo de que o trabalho de Lopetegui era aprovado pela federação espanhola. Até aparecer o Real Madrid. 

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