Descrição de chapéu Copa do Mundo

Tite mudou seleção brasileira ao exigir polivalência de atletas

Atacantes passaram a marcar mais, e volantes tiveram liberdade para avançar

Tite orienta jogadores durante treino da seleção brasileira em Londres
Tite orienta jogadores durante treino da seleção brasileira em Londres - Lucas Figueiredo/CBF
Daniel Mariani Fábio Takahashi
São Paulo

Cobrando mais polivalência dos jogadores, o técnico Tite transformou a seleção. Com mudanças pontuais na escalação em relação a Dunga, seu antecessor, o ex-corintiano mudou o comportamento do time, que chega à Copa do Mundo da Rússia como um dos favoritos ao título.

A constatação vem de análise feita pela Folha com base em dados levantados pela Opta nas 18 partidas da seleção nas eliminatórias sul-americanas. Foram estudados no total 17 mil eventos de jogo, como passes, desarmes e chutes.

Os números mostram que, para levar o time nacional da sexta para a primeira posição no classificatório, o técnico cobrou mais comprometimento defensivo dos atacantes.

Com Dunga, os jogadores do setor ofensivo tentavam roubar a bola em média 3,6 vezes por jogo. Com Tite, os atacantes passaram a fazer em média 8 ações defensivas.

Um dos passos para conseguir isso foi a troca de Ricardo Oliveira por Gabriel Jesus na função de centroavante.

O jogador do Manchester City pressiona muito mais os defensores adversários. Em média, faz 7,5 ações defensivas por jogo contra 2,7 de Oliveira.

Mas não é só isso. Todos os atacantes passaram a colaborar mais com a marcação. O principal exemplo é Neymar, que, com Dunga, tentava roubar 4,7 bolas por jogo, contra 8,7 sob o comando de Tite.

Com a ajuda dos atacantes na marcação, Tite pôde dar mais liberdade para os volantes. Os jogadores mais recuados do meio de campo finalizam mais e chegam mais perto da área adversária, como elemento surpresa.

Em média, o volante com mais função de marcação de Tite (em geral, Casemiro) atuou três metros à frente do jogador da mesma posição de Dunga (Luiz Gustavo).

A percepção é corroborada pela porcentagem de passes realizados pelos volantes no campo de ataque (35% com Tite como técnico e 24% com Dunga) e pela diferença na média de chutes a gol por jogo dos dois jogadores (0,7 de Casemiro e 0,3 de Luiz Gustavo).

O chamado segundo volante, meio-campista que protege a defesa, mas também chega ao ataque, avançou ainda mais seu posicionamento (cinco metros à frente).

"Paulinho tem mais liberdade de chegar ao ataque, finaliza bem, chega na área e faz gols. Eu e Casemiro controlamos mais os contra-ataques para dar o equilíbrio necessário", disse Fernandinho, que jogou algumas partidas como meio-campista de marcação no time do técnico Tite.

Os volantes chutam hoje, em média, 3,3 vezes no gol. Com Dunga, a média de finalizações por jogo para jogadores dessa posição era de 0,8.

 
 

A ofensividade nos passes não prejudicou o trabalho na defesa desses jogadores. A média de ações defensivas na posição não variou de forma significativa. Chegou até a aumentar levemente, de 18 por jogo em média para 22.

"O nosso coletivo faz a diferença. Tivemos uma evolução tática muito grande. Hoje, todos participam da marcação como os zagueiros. E os defensores iniciam o processo de construção da jogada", disse o zagueiro Miranda.

Tite tem dado ênfase à ideia de colaboração. Após a vitória sobre a Argentina, em novembro de 2016, o técnico contou uma de suas estratégias para motivar a equipe. Momentos antes do jogo, ele mostrou aos seus atletas vídeo com lances da seleção na Copa de 1970.  

Na final contra a Itália, Tostão aparecia ajudando na marcação. Em um dos lances, narrou Tite, quase todos tocaram na bola, que ficou com Jairzinho. “Apareceu o lateral vindo de trás. Gol do Carlos Alberto. Isso mostra o quanto é importante senso de equipe.

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