Descrição de chapéu
Copa do Mundo

Uma final entre Brasil e Portugal? Não sei se o coração aguenta

É só preciso que Portugal termine em 2º do grupo e o Brasil em 1º de seu grupo

Philippe Coutinho comemora seu gol contra a Costa Rica
Philippe Coutinho comemora seu gol contra a Costa Rica - Christophe Simon - 22.jun.2018/AFP
Porto

Podia ser até um desejo fútil de verão, ou outra tolice qualquer, como discutir o nome do museu das descobertas em Lisboa, que ainda não existe; ou o simbolismo tecnocrático da gravata grega de Alexis Tsipras, que finalmente aconteceu. Podíamos até alimentar com isso a importância temporária de assuntos menores, mas a ideia do Sérgio era muito melhor.

Final: Brasil x Portugal! Atirou ele do lado de lá do Atlântico.

Isso era lindo! E dá! Respondi-lhe a pensar no calendário. É só preciso que Portugal termine em segundo do grupo e o Brasil em primeiro. Ou vice-versa. Aí o Brasil elimina a Alemanha, a Espanha e a Argentina; e nós, o Uruguai, a Dinamarca e a Bélgica. Dá, não dá? Já vimos isso acontecer.

E lá nos encontramos todos em Moscovo, que é também Moscou: Sérgio e José, Tite e Fernando, Ronaldo e Neymar. O Brasil e Portugal. De bandeira na mão e tinta na cara. Índios bandeirantes a escrever de novo a história. Manchete! A língua portuguesa conquista a Rússia de Putin.

Final, Brasil Portugal? Não sei se o nosso coração aguenta, Sérgio! Isso é até emocionalmente perigoso. E contei o que aconteceu na véspera, à hora de almoço, em Leiria, cidade a norte de Lisboa, ainda mais longe de São Paulo.

O Brasil sofria com a Costa Rica em todos os ecrãs. A seleção não conseguia marcar e o povo protestava. Lamentava a exibição, o empate zero a zero e as quedas do Neymar. Parecia até excursão de brasileiros, mas não era. Era apenas o bom povo de Leiria apoiando o “escrete” canarinho como se fosse o deles.

Quando o Philippe Coutinho marcou, já no tempo dos descontos, os portugueses rebentaram de alegria. 

Quando o Neymar confirmou, o estrondo foi ainda maior.

Ali, à sombra do castelo medieval de onde o Rei D. Dinis mandou plantar uma floresta de navios em plena areia da praia, o povo das descobertas sem museu era afinal, brasileiro.

Não vai dar, Sérgio. Vamos ficar de coração dilacerado. Sem saber como torcer, sem saber quem aplaudir, sem saber quem apoiar. Porque vocês adoram o Ronaldo, mas nós amamos o Neymar.

Final, Brasil Portugal? Era bom Sérgio, era bom. Mas ia ser uma merda.

José Manuel Diogo
especialista em media intelligence e colunista do Jornal de Notícias, de Portugal

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.