Descrição de chapéu Copa do Mundo

Belgas lotam ruas, praças e bares para festejar vitória diante do Brasil

'Allez les Diables (Vamos Diabos)', gritavam durante o duelo das quartas

Letícia Fonseca-Sourander
Bruxelas

Uma explosão de alegria tomou conta da Bélgica, país desacostumado com emoções fortes. Quando o jogo terminou ainda estava claro, porque é verão e a noite só chega bem tarde nesta época. Nas ruas, praças e bares milhares de belgas festejaram a vitória como se já tivessem ganho a Copa do Mundo. E de uma certa forma, ganharam. “Porque vencer contra o Brasil já é em si um sonho”, afirmou um torcedor dos Diabos Vermelhos – apelido dado a equipe da Bélgica. Esta era uma cena que não estava no script. Pelo menos, ninguém queria imaginá-la. Brasil derrotado e com o sonho da conquista do hexacampeonato mundial adiado.​

Torcedores celebram vitória da Bélgica sobre o Brasil em fan zone em Bruxelas
Torcedores celebram vitória da Bélgica sobre o Brasil em fan zone em Bruxelas - Francois Walschaerts/Reuters

A reportagem da Folha assistiu o jogo perto de um telão gigante rodeada por belgas radiantes na Praça Wiener, no bairro de Boitsfort. Em um ambiente descontraído, famílias com crianças e muitos jovens se misturavam a poucos brasileiros enrolados em bandeiras verde-amarelas. A cada jogada favorável a equipe belga aplaudia e gritava Allez les Diables – Vamos Diabos. No intervalo do jogo, os alto falantes tocavam Aquarela do Brasil no último volume. Talvez para festejar o gol contra que demos de presente para eles. E tudo regado a muita cerveja belga. Havia um espaço reservado para crianças bem na frente do telão. Dezenas delas sentadas no chão não desgrudavam os olhos do jogo. “Vim aqui para ver a Bélgica ganhar”, falou uma delas.

 

A menos de cinco minutos do final do jogo, o país segurava o fôlego. No apito final, euforia. Os Diabos Vermelhos se tornaram heróis nacionais deste pequeno reino. “O Brasil não acreditou que a Bélgica pudesse ser tão forte” comentou um torcedor no fim da partida. Talvez isso exprima uma certa baixa estima dos belgas, desabituados a brilharem. E como eles brilharam no campo em Kazan. Em Bruxelas, milhares de pessoas com os rostos pintados com as cores da bandeira belga – vermelho, amarelo e preto – pareciam não acreditar na vitória. Mas festejaram, buzinaram e soltaram foguetes durante horas a fio.

“Todos juntos, todos juntos” cantavam os torcedores da seleção belga. Um refrão impensável em um país tão dividido como a Bélgica. Apesar de efêmero, o impacto positivo dos Diabos Vermelhos na sociedade belga tem sido impressionante, afirma Bernard Rimé, psicólogo especializado em emoções coletivas da Universidade Católica de Louvain.

Às vésperas do jogo, os principais jornais do país estamparam manchetes decisivas. “Esta noite ou nunca” sentenciou o Le Soir, “uma ocasião de ouro para escrever na história”, afirmou o La Libre Belgique, enquanto o La Dernière Heure e comentaristas esportivos não cansavam de dizer que Brasil x Bélgica seria o “jogo do século”. A imprensa belga descreveu “a equipe nacional no auge de sua maturidade e preparada para enfrentrar um Brasil ressuscitado por Tite depois do traumatizante derrota para a Alemanha, em 2014”.

A Bélgica tem a oitava maior comunidade brasileira da Europa. A estimativa do Itamaraty é de que no país vivam cerca de 48 mil brasileiros, a grande maioria em situação de ilegalidade, sem visto de permanência. No bairro de Saint-Gilles, onde se ouve mais português do que francês, as bandeiras verde e amarelo se misturam às belgas. Desde que Portugal saiu da Copa, os patrícios que moram na região passaram a torcer pelo Brasil. Os brasileiros de Saint-Gilles tinham certeza da vitória da seleção verde amarela. Antes do jogo, os palpites giravam entre 3 x 1 a 2 x 1 para o Brasil. Depois da derrota, silêncio e decepção.

Mas muitos brasileiros assistiram o jogo com o coração dividido. A médica carioca Paula Villela, casada com um belga, falou que em primeiro lugar torceu para o Brasil, mas confessou que não ficou triste com a vitória da Bélgica. Outra carioca, Istefânia Ferreira de Sousa, que trabalha em um dos bares mais frequentados pela comunidade verde amarela em Saint Gilles, disse que a Bélgica acolhe muito bem os brasileiros, por isso se alegrou ao ver o país vencer.

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