A aristocrática Kazan do século 19, onde começaram as inquietações do escritor Lev Tolstói (1828-1910), ainda está viva na atmosfera da cidade. Uma das sedes da Copa é considerada a terceira capital da Rússia, depois de Moscou e São Petersburgo.
As casas das famílias ricas como a dele, o parque por onde o romancista caminhava e a universidade onde ele começou a estudar línguas orientais em 1844: tudo permanece vivo e faz parte do ambiente em que o escritor escrevia os seus diários.
Em Kazan, a capital da República do Tartaristão, o povo tártaro faz questão de mostrar a todos sua cultura e a livre convivência entre católicos ortodoxos e muçulmanos.
Uma grande conquista da cidade sobre a preservação da cultura local ocorreu em 2000.
Baseados em pesquisas arqueológicas e outros trabalhos científicos, pesquisadores da Universidade Federal de Kazan conseguiram que a Unesco classificasse o Kremlin local como patrimônio mundial da humanidade.
A história na região em que o rio Khazanka deságua no Volga começou muito antes do século 19 e de Tolstói se mudar para lá com os irmãos e tios, após ter ficado órfão. As análises científicas mostram que os primeiros resquícios urbanos datam do século 11.
Nos primeiros 500 anos de desenvolvimento, a localidade fez parte do império dos búlgaros que se espalhou pelo rio Volga. Também fez parte do canato mongol da Horda de Ouro e virou capital de um Estado tártaro independente.
Em 1552, se os portugueses desbravavam a atual América do Sul e estavam prestes a fundar a cidade de São Paulo, a história de Kazan também iria se transformar. A cidade foi dominada por Ivan, o Terrível, passando a fazer parte da fronteira mais oriental do império russo, que ainda estava longe de se consolidar.
A vitória foi tão importante que Ivan mandou construir a Catedral de São Basílio na Praça Vermelha, em Moscou. As torres da igreja simbolizam os líderes muçulmanos que caíram na guerra.
Antes de fazer parte do que se tornaria a União Soviética, a convivência nem sempre pacífica de eslavos, mongóis e outros grupos, com vários hábitos e religiões, como o islamismo, deixou várias marcas na região. No caso dos tártaros, a cultura sobreviveu. A estimativa é que há 2 milhões deles vivendo no Tartaristão.
O fato de a região ser uma república dentro da Rússia, que goza de alguma independência e liberdade mas responde ao governo Putin, ajudou o local ser um centro multicultural com várias religiões.
Ao se olhar para o horizonte em Kazan, é nítida a mescla cultural que existe. As cúpulas das catedrais católicas ortodoxas se misturam aos minaretes das mesquitas.
Um dos templos muçulmanos mais impressionantes está desde 2005 dentro do Kremlin, o lugar mais importante de Kazan em termos simbólicos. A mesquita Kul Sharif foi erguida onde havia a antiga mesquita destruída por Ivan. A antiga vida urbana sempre se desenvolveu dentro das grossas muralhas da fortaleza, preservada até hoje.
Kazan é a cidade com mais muçulmanos da Rússia. Mas também tem templos católicos romanos, sinagogas e budistas. Todas as religiões convivem na cidade, o que se percebe nas vestimentas das pessoas.
"Muito por causa dessa característica histórica da região, de ser multicultural, é que Kazan é desta forma", afirma Rail Fakhrutdinov, catedrático de Ciências Históricas da Universidade Federal de Kazan. "Aqui sobrevivem elementos de várias nações", diz.
A tradição multicultural da cidade será ampliada em 2019. A universidade federal vai ensinar português do Brasil, segundo Liya Bushkanets, professora do departamento de russo e língua estrangeiras.
Cidade dos esportes, Kazan almeja ser sede dos Jogos Olímpicos
A arena de Kazan não é a única instalação esportiva que chama a atenção na cidade.
Desde que na virada do século foi iniciada política pública voltada ao esporte, com apoio de Moscou, dezenas de edifícios foram construídos.
Um dos orgulhos da cidade, o Palácio de Gelo recebeu seu primeiro jogo de hóquei em dezembro de 2005, ano em que Kazan passou a sofrer uma profunda transformação por causa do esporte.
No caso de Kazan, a aposta do governo Putin para projetar o país no exterior recaiu sobre a Universíade-2013, maior evento esportivo universitário do planeta. Uma vila olímpica com 40 mil camas surgiu. Após a saída dos atletas, o local passou a ser usado como moradia estudantil.
Em 2015, o Campeonato Mundial de Natação também foi disputado na cidade.
"O importante é que não temos apenas investimento nos esportes de elite", diz Ramil Khairutdinov, chefe do setor de Kazan da Sociedade Histórica da Rússia. "Temos também muitas piscinas e ginásios para o hóquei que toda a população pode usar", afirma.
A cidade às margens do Volga, com seu verão quente e seco, também virou o lugar do vôlei. O Zenit-Kazan, que atua no ginásio local para 13 mil pessoas, é hoje o melhor clube masculino da Europa.
Um dos grandes entusiastas das políticas em esporte é Vladimir Leonov. O ministro de Esportes do Tartaristão não esconde que um dos objetivos da cidade é sediar uma edição dos Jogos Olímpicos.
Se hoje por onde se anda na cidade existem exuberantes edifícios esportivos, abertos ao público, além das bandeiras da Fifa, o futuro dirá se nos anos 2030 os anéis olímpicos atrairão novamente milhares de turistas estrangeiros.
Esporte em Kazan
Rubin Kazan
Clube de futebol, foi campeão russo em 2008 e 2009, ano em que ganhou do Barcelona na Liga dos Campeões
Ak Bars
Equipe de hóquei no gelo, acaba de conquistar a prestigiada Copa Gagarin
Zenit Kazan
Atua em ginásio para 13 mil pessoas e é o melhor clube masculino de vôlei da Europa
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