Descrição de chapéu Copa do Mundo

Brincalhão Pogba deixa lado moleque e vira líder da seleção da França

Com papel de capitão, mesmo sem a braçadeira, tem papel mais defensivo

Pogba comemora após a vitória da França sobre a Bélgica pela semifinal
Pogba comemora após a vitória da França sobre a Bélgica pela semifinal - Adrian Dennis - 10.jul.2018/AFP
Istra

​A impressão que Paul Pogba causou no seu primeiro dia no Manchester United em 2009, um garoto magricela de 15 anos, foi a mesma imagem que carregou por muito tempo: a de um cara legal.

Os meninos de outros países quando chegam à Inglaterra são tímidos, ficam no seu canto e quase nunca falam inglês.

Pogba era diferente. “Ele chegou se apresentando, conversando com todo mundo e fazendo brincadeiras. É como se ele já estivesse lá com a gente há muito tempo”, relembra nove anos depois Jesse Lingard, seu companheiro hoje em dia no elenco profissional em Old Trafford.

Pogba era tão bacana que deu nos nervos de Sir Alex Ferguson. Em um dos primeiros treinos do meia no time profissional, o treinador chamou o veterano Paul Scholes em um canto. Minutos depois, o francês recebia uma entrada dura após a outra no complexo de Carrington. Era para torná-lo mais durão em campo.

Deu tão certo que a criança brincalhona criada em Roissy-en-Brie, na periferia de Paris, hoje com 25 anos, se transformou no líder da seleção francesa que neste domingo (15) decide a Copa do Mundo contra a Croácia, em Moscou.

“Dentro de campo ele não mudou muito. Vejo que está mais aberto no vestiário, oferece conselhos quando acha que deve falar algo”, observa Antoine Griezmann, dois anos mais velho do que o meia recontratado em 2016 pelo Manchester United por R$ 477 milhões (valores atuais), à ocasião a mais cara transação da história do futebol.

Não que Pogba tenha virado um ranheta da noite para o dia, mas, em campo, se comporta como o capitão francês que não é. A braçadeira é usada pelo goleiro Lloris.

Durante a partida contra a Bélgica, na semifinal, ele deu bronca e gesticulou na direção de Mbappé, outros dos astros da seleção. Diante do Uruguai, na fase anterior, fez algo parecido com Griezmann. Pogba quer ganhar. Pela maneira como comenta o assunto, tem urgência em apagar a imagem deixada pela derrota na final da Eurocopa para Portugal, em 2016. Sua equipe era favorita, Cristiano Ronaldo se machucou nos primeiros minutos, mas a França perdeu por 1 a 0 na prorrogação.

“Depois que ganhamos da Alemanha [na semifinal da Eurocopa], estávamos com a mentalidade pronta. Hoje sabemos que é parelho”, definiu, sem querer dizer que a França já se achava campeã europeia. Mas, no fundo, era exatamente isso o que falava.

Ganhar representaria muito mais do que vencer o torneio europeu. Derrotar a Croácia seria a resposta perfeita. Também serviria para apagar outras críticas que lhe são feitas. A de que teve atuações muito apagadas há quatro anos, no Brasil, e que costuma desaparecer em partidas importantes. A de domingo será a maior de todas. “Não escuto as críticas”, se limitou a dizer.

Para ser campeão mundial ele aceitou um papel mais defensivo do que está acostumado. Exatamente o mesmo que não lhe agrada desempenhar no futebol inglês. Faz dupla de volantes com N’Golo Kanté. Uma combinação improvável. O volante tímido, baixinho (1,68m), que quase não fala nada e especialista em roubar bolas. O outro expansivo, bom de redes sociais, 1,91m, articulado, apaixonado por fazer lançamentos e chegar ao ataque para finalizar. Não parecia ser combinação destinada ao sucesso, mas deu certo na Rússia.

​Kanté foi rejeitado por vários clubes por ser pequeno demais. As mesmas equipes que quase saíram no tapa para ter Pogba, desde cedo um meia esguio, estiloso e que parecia ser capaz de atuar nas 10 posições de linha. Na Juventus (ITA) se moldou como armador ofensivo, atuando pelo lado esquerdo. Ao retornar à Inglaterra, foi utilizado em diferentes funções, mas sem render o que se esperava de alguém que custou tão caro.

E quando um jogador que carrega a etiqueta de mais caro do mundo não produz, é muito fácil apontar o dedo para o que ele faz fora de campo. As brincadeiras com os outros jogadores, os diferentes cortes e cores de cabelo, as imagens nas redes sociais.

Após uma rodada do campeonato nacional, postou foto ao lado da atriz Julia Roberts. Ninguém entendeu o que ela estava fazendo em Manchester. Ou seria Pogba que tinha viajado aos Estados Unidos?

Na última temporada do Campeonato Inglês, o meia entrou em campo pelo Manchester United para enfrentar o Manchester City no dérbi da cidade com o cabelo rajado de azul. A cor do rival do seu clube. Poderia dar errado, mas ele fez dois gols, o United saiu da desvantagem de 0 a 2 para vencer por 3 a 2 e tudo ficou bem. É preciso ter muita confiança no próprio taco para fazer algo assim.

“Em 1998 [quando a França foi campeã], não havia redes sociais. Mas a vida de hoje é assim. As redes sociais fazem parte. É uma nova geração”, dá de ombros.

Entre Facebook, Instagram e Twitter, Pogba tem 37 milhões de seguidores.

A final da Copa é ainda mais importante (se for possível) para Pogba porque ele poderá ser campeão em frente à família. Os irmãos Mathias e Florentin, 27, estão em Moscou durante o Mundial.

Ambos são jogadores profissionais, mas não chegam nem perto da fama do caçula. Paul enfrentou Florentim há dois anos, pela Liga Europa, quando o zagueiro estava no Saint-Etienne (FRA). Entraram e saíram de campo conversando e sorrindo, o que não pegou bem em uma partida eliminatória.

“Acho que eles conversaram mais neste jogo do que nos últimos dez anos. Será que não podiam deixar para depois?”, resmungou o ex-volante irlandês Roy Keane, hoje comentarista de TV na Inglaterra.

A impressão que passou era que Pogba queria fazer de si mesmo um acontecimento maior do que a partida. Mas isso está no passado. Instigado pelo técnico Didier Deschamps, o garoto alegre dos arredores de Paris fica carrancudo se preciso, marca se for preciso e esquece as arrancadas ao ataque se preciso.

Sem fazer gols nesta Copa, até abriu mão das cobranças de falta na seleção. Deixa para Griezmann, o colega com quem bola as comemorações de gol, o único momento em que o Pogba versão moleque tem aparecido na Rússia.

Paul Pogba, 25

O meio-campista foi revelado pelo Manchester United (ING), no entanto, só começou a chamar a atenção após ir para a Juventus (ITA). Atuou na Itália de 2012 a 2016, quando voltou para o clube inglês. Joga na seleção francesa desde 2013 

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