Com Brasil e Bélgica, quartas opõem técnicos que tentam salvar gerações

Tite e Roberto Martínez assumiram em meio a crises e tentam semifinal da Copa

Camila Mattoso Diego Garcia Luiz Cosenzo Sérgio Rangel
Kazan

O jogo entre Brasil e Bélgica nesta sexta-feira (6) marcará um duelo entre treinadores que chegaram para salvar gerações depois de sucessivos fracassos. Com estilos diferentes, Tite, 57, e Roberto Martínez, 44, tentam levar suas seleções para a semifinal da Copa do Mundo.

Assim como o brasileiro, que assumiu o cargo depois da queda na Copa América, o espanhol, que comanda a Bélgica, foi anunciado após o fracasso do time na última Eurocopa. Ambos assumiram em 2016 e fizeram campanhas históricas nas eliminatórias.

Tite observa jornalistas durante entrevista coletiva em Kazan
Tite observa jornalistas durante entrevista coletiva em Kazan - Eduardo Knapp/Folhapress

Se o brasileiro se define como perseguidor do "equilíbrio", o comandante belga se diz "um rebelde tático", dono de um perfil agressivo.

A partida, marcada para as 15h, na Arena Kazan, define uma vaga para as semifinais do Mundial. O segundo mata-mata da seleção será o confronto entre a melhor defesa da Copa (o Brasil) e o melhor ataque (a Bélgica).

Lukaku, o camisa 9 e artilheiro belga, é o melhor exemplo da marca de seu treinador. Em apenas três jogos, ele deu cinco chutes certos no gol e marcou quatro vezes.

Com o estilo ofensivo implementado, os rivais do Brasil têm 12 gols na Rússia. Levaram quatro, dois contra a Tunísia e dois contra o Japão.

O Brasil marcou sete e foi vazado apenas uma vez, no empate com a Suíça.

Os dois treinadores tiveram o mesmo tempo para trabalhar suas seleções antes do Mundial. Foram apresentados com a diferença de pouco mais de um mês apenas. Tite chegou em em junho, e Martínez, em agosto de 2016.

Apesar de ter a chamada "geração de ouro", os belgas acumulam decepções desde o Mundial de 2014, quando foram eliminados pela Argentina nas quartas de final.

Com a estrela Neymar, o Brasil também ainda tinha no retrospecto o 7 a 1 contra a Alemanha, vexame que acabou com o sonho do hexacampeonato em 2014.

As mudanças nas duas seleções deram resultado. Nas eliminatórias para a Rússia, os times fizeram campanhas arrasadoras. A Bélgica venceu nove partidas e empatou apenas uma vez. O Brasil terminou em primeiro na classificação. Sob o comando do gaúcho, a equipe venceu 10 partidas e empatou apenas duas no torneio classificatório.

Se Tite era unanimidade quando chegou, Martínez, segundo estrangeiro no comando da seleção, foi recebido com críticas.

Até uma das principais estrelas da equipe, De Bruyne, reclamou das mudanças táticas. Com mais de uma década de experiência na Inglaterra, ele colocou três zagueiros na equipe e lançou a Bélgica ao ataque. O time está com 100% de aproveitamento, sendo um dos mais eficientes do torneio.

Comparado com o Brasil, por exemplo, o número de chutes a gol foi exatamente o mesmo, 77 para cada lado. A diferença foi mesmo a competência em marcar.

"Quero tirar o máximo dos jogadores e a tática tem que se adaptar a eles. Sempre protejo o talento individual", disse o espanhol, que viajou para a Copa já com o contrato renovado até 2020.

Catalão como Pep Guardiola, ele tinha um quadro de Johan Cruyff, outra lenda do Barcelona, no seu escritório quando trabalhava no Everton (ING). A posse da bola e o futebol ofensivo são suas características mais fortes.

No Swansea (ING), fez o time pular de 150 para 650 passes por jogo. Desde a sua chegada, Martínez quintuplicou a troca de passes da seleção belga.

Ainda assim, nesta edição da Copa do Mundo, o Brasil trocou mais passes do que os adversários, mas com pouca diferença. Uma média de 502 toques certos contra 459, respectivamente.

De estilos diferentes, Tite e Martínez tiveram caminhos semelhantes na carreira. Ex-jogadores, seguiram no futebol e viraram técnicos.

Dez anos mais velho, e com quase o dobro de experiência no futebol do que o rival, Tite é mais vencedor como técnico. Ganhou um Mundial de Clubes e a Libertadores com o Corinthians, além de dois Campeonatos Brasileiros.

O técnico da seleção da Bélgica, o espanhol Roberto Martínez, durante treino
O técnico da seleção da Bélgica, o espanhol Roberto Martínez, durante treino - Sergei Karpukhin/Reuters

A maior façanha de Martínez foi levar o pequeno Wigan (ING) a um título inédito da Copa da Inglaterra, batendo o Manchester City, em 2013. Em seguida, caiu com o time para a segunda divisão. Como jogador, ele atuou a maior parte da carreira em clubes na Inglaterra, onde é chamado de Bob.

"O poder criativo da Bélgica é muito forte. São duas equipes que primam por um futebol bonito, cada um com suas características. A Bélgica tem valores individuais de qualidade, um grande técnico, uma grande campanha. Vai ser um grande jogo", diz Tite.

Martínez concorda com o brasileiro, mas vê uma diferença entre as seleções: o peso do histórico em Mundiais. A melhor atuação da Bélgica foi na Copa do México, em 1986, quando o time terminou na quarta colocação.

"Temos talentos na seleção, mas nunca ganhamos uma Copa do Mundo. É assim quando se entra em torneio em que não tem o status de já tê-lo vencido. O Brasil sabe como é, ganharam mais que qualquer outro país e se livraram dessa barreira psicológica", conclui o treinador.

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