Olivier Giroud, 31, centroavante da França, ainda não fez um gol na Copa do Mundo na Rússia. Nem acertou um chute ao gol. Mas sabe o seu valor. A cada pergunta sobre suas estatísticas na competição faz cara de enfado, de quem já teve de responder à pergunta muitas vezes antes mesmo do torneio.
“Sei que sou importante para o time. A minha função em campo tem valor. Os gols não aconteceram ainda, mas não estou preocupado com isso. O treinador acredita em mim”, afirmou o atacante após a vitória sobre o Uruguai nas quartas de final.
É uma variação bem mais educada da resposta que o meia brasileiro Dirceu deu para os jornalistas antes do início da Copa de 1982 na Espanha. Cansado da insistência em saber os motivos para Telê Santana escalá-lo, o jogador explodiu:
“Eu estou no time do Telê. Se não estou no time da imprensa, azar de vocês”.
Dirceu logo saiu da equipe titular, mas isso não acontecerá com Giroud. O técnico francês Didier Deschamps avisou que ele já está escalado para a final da Copa do Mundo, domingo (15), em Moscou.
“Giroud não marcou ainda. Eu repito: ainda”, ressaltou o treinador.
Deschamps fica descontente com as comparações da equipe atual com a de 1998, mas é inevitável lembrar que a situação francesa atual lembra a do time campeão de 20 anos atrás em mais de um aspecto ofensivo.
O treinador Aimé Jacquet levou quatro atacantes para aquele vencido pelas franceses, mas não viu nenhum deles se firmar. Começou com Christophe Dugarry, passou por Thierry Henry, David Trezeguet e entrou em campo na final contra o Brasil com Stéphane Guivarc’h, que transformou a perda de gols contra Taffarel em quase uma forma de arte. Desperdiçou três que poderiam ter transformado os 3 a 0 final num placar ainda mais dilatado.
O título aconteceu graças a Zinedine Zidane e Emmanuel Petit. Da mesma forma que a vaga na final foi construída com os gols do zagueiro Blanc (nas oitavas com o Paraguai), as defesas de Barthez (nos pênaltis diante da Itália, nas quartas) e nas finalizações do lateral/zagueiro Thuram (na semifinal).
A França está na decisão de 2018 porque Umtiti fez o gol da classificação na semifinal, contra a Bélgica. E Varane abriu o caminho nas quartas diante dos uruguaios.
“É um pouco cansativo. Eu estou entediado com isso. Faço meu trabalho em campo. Quando sinto que fiz o meu papel para o time e fui importante, estou satisfeito”, afirma Giroud.
Antes da Copa de 1998, o principal atacante do futebol francês era Eric Cantona. Mas ele não aceitou fazer a função imaginada por Jacquet e pediu para não ser chamado. O maior nome da posição na França hoje em dia é Karim Benzema, não convocado por ter se envolvido em episódio de chantagem com Mathieu Valbuena para evitar o vazamento de um vídeo íntimo do meia. A segunda melhor opção era Alexandre Lacazette. Ficou fora por opção de Deschamps.
Ter perdido a melhor chance francesa para marcar contra a Bélgica, antes do gol de Umtiti, na semi, só piorou a situação de Giroud. Ele completou o passe de Mbappé na área de forma fraca e sem direção.
Foi uma conclusão que não lembrou o centroavante do Chelsea que, quando estava no Arsenal ganhou o prêmio Puskas da Fifa de gol mais bonito de 2017. Acertou um golpe de escorpião na bola e marcou contra o West Ham pelo campeonato nacional. Ou o atacante que anotou três diante do Paraguai em amistoso em 2017. Foi o primeiro jogador a fazer isso pela seleção francesa na mesma partida em 17 anos.
Giroud diz não ligar para as críticas e cobranças, mas às vezes não consegue suportar. Durante a Copa do Mundo ele tem levado tudo com profissionalismo. Talvez porque a França está vencendo. Mas ele já perdeu a calma outras vezes. Em 2017, enquanto dava entrevista após amistoso com a Rússia, viu que os jornalistas mantinham o microfone em sua boca, mas estavam com os olhares em Mbappé, que passava atrás dele.
“Vocês querem falar com ele? Vão lá e falem com ele, então!”, explodiu.
Se fizer o gol na final da Copa do Mundo, a explosão será bem diferente.
Olivier Giroud, 31
O atacante estreou no pequeno Grenoble Foot 38, da segunda divisão do Campeonato Francês. Após passagens pelo Tours e pelo Montpellier, foi para o Arsenal da Inglaterra, onde jogou de 2012 até janeiro deste ano. Hoje defende o rival Chelsea. Desde 2011 joga na seleção francesa, pela qual marcou 31 gols em 80 jogos
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.