Descrição de chapéu Copa do Mundo

Comunidade croata de SP vai do riso ao choro, mas fica orgulhosa do time

Cerca de 500 pessoas lotaram a Croatia Sacra Paulistana no bairro do Jabaquara

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Aplaudidos de pé. Assim os jogadores da Croácia foram saudados após derrota para a França por 4 a 2 pelos cerca de 500 torcedores que superlotaram a Sociedade Croatia Sacra Paulistana, no Jabaquara, zona sul da cidade de SP. Mesmo com o revés, o sentimento era de que agora o Mundo inteiro conhecia o país da península balcânica.

O clube, fundado por imigrantes croatas em 1957, viveu uma manhã de domingo (15) especial. Pessoas oriundas do país, seus descendentes e simpatizantes vestiram as camisas quadriculadas da seleção e foram ocupando os lugares disponíveis. Poucos minutos antes da partida, já não havia mais onde sentar. O chão foi tomado por jovens, enquanto os mais velhos ficaram com as cadeiras e mesas, decoradas com as cores do time.

No momento do hino nacional todos se levantaram, depois aplaudiram jogador por jogador durante o anúncio da escalação da equipe. Gritos de "Vai, Croácia" eram entoados, tanto em português quanto em croata. Nem mesmo os problemas no sinal da transmissão de TV, em razão dos aviões que pousavam e levantavam voo no aeroporto de Congonhas, vizinho à área, atrapalhavam a animação dos presentes.

A seleção da Croácia iniciou o jogo pressionando a França, o que aumentou a empolgação da torcida. No entanto, aos 17 minutos do primeiro tempo, a agitação e o barulho deram lugar a um silêncio perturbador. Mandzukic, contra, colocou os rivais em vantagem. Segundos depois do choque de levar o gol quando eram melhores, gritos de incentivo —e de reclamação com a marcação de uma falta inexistente —ecoaram.

Essa foi a tônica de quem assistia à final na associação. Uma montanha russa de emoções, muito evidente com a empolgação mostrada no momento do gol de empate, feito por Perisic, e na apreensão durante a revisão pela arbitragem da jogada que culminou em pênalti convertido pelo francês Griezmann.

Maja Kvaternik, 33, era o retrato disso. Com o filho Liam de 2 anos no colo, ela não conseguia conter as lágrimas durante o intervalo. O sorriso antes de a bola rolar tinha dado lugar ao choro.

Maja Kvaternik, 33, com o filho Liam, 2, no colo durante transmissão da final entre Croácia e França no clube croata
Maja Kvaternik, 33, com o filho Liam, 2, no colo durante transmissão da final entre Croácia e França no clube croata - Marlene Bergamo/FolhaPress

Maja é croata, casada com o brasileiro Carlos Leite, 34, e está em São Paulo há três anos. Ela e o marido se conheceram em 2013, quando veio ao país em razão da visita do Papa Francisco, em julho de 2013. O primeiro encontro aconteceu em uma casa noturna de música sertaneja na capital paulista. "Amigos meus levaram eu e minha irmã para sair. Ele, que assim como eu gosta de rock, estava lá por acaso, com os amigos", conta.

Desde então, os dois mantiveram contato através das redes sociais. Ela voltou ao Brasil em mais duas oportunidades, e ele foi até o país europeu para visitá-la. "Chegou um momento em que tivemos que decidir se iríamos terminar ou ficar juntos. Então, eu vim para o Brasil", diz Maja, que fala um pouco de português e se comunica com o filho e o marido também em inglês e croata.

Sobre a derrota por 4 a 2, ela afirma não se importar. "Já estamos muito orgulhosos deles [jogadores da seleção]. Eles jogaram com fogo no coração e muita vontade", finaliza.

O sentimento dela é compartilhado por Sime Deur, 80. O croata, no Brasil desde 1959, está orgulhoso de sua seleção. "Quem não conhecia a Croácia agora passou a conhecer. O futebol é assim, nem sempre se pode vencer", afirma.

Em São Paulo, ele se casou com uma compatriota —morta em 1988— e teve seus três filhos. Tomislav Correia-Deur, 42, presidente da Croatia Sacra Paulista, é um dos frutos deste relacionamento. Sime conta também que tem uma filha que vive em seu país de origem.

Sime é torcedor do Santos, mas diz que isso não fora motivado por Pelé. Ele brinca ao dizer que a escolha do time se deu pelo fato de ele ter vivido em um pequeno vilarejo na Croácia, que tirava sua subsistência da pesca —a equipe paulista é conhecida como peixe e tem uma baleia como mascote.

No auge de seus 80 anos e com uma ótima memória, como o próprio afirma, lembra-se com saudosismo do segundo título mundial da seleção brasileira, em 1962, quando acompanhou o jogo pelos alto-falantes instalados na Praça da Sé. 

Ele lamentou o fato de o Brasil não ter chegado à final da Copa. "Infelizmente não deu. Mas quem ganhasse estaria de bom tamanho, já que tenho filhos e netos brasileiros. Uma pena, não ter acontecido essa final".

Apesar da derrota, a festa seguiu no clube. O orgulho pelo esforço dos jogadores croatas durante toda competição foi o sentimento que prevaleceu neste domingo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.