Descrição de chapéu Copa do Mundo Falando Russo

Falando russo: árvore típica já virou contratos, diário e até refrigerante

Bétula, inexistente no Brasil, chama a atenção pela beleza de sua casca

Vários troncos finos estão lado a lado. À frente, galhos mais baixos aparecem com folhas que aparentam estar secas
Bétulas na região de Omsk, na Rússia - Dmitry Feoktistov/TASS via Getty Images
Lucas Simone

Berióza significa, em tradução literal, bétula. Inexistente no Brasil, trata-se de uma árvore típica do hemisfério Norte, presente em quase toda a Europa, mas também na Ásia e na América do Norte. Embora não se destaque pela altura elevada ou imponência, a bétula chama atenção pela beleza de sua casca: branca ou, ao refletir a luz, prateada.

A berióza tem lugar de honra na cultura de diversos povos europeus, sobretudo para os russos, que a consideram sua árvore nacional. Ela atinge o esplendor entre os meses de março e abril, marcando o fim do inverno e a aproximação do verão. No antigo paganismo eslavo, era vista como símbolo de morte e renascimento. No âmbito das artes, a bétula foi representada por diversos pintores e decantada por bardos e poetas: Serguei Iessiénin dedicou a ela um belo e famoso poema.

No século 20, a berióza ganhou um novo significado para a cultura russa: escavações arqueológicas conduzidas em Novgorod descobriram centenas de documentos escritos em cascas de bétula, datados do século 11 ao 15. São cartas de amor, recados familiares, acordos comerciais, cobranças de dívidas. Encontrou-se até o caderno de um menino de seis anos, que em meados do século 13 aprendia o alfabeto cirílico. A bétula desempenhava um papel central na vida cotidiana daquela sociedade inesperadamente letrada.

O período soviético popularizou um outro uso para a árvore. A seiva da bétula foi transformada em suco, tomado fresco ou fermentado, como refrigerante.

Nos dias finais da União Soviética, nas depenadas prateleiras dos mercados, apenas um produto persistia: o suco de bétula. Um improvável símbolo da resiliência da Rússia mais profunda.

Lucas Simone

Doutorando em literatura e cultura russa na USP e tradutor

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.