Os amantes da literatura russa sem dúvida já se depararam, em algum momento, com a palavra bogatyr, quase sempre acompanhada por uma nota de rodapé aparentemente inoportuna.
Podemos, nesse caso específico, escusar os tradutores pela intromissão, já que não existe um correlato preciso para o termo em nossa língua.
Trata-se de uma figura do folclore russo, um tipo de herói mitológico que protagoniza narrativas orais de caráter épico, chamadas bilinas. O bogatyr em geral não possui poderes mágicos: ele luta apenas com sua força e sua bravura.
Os dicionários etimológicos da língua russa apontam para uma origem turcomana do termo; ou seja, a palavra bogatyr chegou às florestas e estepes russas juntamente com os cavalos das tribos nômades que, oriundas da Ásia, flagelaram a Rússia durante séculos.
Aliás, não se pode descartar a amargura pelo jugo mongol como um dos fatores decisivos para o surgimento do bogatyr, já que a inspiração para boa parte desses heróis veio de figuras militares vitoriosas do passado pré-mongólico, como o príncipe Vladímir, Iliá Múromets ou Dobrínia Nikítitch —famoso por matar o temível dragão Gorínitch.
Todos esses heróis foram amplamente retratados na pintura russa, por artistas como Mikhail Vrúbel e Viktor Vasnetsov. Aparecem também na poesia e no cinema, além de inúmeros seriados infantis e desenhos animados inspirados na figura do bogatyr.
Ademais, o termo adentrou o cotidiano da língua russa no sentido mais trivial de homem forte, atlético e intrépido. O futebolista, de certa forma, pode ser visto como um tipo de bogatyr. Na Copa, nos gramados russos, novos heróis do esporte nascerão, talvez dignos da alcunha.
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