Termo cunhado em meados de 1940 pelo poeta Nikolai Glazkóv, samizdat seria algo como autopublicação (sam, “mesmo”; izdat, abreviação de izdátelstvo, “editora”), uma ironia com acrônimos como gossizdat (gos, degossudárstvennoie, “estatal”).
Samizdat não tratava apenas de edições clandestinas, que circulavam desde o czarismo, mas de um movimento da contracultura soviética, proliferado nos anos 1960, que, além de fugir da censura e do controle do Estado, criou um gênero particular.
A popularização de máquinas de escrever foi um estímulo para esses intelectuais, assim como de gravadores, tanto que surgiu o termo magnitizdat (de magnitofon, “gravador”). Canções de Bulat Okudjava e Vladimir Vyssótski, dois ícones soviéticos, eram divulgadas em álbuns caseiros.
Outro símbolo da cultura samizdat foi o jornalista Aleksandr Ginzburg. Repetindo o destino do pai, arquiteto enviado a um campo de prisioneiros em 1936, Aleksandr foi preso três vezes. A primeira em 1960, por divulgar literatura antissoviética, fato relacionado com seu almanaque poético Sintaxe (1959-60), em que Joseph Brodsky foi primeiramente publicado. Quatro anos depois, o próprio Brodsky foi preso por “parasitismo social” e exilado, em Arkhánguelsk, para cumprir cinco anos de trabalhos forçados.
Sob protestos de Anna Akhmátova, Dmítri Chostakóvitch e Jean-Paul Sartre, saiu 18 meses depois. A escritora Frida Vígdorova registrou, num bloquinho, o processo que se espalhou em cópias datilografadas, tornando-se emblema da geração samizdat. “Por que você não trabalha nos intervalos?”, perguntou o juiz. “Eu trabalho. Escrevo poemas”, respondeu Brodsky. “Mas isso o impede de ter um trabalho?”
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