Descrição de chapéu Falando Russo Copa do Mundo

Falando russo: movimento tentava fugir do controle do Estado soviético

Jornalista símbolo da contracultura na URSS foi preso três vezes

Daniela Mountian

Termo cunhado em meados de 1940 pelo poeta Nikolai Glazkóv, samizdat seria algo como autopublicação (sam, “mesmo”; izdat, abreviação de izdátelstvo, “editora”), uma ironia com acrônimos como gossizdat (gos, degossudárstvennoie, “estatal”).

Samizdat não tratava apenas de edições clandestinas, que circulavam desde o czarismo, mas de um movimento da contracultura soviética, proliferado nos anos 1960, que, além de fugir da censura e do controle do Estado, criou um gênero particular.

A popularização de máquinas de escrever foi um estímulo para esses intelectuais, assim como de gravadores, tanto que surgiu o termo magnitizdat (de magnitofon, “gravador”). Canções de Bulat Okudjava e Vladimir Vyssótski, dois ícones soviéticos, eram divulgadas em álbuns caseiros.

Outro símbolo da cultura samizdat foi o jornalista Aleksandr Ginzburg. Repetindo o destino do pai, arquiteto enviado a um campo de prisioneiros em 1936, Aleksandr foi preso três vezes. A primeira em 1960, por divulgar literatura antissoviética, fato relacionado com seu almanaque poético Sintaxe (1959-60), em que Joseph Brodsky foi primeiramente publicado. Quatro anos depois, o próprio Brodsky foi preso por “parasitismo social” e exilado, em Arkhánguelsk, para cumprir cinco anos de trabalhos forçados.

Sob protestos de Anna Akhmátova, Dmítri Chostakóvitch e Jean-Paul Sartre, saiu 18 meses depois. A escritora Frida Vígdorova registrou, num bloquinho, o processo que se espalhou em cópias datilografadas, tornando-se emblema da geração samizdat. “Por que você não trabalha nos intervalos?”, perguntou o juiz. “Eu trabalho. Escrevo poemas”, respondeu Brodsky. “Mas isso o impede de ter um trabalho?”
 

Daniela Mountian

Doutora em literatura russa pela USP, tradutora e editora.

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