No debate político contemporâneo, é comum ouvirmos, de quando em quando, o termo populismo —geralmente com conotações negativas.
A língua russa possui um termo semelhante, naródnitchestvo, derivado do substantivo “narod”, povo. Embora a palavra seja frequentemente traduzida como populismo, ela possui significado diverso. Para entender o contexto de seu surgimento, precisamos voltar à década de 1860.
À época, sob Alexandre 2º, a Rússia passava por uma série de reformas. A servidão foi abolida, a censura foi relativamente afrouxada e o cenário político ganhou nova efervescência. Entre as correntes surgidas no período, uma das mais importantes foi a dos naródniki, os “populistas”, que preconizavam uma “ida ao povo”, um retorno da intelligentsia urbana a suas origens camponesas. Não à toa, muitos dos integrantes eram intelectuais de origem humilde, os chamados raznotchíntsy, cujas principais influências eram Alexander Herzen (1812-1870) e Nikolai Tchernychévski (1828-1889).
As ideias do movimento chamaram a atenção das autoridades, o que fez a repressão política lentamente recrudescer. Como resposta, ao fim da década de 1870, algumas organizações ligadas ao naródnitchestvo radicalizaram suas posições e adotaram estratégias abertamente terroristas. Essa mudança de posição culminou no atentado que levou à morte o tsar Alexandre 2º, em 1881.
Os naródniki são considerados antecessores dos socialistas revolucionários de 1917. Ecos de algumas de suas ideias podem ser ouvidos ao longo do período soviético, embora a Rússia contemporânea talvez esteja mais próxima do nosso conceito de populismo que do antigo naródnitchestvo.
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