Descrição de chapéu Copa do Mundo

Guru do esporte é aposta do México para romper trauma dos mata-matas

Nas últimas seis Copas, rival do Brasil foi eliminado sempre nas oitavas de final

Fábio Aleixo
Moscou

O rival do Brasil nesta segunda (2) vive carma que o persegue em momentos decisivos. Basta olhar o desempenho do México nos últimos seis Mundiais, quando foi eliminado nas oitavas de final.

Com frases, e futebol, claro, a equipe mexicana tentará derrubar essa barreira quase intransponível que alimenta o chavão definitivo sobre o futebol do país: “Jogamos como nunca e perdemos como sempre”, repetem, após cada uma dessas quedas em Copas.

Criar um antídoto para isso é o trabalho do espanhol Imanol Ibarrondo, 51, um coach que integra a comissão técnica da seleção desde 2016.

Retrato de Imanol Ibarrondo; veste casaco preto, tem barba branca bem feita; usa boné preto.
Coach da equipe mexicana, Imanol Ibarrondo, em entrevista no centro de treiamento de Novogorsk, Moscou - Yuri Cortez/AFP

Ele chegou ao time a pedido do treinador colombiano Juan Carlos Osorio, após uma das derrotas mais vexatórias da seleção, os 7 a 0 para o Chile na Copa América Centenário.

O técnico foi muito criticado pela imprensa mexicana por incorporá-lo ao estafe, mas respondeu com exemplo difícil de contestar. “Os EUA são uma das potências esportivas do planeta, e todos os seus atletas recebem ajuda psicológica.”

Desde sua incorporação, ganhou confiança e se tornou querido pelos atletas por causa da relação no dia a dia e pelo seu modo de trabalho.

“O que queremos é fazer tudo o que for possível para que então o universo conspire em nosso favor”, afirmou o atacante Javier Hernández, conhecido como Chicharito, à ESPN, citando uma das frases usadas pelo coach.

“Temos maturidade mental e emocional para controlar a ansiedade agora”, disse o defensor Miguel Layún após o triunfo sobre a Alemanha, na estreia no Mundial.

“Depois de uma grande vitória sempre nos custava manter bom nível, e conseguimos isso contra a Coreia do Sul”, afirmou o atacante Carlos Vela.

Ibarrondo foi jogador profissional em seu país natal e se aposentou em 1990, após passagens por Rayo Vallecano e Athletic Bilbao. A partir daí, se reinventou como uma espécie de guru da área esportiva, mesmo sem ter formação como psicólogo. Tem licenciatura em ciências empresariais e especialização de gestão de entidades esportivas.

Em 2006, inaugurou um instituto de coaching chamado Incoade e, desde então, tem desenvolvido uma série de trabalhos na área, sendo o mais notável o realizado no Comitê Olímpico Espanhol. Em 2016, Ibarrondo fez parte da delegação nos Jogos do Rio.

No site de instituto, o trabalho é descrito como uma ferramenta para aqueles “interessados em liderar, crescer e ser melhores do que estão sendo”. Prega “aumento da consciência e responsabilidade” para que atletas se “tornem protagonistas do desenvolvimento do próprio talento”.

O método de ajuda se baseia em sete pilares, chamados de “7P” do trabalho em equipe, como “superação de medos e limitações que só existem na sua cabeça”, “estar presente e conectado para escutar e compreender” e “desenvolvimento da inteligência emocional para transformar estados de ânimo”.

Algumas de suas lições e conselhos estão no livro que escreveu intitulado “A Primeira Vez Que Chutei com a Perna Esquerda”. Ele dá dicas motivacionais a partir de sua experiência como atleta.

“Cheguei à conclusão de que, quando não desfrutava dos jogos, era porque tinha medo de falhar, de tomar as decisões erradas e não cumprir com suas expectativas”, escreveu.

Com Ibarrondo na comissão, o México conseguiu um feito histórico nas eliminatórias. Venceu os Estados Unidos por 2 a 1 fora de casa, o que não conseguia havia 44 anos.

A Federação Mexicana de Futebol informou que o coach não dará entrevistas durante a Copa do Mundo.

O pouco contato com seu trabalho se dá por meio de redes sociais, no qual diariamente coloca um punhado de frases para reflexão.

“As equipes emocionalmente inteligentes se repõem rapidamente de uma derrota. As que não são jamais se recuperam de um êxito”, escreveu, após a derrota de 3 a 0 do México para a Suécia, que quase custou a eliminação do Mundial, o que só não aconteceu porque a Coreia do Sul venceu a Alemanha por 2 a 0.

Também analisou o VAR (árbitro de vídeo) de uma forma diferente. “Sou muito a favor do VAR, mas não do que dizem, que melhora o futebol (o que não faz), mas sim do que potencializa a liderança. V de valorizar, A de agradecer e R de reconhecer. São atitudes para gerar confiança e relações de alta qualidade como base para criar equipes de alto rendimento.”

Se o México não passar pelo Brasil, o jogo desta segunda será seu último com a a seleção. Ele já acertou contrato para ser coach no Real Sociedad (ESP) após a Copa.

 
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