"Por mais que o clube cresça, jamais vai precisar de tanto terreno", protestou Manuel Rodrigues na assembleia em que se discutiu a compra do Parque São Jorge pelo Corinthians, no dia 5 de julho de 1926.
Ele foi um dos quatro associados que votaram contra a ideia do presidente Ernesto Cassano e fez questão de que sua objeção fosse registrada na ata da reunião.
O espaço foi adquirido, e o campo onde passaria a atuar o time alvinegro foi reformado. Há 90 anos, em 22 de julho de 1928, o Corinthians jogava sua primeira partida como dono da casa na Fazendinha, assim chamada porque lá houvera uma pequena fazenda.
O ponta-esquerda De Maria, ansioso, marcou aos 29 segundos o gol que sobrevive como o mais rápido do estádio.
Mais importante do que o lance ou o empate por 2 a 2 com o America-RJ foi o marco na história do clube, que certamente não seria o que é hoje não fosse a iniciativa ousada de ganhar corpo no Tatuapé, então periférico na São Paulo da década de 1920.
"Foi uma escolha de mudança de vida", resume o pesquisador Celso Unzelte. "O Corinthians nasceu como clube de bairro, com mesa de bilhar, não tinha um grande terreno. A ida ao Parque São Jorge foi fundamental para o crescimento."
Não foi barato. Os 750 contos de réis, aos quais seriam acrescidos juros no parcelamento, eram um investimento alto, que acabou dando frutos.
Um deles foi o padroeiro. Como o terreno ficava no subdistrito do Parque São Jorge, foi fácil a identificação com o santo guerreiro, adjetivo que já acompanhava o clube. Também foram incorporados a âncora e os remos do símbolo, já que o navegável rio Tietê de outrora permitiu o desenvolvimento de esportes náuticos.
O terreno, "grande demais" para o preocupado associado de 1926, ficou pequeno. A sede ainda foi ampliada duas vezes até chegar a cerca de 160 mil quadrados, e nem esse espaço se tornou suficiente.
Hoje, porém, é difícil manter a sede, totalmente dissociada do futebol profissional.
O balancete de 2017 registrou um deficit de R$ 35,1 milhões com o "clube social". O número de associados, que já ficou na casa dos 100 mil, hoje é de pouco mais de 16 mil.
Para amenizar o problema, o presidente Andrés Sanchez prometeu, em sua campanha, "decretar a independência da gestão da sede", elegendo um superintendente entre os sócios. Isso não foi feito.
"Teria que mudar o estatuto", justificou o dirigente, eleito em fevereiro, dizendo ter "vários projetos" para o Parque "no futuro". Ele não quis adiantar nenhum.
A sala em que o cartola atua é um dos símbolos do escoamento do dinheiro da sede. Fica em um moderno prédio apelidado de "palácio de mármore". Foi construído na gestão Alberto Dualib --da qual Andrés fez parte--, derrubado do poder na década passada, após sucessivos escândalos de corrupção.
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