Descrição de chapéu Copa do Mundo

Imprensa credenciada para a Copa da Rússia tem somente 14% de mulheres

No Mundial anterior, no Brasil, em 2014, 10% da imprensa era do sexo feminino

Camila Mattoso Diego Garcia Sérgio Rangel
Kazan

Do total de jornalistas credenciados para a cobertura da Copa, apenas 14% são mulheres. Ainda pequena, a participação do sexo feminino em veículos de imprensa na edição de 2018 é maior do que na de 2014. No Brasil, o montante foi de 10%.

Segundo a Fifa, 16 mil profissionais se credenciaram para cobrir partidas na Rússia.

Fora dos gramados, o machismo virou um dos principais temas do Mundial.

Num dos primeiros dias do evento, uma russa foi insultada por brasileiros em vídeo. Eles cantavam músicas com teor sexual, em português, e ela repetia, sem saber o que as expressões significavam.

Outros casos envolveram repórteres. Julia Guimarães, do canal SporTV, por exemplo, se preparava para uma participação ao vivo, em Iekaterinburgo, quando um garoto tentou beijá-la de surpresa. A jornalista reagiu: "Nunca mais faça isso. Nunca mais faça isso com uma mulher. Respeito".

Outros episódios foram relatados. A Fifa minimizou os casos noticiados até agora.

Nos estádios, em dias de jogos, as salas de imprensa ficam lotadas de jornalistas, mas poucas mulheres são vistas. No gramado, fotógrafos se aglomeram para as imagens da entrada dos times, na porta do vestiário. A cena é a mesma, com maioria de homens.

A fotógrafa mexicana Alejandra Suarez, 29, é novata na Copa. Desde 2012 trabalha com futebol no seu país. Ela lamenta o baixo número de mulheres clicando os jogadores na Rússia. "Ainda somos poucas, mas acho que vamos crescer a cada novo evento", disse a mexicana, que trabalha na agência Imago 7.

Ela é a única mulher na equipe de cinco profissionais.

Alejandra disse que, na Copa, não sofreu preconceito.

"Todos me tratam bem. Eu sou tratada como mais uma profissional", afirmou.

No terceiro Mundial de sua carreira, a ganesa Senyuiedzorm Awusi Adadevoh, 39, acredita que os números de credenciados pela Fifa refletem uma realidade do mercado de trabalho. "Isso não é culpa da Copa do Mundo. Veja quantas mulheres trabalham com jornalismo?", questionou a fotógrafa, que começou a carreira em 1999.

Desde 2005, ela frequenta estádios clicando atletas. Senyuiedzorm foi fotógrafa da seleção de Gana. Agora, é dona da agência "Images Image".

"Sou apaixonada por fotografia de esportes. E faço tudo para estar aqui", disse.

Além de serem poucas, as duas fotógrafas apontam o peso do material de trabalho como uma das dificuldades encontradas pelas mulheres para encarar a puxada rotina dos eventos esportivos --os homens também reclamam.

Para chegar à isolada Arena de Samara, a africana empurrava uma mala lotada de máquinas, computadores e lentes. O material pesava 20 kg. Já a mexicana levava 13 kg. "Já ouvi preconceito em campo de futebol, mas não me abato. Também ouço muito preconceito em outros lugares pelo fato de ser mulher. Isso não vai me parar."

Na sua empresa, Senyuiedzorm comanda uma equipe de sete fotógrafos. Todos homens. "Quero ter os melhores comigo. Por enquanto, eles fazem um bom trabalho. Mas espero que apareçam mais mulheres", disse a fotógrafa.

Sobre a cobertura, a entidade máxima do futebol disse não fazer qualquer tipo de distinção ao receber pedidos de credenciamento dos veículos de imprensa. A Fifa ainda informou que 13 dos 26 responsáveis pelas operações de imprensa dos estádios são mulheres, que 43% da delegação total da entidade no Mundial é do sexo feminino, bem como 64% dos voluntários.

No caso da seleção brasileira, pela primeira vez na história mulheres fizeram parte da delegação em uma Copa.

Entre os 41 enviados da CBF para a Rússia, 2 eram mulheres. O Brasil é o único país que participou de todas as edições do Mundial, desde 1930.

Elas são Andréia Picanço, médica assistente, e Cláudia Faria, assistente administrativa. Não há registros de mulheres em edições anteriores.

Andréia Picanço, 35, chegou à seleção em 2012 por indicação de José Luiz Runco, médico da seleção em quatro Copas (2002, 2006, 2010 e 2014) e do Flamengo. Formada em medicina do esporte e em nutrologia, foi responsável pela alimentação da delegação na Rússia.

Além disso, durante as partidas, ficava na arquibancada ao lado de outros integrantes da comissão técnica com um fone e microfone, em comunicação com o banco.

"A relação é de muito respeito. O que acho é que o trabalho tem de ser bem feito", disse.

Já Cláudia se recusa a dizer a idade, mas só de carteira assinada na CBF tem 40 anos. Seu marido, Américo Faria, foi coordenador de seleção durante décadas, nos anos 1990.

Em conversa com a Folha, ela conta que ficou emocionada quando soube que a passagem para a Rússia tinha sido de fato emitida. "Uma barreira que foi quebrada. Acho que vai mudar muito daqui para frente", afirma a assistente.

Cláudia diz que ficou responsável pela parte "burocrática" da viagem, cuidando também dos voos dos familiares para os jogos e "outras coisas dos jogadores".

"Não deixa de ser importante ter um toque feminino, um pouco mais carinhosa. A gente tem todo o cuidado com nossas famílias", completou.

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