Descrição de chapéu The New York Times

LeBron no Lakers faz fãs de Kobe Bryant conviverem com inimigo mais odiado

Em Los Angeles, torcedores ainda encaram com desconfiança chegada do astro da NBA

Scott Cacciola
Las Vegas | The New York Times

O Los Angeles Lakers recentemente contratou um jogador de primeira linha, mas muitos dos torcedores mais fervorosos do time que estão em Las Vegas para assistir às partidas da Liga de Verão da NBA (torneio de pré-temporada) preferiram prestar homenagem ao passado.

Usam camisas com os números 8 e 24, que pertenceram a Kobe Bryant em sua longa e produtiva carreira com o Lakers, e cujos números foram aposentados pelo time em homenagem a ele, depois de sua aposentadoria.

Sheldon é vendedor, e estava usando uma camisa 24 de Bryant para assistir a uma partida de pré-temporada do Lakers, algumas noites atrás. Falar sobre Bryant o deixou um tanto emotivo, e ele se referiu à "mentalidade mamba" como se fosse um princípio existencial.

"O melhor", ele disse.

Quanto à recente grande contratação do clube? Sheldon deixou claro que seus sentimentos com relação a James eram mas complicados.

Estabeleceu uma distinção clara entre o James que jogou pela Cleveland Cavaliers e o Miami Heat  —"ele era um bebê chorão", disse Sheldon —e o James que assinou recentemente com o Lakers.

"Se ele marcar pontos com o uniforme do Lakers, para mim estará bom", disse o torcedor. "E ele vai marcar muitos pontos com o uniforme do Lakers".

Mas acrescentou: "Não quer dizer que eu gostaria de ser seu amigo".

Outros torcedores radicais de Bryant, que usavam sua camisa, não pareciam tão dispostos a esquecer o passado de James.

Jeremy Gonzalez, 20, estudante em Long Beach, Califórnia, disparou uma lista de críticas, entre as quais a de que James é preguiçoso na defesa (ele fez parte por seis vezes da lista de melhores defensores da NBA).

"Eu também não gostava de sua hesitação para arremessar", disse Gonzalez. "E agora que ele arremessa bastante, continuo a não gostar de sua falta de jogo de garrafão".

Mesmo assim, a reação de Gonzalez ao receber pelo celular a notícia de que James havia sido contratado foi clara."Oh", ele disse, "fiquei entusiasmado".

Duas torcedoras que claramente não se entusiasmaram com a contratação foram Janessa Yumul, 28, e Jessica Dawana, 29, amigas do sul da Califórnia que usavam camisas combinadas de Bryant para assistir a uma partida da liga de verão —amarela para Yumul, branca para Dawana.

"Lakers a vida toda!", disse Dawana, que trabalha em tecnologia de recursos humanos.

"Jamais gostei dele", disse Yumul, técnica de ultrassom que hoje vive em Las Vegas, "Sempre achei que ele tinha um jeito arrogante".

"E dramático", disse Dawana.

Para ilustrar o que entende como a diferença entre os dois jogadores, Dawana recordou a ocasião em que Bryant converteu dois lances livres depois de romper o tendão de Aquiles.

​"Quem faz isso?", ela disse. "Já no caso de LeBron, é mais aiiiii!" E Dawana se jo

gou para trás, como se sugerindo que James despenca se for atingido pela brisa, ou que costuma sofrer desmaios em quadra.

Dawana disse que estava preocupada com a possibilidade de que a contratação de James prejudicasse o desenvolvimento de "um time em ascensão", que fechou a temporada passada com 35 vitórias e 47 derrotas.

Mas ela afirmou que se esforçaria para ingressar nessa nova era —que levou o maior jogador do planeta ao seu time de mente aberta. Afinal, Bryant abençoou a contratação, no Twitter.

"Mas não estou empolgada", disse.

Mychal Thompson, que foi ala do Lakers da era "showtime", nos anos 1980, e ganhou dois títulos com o time, disse compreender por que tantos torcedores continuam a encarar Bryant com tamanho respeito.

"Oh, essa é fácil, cara: a paixão dele, sua competitividade, sua vontade de vencer", disse Thompson em entrevista por telefone. "Ele entregava tudo que tinha aos torcedores. Kobe não descansava, estava lá toda noite. E se você perguntasse se ele não gostaria de uma folga, ele olhava para você como se você tivesse enlouquecido".

Thompson não entende tão bem a hostilidade a LeBron, da parte de pelo menos algumas seções da torcida do Lakers. Para ele, esses torcedores parecem ter medo de que James venha a suplantar Bryant na lista dos maiores jogadores da história do clube —presumindo, é claro, que isso já não tenha acontecido.

Treinador do Cleveland Cavaliers,  Tyronn Lue, conversa com LeBron James durante os jogos de verão da NBA
Treinador do Cleveland Cavaliers, Tyronn Lue, conversa com LeBron James durante os jogos de verão da NBA - Ethan Miller/AFP

Muitos torcedores parecem querer preservar ao máximo o legado de Bryant. Glenn Gagan, 25, que viajou de sua casa em Winnipeg, no Canadá, para assistir aos jogos da liga de verão, disse que não gostava de James —até o minuto em que ele assinou com o Lakers, e aí tudo mudou.

Gagan disse ter esperado cinco horas na fila de um shopping center para comprar uma camisa de James no púrpura e ouro do Lakers.

"Estou empolgado", ele disse. "Os torcedores do Lakers estavam esperando por isso há muito tempo".

Talvez estivessem esperando, mesmo, mas a chegada foi complicada, para os fãs de Kobe que não estão dispostos a abrir mão do passado. Gagan não está entre eles.

Ele usou orgulhosamente sua nova camisa de James, para assistir aos jogos da liga de verão, e não sentiu a necessidade de usar a camisa 24 de Bryant embaixo do uniforme novo, ou de tê-las nas mãos.

Mas a manteve por perto mesmo assim: deu a camisa de presente à namorada. 

​Tradução de PAULO MIGLIACCI

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