Descrição de chapéu
Copa do Mundo

Mesas-redondas têm até plateia e vão de tom ameno a 'guerra'

No Brasil, programas do SporTV e da Fox Sports divergem na temperatura

Sandro Macedo
São Paulo

O fim está próximo. A Copa do Mundo termina neste domingo (15). Isso significa que teremos na TV pouco mais de 3 horas de bola rolando e outras milhares de uma nobre arte esportiva, as mesas-redondas de debate sobre futebol.

São aqueles programas que se encaixam na categoria "prazer culposo", quase ninguém admite, mas muitos assistem.

Petkovic, Muricy, Cuca, Marcelo Barreto e André Rizek no Seleção SporTV
Petkovic, Muricy, Cuca, Marcelo Barreto e André Rizek no Seleção SporTV - Reprodução

Porém não é tarefa das mais fáceis manter o interesse por tanto tempo no Mundial, ainda mais com o Brasil fora.

Quantas vezes é possível discutir se Mbappé é melhor do que Neymar? Se a Croácia é o time da virada ou o time do amor? Se Neymar ganha muito meme porque é mimado ou se é mimado porque fazem muito meme? Aparentemente, muitas.

Canais que mais investiram no Mundial aqui no Brasil, SporTV e Fox apresentam perfis diferentes, apesar de ambas se apoiarem no tripé apresentador-técnicos-ex-jogadores para formar a mesa.

Principal programa do SporTV, o Seleção SporTV tem apresentação conjunta de Marcelo Barreto e André Rizek, além da presença fixa do ex-jogador Petkovic, que faz o papel de cricri da bancada. O tom do programa é sempre ameno, nada de discussões muito acaloradas.

Gabriel Jesus ilustra à perfeição a mesa suíça do canal (apesar de Pet ser sérvio). Ao debaterem a insistência de Tite ao manter um atacante que não faz gol, Cuca encerrou o assunto com uma explicação digna do Cartoon Network.

"Se você pegar um aquário, você vai ter aquele peixe, o 'limpa vidro', para ele deixar a águinha sempre limpa e o vidro transparente para brilhar algum outro peixe: o amarelinho, o azul... Gabriel Jesus faz isso", disse o técnico, que trabalhou com ele no Palmeiras.

Já a Fox Sports está mais para Guerra dos Bálcãs do que para Suíça. Em vários programas de debate impera a lei do "tem razão quem fala mais alto", para desespero do sempre competente e analítico PVC, também colunista da Folha.

Não se pode negar que o canal investiu pesado e estava cheio de boas intenções.

Se SporTV e ESPN inserem mulheres nos debates esportivos, a Fox foi além e criou um debate só com mulheres, o Comenta Quem Sabe, capitaneado por Vanessa Riche.

O resultado é satisfatório, porém, insosso. Uma mescla com os homens talvez funcionasse mais a contento.

Também da Fox veio uma escalação mais surpreendente do que a teimosia de Tite.

Jô Soares participou (não no estúdio) do Debate Final - Especialistas, mesa com vários técnicos, com destaque para o ponderado Abel Braga (que toca piano e fala francês) e o irritante Vanderlei Luxemburgo (que faz churrasco e não acerta nome de jogador). A Jô, restam participações opinativas, mas com pouca sinergia com a mesa.

Para quem gosta de análises, críticas, notícias, críticas, opiniões, críticas, as melhores discussões estão no Linha de Passe, da ESPN, com o narrador/apresentador Paulo Andrade à frente. Com pouca variação entre os participantes da mesa, formada majoritariamente por jornalistas esportivos, um dos destaques são os comentários agressivo-agressivo de Mauro Cezar. Se fosse um smurf, seria o Zangado.

Pena o canal não ter direitos de transmissão, o que torna a missão de discutir a Copa muito mais inglória, como demonstra o constrangedor Tempo Real, programa exibido ao vivo durante os jogos.

Uma mesa com garrafas térmicas e pães tenta dar um ar pretensamente descontraído enquanto os mesários comentam lances do jogo olhando em uma tela (que não vemos) e comendo pão de queijo. Seria mais emocionante se reprisassem um torneio de golfe.

Na chave do humor, o Falha de Cobertura (TV UOL), com o Craque Daniel e Professor Cerginho, explica fenômenos como "o sempre decisivo Mick Jagger" ou o problema de pele do goleiro Alisson.

​E não pense que as horas a fio debatendo um pênalti (que o VAR resolveu instantaneamente) se limitam ao Brasil.

Na Inglaterra, o principal comentarista da ITV é o ex-meio-campo irlandês (e marrento) Roy Keane. Seu constante mal humor é um prato cheio para a internet.

Em um dos programas, internautas acharam que o croata Slaven Bilic (também comentarista) corria risco de morte após tocar o ombro de Keane no meio de uma reação mais espalhafatosa. A cara feia de Keane persistiu durante todo o programa.

No país da finalista França, o TF1 exibe uma mesa entre o brega e o chique. No palco, um telão e convidados de peso. Quase sempre um campeão da Copa de 1998 ou um jogador da geração dos anos 1980. Até o técnico desempregado Arsène Wenger distribui pitacos. Para completar, tem plateia (PRA QUÊ TEM PLATEIA???), o que deixa tudo meio à italiana.

Após Mbappé destruir a Argentina nas oitavas (melhor atuação individual da Copa), monsieur Wenger disse que o atacante tem potencial até para se igualar a Pelé... para em seguida cornetar que o jogador do PSG "precisa aprimorar a técnica na hora do último passe" –nada de peixinho no aquário para eles.

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