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Troca de camisa reacende discussão sobre igualdade de gênero no tênis

Caso envolvendo a francesa Alizé Cornet desperta revolta entre atletas

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A tenista francesa Alize Cornet
A tenista francesa Alize Cornet devolve bola na partida contra a australiana Ashleigh Barty, pelo Torneio de Quebec - Jean-Yves Ahern - 9.ago.2018/USA TODAY Sports
Ben Rothenberg
Nova York | The New York Times

O Aberto de Tênis dos Estados Unidos completou um grande projeto de reforma de suas instalações, para celebrar o 50º aniversário do torneio, este ano.

Mas agora que as equipes de construção se foram e o torneio está em curso, ficou claro que o torneio ainda tem muito trabalho a fazer, para além de sua estrutura física.

O torneio, que em 1973 se tornou o primeiro dos Grand Slams a oferecer premiação igual para os homens e as mulheres, costuma ser ágil em reparar qualquer dano à sua orgulhosa fundação de igualdade entre os sexos.

Primeiro, o torneio criou uma pausa de 10 minutos nas partidas de simples masculinas, disputadas em regime de melhor de cinco sets.

A pausa nas partidas masculinas acontece depois do terceiro set. As partidas de simples femininas há anos oferecem uma pausa de 10 minutos ao final do segundo set, por conta do calor extremo.

Uma segunda mudança de regra foi deflagrada por um único incidente, que durou apenas alguns segundos.

A regra para as mulheres, que se aplica a torneios de Grand Slam especificamente, e não a eventos do tour, era desconhecida para grande número de tenistas, muitas das quais treinam usando sutiãs esportivos em lugar de camisas, quanto calor é muito forte.

Pela manhã da quarta-feira, depois de protestos na mídia social, a USTA divulgou uma nova declaração quanto a trocas de roupa em quadra.

"Todos os jogadores podem trocar de camisa, quando estiverem sentados em seu banco", afirmou a USTA.

"Isso não é considerado violação de regras. Lamentamos que Cornet tenha sido advertida por uma violação de regra ontem. Esclarecemos a regra para garantir que isso não volte a acontecer no futuro. Felizmente, ela recebeu apenas uma advertência, sem outra penalidade ou multa".

As tenistas também podem trocar de camisa em um local mais privativo, perto da quadra, se assim preferirem, a USTA acrescentou.

A WTA Tour, organização do tênis feminino, expressou alívio pelo ajuste, afirmando que a regra anterior era "injusta" e que não enquadrava às suas regras.

"Estamos satisfeitos por a USTA ter mudado sua regra", afirmou a WTA. "Alizé nada fez de errado".

A inversão da camisa e a inversão da regra se tornaram o assunto do torneio na quarta-feira.

"Isso nunca deveria acontecer", disse Victoria Azarenka, depois de sua vitória na segunda rodada do torneio. "Se eu expressasse meus sentimentos verdadeiros, o áudio seria censurado, porque acho que o que aconteceu foi ridículo".

Depois de sua partida de duplas na quarta-feira, Cornet tinha tantos pedidos de entrevistas que foi colocada na sala de imprensa grande do torneio.

Cornet disse apreciar que a USTA tivesse corrigido seu curso, mas se admirou diante do burburinho que a situação causou.

"Quando acordei hoje cedo, não imaginei que a advertência tinha se tornado tão famosa em menos de 24 horas, e estou bem surpresa com isso, na verdade", ela disse. "Porque, em quadra, parecia ter sido só um erro do árbitro e nada mais".

Cornet só percebeu que a camisa estava ao contrário quando seu namorado, que estava sentado à beira da quadra, a avisou.

"Eu não teria como jogar o terceiro set todo daquele jeito", ela disse, apontando para o queixo, que é onde o colarinho da camisa estava, segundo ela.

A percepção de que as autoridades do tênis estavam regulando as roupas e os corpos das mulheres dominou os dias iniciais do Aberto dos Estados Unidos.

Antes do início do torneio, Bernard Giudicelli, presidente da Federação Francesa de Tênis, disse que queria proibir trajes como o macacão colante usado por Serena Williams no Aberto da França deste ano.

Serena Williams usando o traje "Pantera Negra"
A americana Serena Williams faz uma devolução na partida contra a tcheca Kristyna Pliskova, no torneio de Roland Garros, quando usou o traje apelidado de "Pantera Negra", vetado agora por Bernard Giudicelli, presidente da Federação Francesa de Tênis - CHRISTOPHE SIMON - 29.mai.2018/AFP

​Cornet, que é francesa, disse que Giudicelli "vive em outra época".

Ela acrescentou que "aquilo que Bernard Giudicelli disse sobre o macacão de Serena foi 10 mil vezes pior do que o que me aconteceu em quadra ontem. Porque ele é o presidente da federação francesa, e porque ele não precisava fazer isso".

Cornet disse que se comoveu com o apoio recebido de jogadoras e ex-jogadoras, entre as quais Tracy Austin, duas vezes ganhadora do Aberto dos Estados Unidos.

"Todas as jogadoras estão me apoiando nisso, e disseram que se eu fosse multada procuraríamos juntas a WTA e faríamos uma revolução, essas algo assim", disse Cornet. "Eu pedi calma, e disse que ia me informar primeiro, e depois veríamos se faremos ou não uma revolução".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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