Aguirre incomoda, modifica rotinas e desempenho do São Paulo

Com técnico uruguaio, clube chega à primeira colocação do Brasileiro

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Aline Fanelli Luiz Cosenzo
São Paulo

Diego Aguirre, 52, chegou ao São Paulo há cinco meses propondo mudanças. Uma delas, imediata, foi na sala destinada à comissão técnica no centro de treinamento do clube na Barra Funda.

No local, havia um sofá e duas poltronas. Assim que entrou no escritório, o treinador uruguaio pediu que o mobiliário fosse retirado.

Se eu sentar nesse sofá, eu durmo, e não quero ninguém acomodado, disse o técnico aos subordinados.

Até então, a sala era usada por diversos profissionais: auxiliares, preparadores, analistas. Até 12 pessoas tinham acesso ao local. Isso mudou.

Agora, apenas o técnico e seus auxiliares Raul Enrique Carreras, Juan Verzeri e André Jardine frequentam a sala, que tem computadores e um quadro tático.

No São Paulo, a imagem é que Aguirre chegou incomodando. Mostrou nas pequenas coisas que rotinas e métodos teriam de ser mudados para o clube entrar nos eixos após anos de insucesso.

A sinceridade, a metodologia de treinos e a obediência tática apresentadas pelo time nos jogos fizeram o técnico virar unanimidade no clube.

O São Paulo defende a liderança do Brasileiro neste domingo (12), quando encara o Sport, pela 18ª rodada. O time soma 35 pontos --um a mais que o Flamengo, vice-líder, que encara o Cruzeiro também neste domingo.

Desde a chegada, Aguirre deixou claro seu estilo de trabalho. Ele exige entrega total e muita intensidade. O que é feito no campo do CT tem de ser aplicado nos jogos. São de três a quatro atividades diferentes durante os treinos, curtas e cronometradas.

O técnico ganhou os jogadores com essa postura e pela relação de honestidade com todos à sua volta.

Antes do São Paulo, o uruguaio trabalhou em duas equipe no Brasil. Teve passagens curtas. No Internacional, em 2015, ficou oito meses. A campanha durou 48 jogos e foi encerrada quando tinha 60,4% de aproveitamento.

À Folha, um funcionário do clube gaúcho elogiou o trabalho do técnico, que não conquistou os cartolas da equipe. Foi demitido na semana anterior a um clássico contra o Grêmio. Tinha vencido o Campeonato Gaúcho e sido eliminado na Libertadores.

Depois, trabalhou no Atlético-MG, em 2016. O treinador não suportou a pressão e deixou o comando após 31 partidas e 59,1% de aproveitamento da equipe.

No São Paulo, Aguirre trouxe dois auxiliares uruguaios, Raul Enrique Carreras e Juan Verzeri. O trabalho do trio segue os modelos do técnico argentino Diego Simeone e o do uruguaio Óscar Tabárez, que se destacam pela organização, força defensiva e obediência tática.

Como monta as equipes de acordo com os adversários, a comissão já leva a campo ideias de possíveis mudanças para fazer no time dependendo do andamento do jogo.

"Essa é uma das coisas que fazemos, com possíveis variáveis em diferentes situações. Inclusive trocas para fazer", afirma Juan Verzeri à Folha.

De poucas falas na beira do campo, Aguirre é mais agitado com os auxiliares do que com o time. Prefere conversas individuais do que grandes broncas aos atletas durante as partidas.

"Uma das qualidades mais importantes que [Aguirre] possui é a tranquilidade. Não somente para resolver problemas e tomar decisões, mas fundamentalmente na inteligência emocional. Ele tem uma comunicação forte com as pessoas", afirma o auxiliar.

Foi na base da conversa, aliás, que convenceu Diego Souza a permanecer no São Paulo após o atacante receber proposta do Vasco da Gama. Também encontrou o posicionamento ideal para Nenê, que não conseguiu render com Dorival Júnior no início do ano.

Os dois são os artilheiros do time com dez gols cada um e cresceram de rendimento desde a chegada de Aguirre na temporada 2018.

"Ele é trabalhador, honesto, consegue entender bem o grupo que tem, é um cara que nos passa total confiança", afirmou Diego Souza.

"Aguirre faz a gente não largar em nenhum momento, não se acomodar e saber lidar com as situações adversas", disse o meia Nenê.

O treinador chegou ao Morumbi com a fama de ser adepto do rodízio. A palavra lhe deixa inquieto, pela falta de compreensão no Brasil.

Não é que ele troque a equipe toda hora. Pelo contrário, há uma base, mas quando vê necessidade, mexe. Seja por desgaste ou pelo adversário. Por exemplo, repetiu a formação apenas uma vez em 26 jogos, nas semifinais do Paulista, contra o Corinthians.

Dorival Júnior, o seu antecessor, repetiu o time de um jogo para o outro em três oportunidades no ano passado e duas nesta temporada.

A intensidade exigida nos treinamentos tem uma justificativa: não deixar o nível cair.

"Todo o trabalho é feito para otimizar o tempo. O princípio é: se demorar, a atenção do jogador vai caindo. A ideia é que o jogador se acostume com intensidade física e mental para resolver as coisas em curto tempo", explicou Verzeri.

A contratação de Aguirre foi uma indicação do compatriota Diego Lugano, superintendente de relações institucionais do São Paulo.

A sugestão teve respaldo do diretor de futebol, Raí, que jogou com o uruguaio no início da década de 1990 no clube do Morumbi. Internamente, também há grande satisfação com o trabalho do uruguaio até aqui.

Com resultados, Aguirre virou um escudo para a diretoria, que viveu rotina de crises nas últimas temporadas.

SPORT
SÃO PAULO
16h, Ilha do Retiro
Na TV: Globo

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