Descrição de chapéu The New York Times

Ame-o ou deteste-o, não há como ignorar o novo relógio do saque no tênis

Limitação de tempo já existe na regra, mas estará visível para todos na quadra

Rafael Nadal, em ação no Torneio de Toronto, é um dos que mais demoram para sacar no circuito profissional de tênis
Rafael Nadal, em ação no Torneio de Toronto, é um dos que mais demoram para sacar no circuito profissional de tênis - Nathan Denette - 9.ago.2018/Associated Press
Ben Rothenberg
Washington | The New York Times

O tênis trocou um relógio pequeno, pessoal, por um grande relógio montado na quadra, e agora os jogadores, e suas diversas manias antes do saque, precisam se acomodar a um tique-taque conspícuo.

Quando o Aberto dos Estados Unidos anunciou em abril que instalaria um relógio digital em quadra para contar os 25 segundos de que os jogadores dispõem para fazer o saque, as turnês da ATP e WTA concordaram em ter o relógio em operação nos torneios anteriores ao evento, para que os tenistas pudessem se adaptar à sua presença.

O relógio foi usado inicialmente em torneios em Washington e San Jose, Califórnia, duas semanas atrás. Foi usado na semana passada em jogos da Rogers Cup em Montreal e Toronto, e está sendo usado também em Cincinnati.

Estará presente ainda em New Haven e Winston-Salem (Carolina do Norte), nas próximas semanas.

Gayle David Bradshaw, vice-presidente executivo de regras e competição da ATP, enfatizou que a limitação de tempo não era novidade, e que a mudança estava em o relógio ter se tornado mais visível, quando antes ficava restrito à tela do tablet do árbitro de quadra.

“A regra não mudou. Mas agora todos podem ver a contagem de tempo”, ele disse.

Embora contagens regressivas visíveis sejam panorama comum para os quarterbacks de futebol americano e armadores de basquete, a maioria dos tenistas está enfrentando pela primeira vez a experiência de ver no relógio a contagem do tempo que lhes resta para iniciar a jogada.

Andy Murray, que jogou sua primeira partida em quadra rápida em mais de um ano no torneio de Washington, expressou opinião muito positiva sobre transparência oferecida pelo novo sistema.

“Era uma das coisas mais estúpidas do tênis, que o jogador tivesse de contar até 25 em sua cabeça, sem ter um relógio na quadra, e aí recebesse advertências - como é que você vai saber quanto tempo está demorando [para sacar]?”, disse Murray.

Ele também estimou que a presença do relógio pode ter reduzido em mais de 20 minutos a cansativa partida de duas horas e 37 minutos que ele jogou contra Mackenzie McDonald na primeira rodada, que Murray acredita teria passado das três horas não fosse o relógio que ajudava os dois tenistas a manter o ritmo.

Essa avaliação deve satisfazer o Aberto dos Estados Unidos, porque acelerar as partidas foi um dos motivos para colocar relógios em quadra.

 

O relógio não será usado nos torneios posteriores ao Aberto dos Estados Unidos, mas os dirigentes do tênis estão pensando em adotá-lo para a temporada 2019.

O relógio não funciona durante as jogadas, mas raramente descansa quando a bola não está em jogo. Começa a funcionar assim que os jogadores pisam na quadra, contando o prazo de um minuto que eles têm entre chegar aos seus bancos e comparecer à cadeira do juiz para o sorteio de lados.

O relógio então começa a contar o prazo de cinco minutos para aquecimento, e em seguida um prazo de 60 segundos entre o fim do aquecimento e o começo do jogo.

Entre os games, a contagem regressiva é de 30 segundos, e, entre os sets, de dois minutos. O relógio também mostra o prazo de três minutos para paradas de atendimento médico.

Na primeira ocasião em que a contagem regressiva se esgotar e o jogador não tiver iniciado seu movimento de saque, ele recebe uma advertência.

Em cada violação de relógio subsequente, ele perde o primeiro saque. O jogador que recebe o serviço é instruído a jogar no ritmo do jogador que saca.

Já houve relógios de saque em operação no tênis, no passado. Foram usados nas rodadas seletivas do Aberto dos Estados Unidos em 2017 e em disputas coletivas de tênis como a World TeamTennis.

O torneio ATPNextGen, no ano passado em Milão, também usou o relógio, e ele foi “grande sucesso” por lá, segundo Bradshaw, o que fez com que a ATP confiasse que poderia funcionar em torneios regulares.

Para muitos jogadores, se acostumar ao relógio foi difícil.

“No começo da partida, eu ficava de olho o relógio o tempo todo”, disse David  Goffin depois de sua primeira partida em Washington. “Estou no tempo? Será que vou demorar mais de 25 segundos? O relógio estava me estressando um pouco, porque era a primeira vez que jogava com ele. Mais adiante no jogo, parei de olhar”.

Andrea Petkovic, que chegou à semifinal em Washington, se ajustou ao relógio, nas quatro partidas que disputou.

“Quando percebi que estava indo bem em termos de tempo —meu saque saía sempre aos 19 ou 20 segundos, solidamente - ter o relógio lá me relaxou, na verdade”, ele disse.

John Isner, que recebe mais penalidades por infrações de tempo do que a maioria de seus colegas tenistas, recebeu o relógio positivamente, como indicador de quando era necessário acelerar e quando era possível relaxar.

“O relógio o mantém no controle, e pode até desacelerar um pouco o momento do saque”, disse Isner. “Se você sabe que ainda tem 15 ou 16 segundos, pode caprichar”.

A reação negativa mais forte veio de Serena Williams —depois da que talvez tenha sido a pior partida de sua carreira. No primeiro jogo que disputou com o relógio de saque, ela só venceu um game, o pior resultado de sua carreira, em uma derrota por 6-0, 6-1 diante de Johanna Konta, na primeira rodada do torneio de San Jose.

Williams não culpou o relógio pelo resultado, mas deixou claro que não apreciava ter aquela informação adicional em seu campo de visão. Disse que o relógio a levava a pensar demais sobre seu ritmo de jogo, algo que antes não a preocupava.

“Odiei”, ela disse, “porque saco muito mais rápido do que o relógio de saque, e aí fico achando que preciso jogar mais devagar —o que obviamente não é o caso, de maneira alguma. As coisas ficaram um pouco diferentes, com isso? Não sei. Terei de pensar a respeito, porque meu jogo é muito mais rápido que o relógio do saque”.

Kyle Edmund sugeriu que o posicionamento do relógio seja mudado, de modo a não ficar diretamente atrás do jogador que recebe o saque.

“Creio que o posicionamento poderia ser diferente, porque fica bem atrás do adversário, e você vê o relógio por trás dele, com o prazo correndo”, disse Edmund.

Embora o árbitro de quadra já não seja o único dono do relógio, exercita grande poder sobre ele. O árbitro não aciona o relógio antes de anunciar o placar, quando um ponto é marcado.

Os árbitros parecem estar se esforçando para esperar o fim dos aplausos e dos murmúrios dos espectadores antes de anunciar o placar.

Nas duas primeiras semanas de uso do relógio, houve poucas violações. Era incomum que um jogador iniciasse seu saque com menos de cinco segundos restando no relógio.

Rafael Nadal, conhecido como um dos jogadores mais demorados no saque, recebeu uma punição por estourar o tempo de saque no final do segundo set, em sua vitória sobre Stan Wawrinka em Toronto, na terceira rodada do torneio.

Depois que Nadal concluiu sua complicada sequência de rituais pré-saque, ele recebeu a advertência no momento em que começou a se posicionar para o movimento de saque.

“Sigo as regras”, disse Nadal. “Preciso me acostumar a jogar assim, e sem dúvida conseguirei”.

O relógio pode enfrentar teste mais árduo quando houver mais em jogo, no Aberto dos Estados Unidos, que tem partidas de cinco sets no torneio masculino, em lugar de melhores de três sets.

A única violação do tempo de saque na quadra principal em Washington foi cometida por Alexander Zverev, que viria a vencer o torneio, quando ele voltou ao seu banco para trocar de raquete no começo de um game.

O tenista disse que acreditava que o árbitro pararia o relógio, nesse caso.

“Para mim, foi uma punição bem sem propósito”, ele disse. “Não me incomodou. Não penso antes de sacar. Já fiz um saque em menos de 15 segundos”.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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