Descrição de chapéu The New York Times

Americana de 38 anos planeja dar a volta ao mundo nadando

Jaimie Monahan já participou de 75 provas de natação em águas abertas

Kaya Laterman
The New York Times

O tempo não estava ajudando Jaimie Monahan, na manhã de um dia de final de semana recente. A noite anterior havia sido de chuva pesada, e por isso as ondas e o vento eram fortes demais para que ela nadasse a rota de 20 quilômetros que tinha planejado entre a ponte de Brooklyn e Coney Island.

Ainda que as condições na baía de Nova York e no Oceano Atlântico tivessem se acalmado depois que o sol nasceu, Monahan havia perdido a chance de treinar para a Rose Pitonof Swim, uma prova fatigante de 28 quilômetros que acontecerá na metade de agosto.

 

Em lugar de entrar na água, ela fez uma sessão de ioga em Brighton Beach, organizada pela Cibbows, a associação de nadadores de águas abertas de Coney Island e Brighton Beach.

"A maré, a temperatura quente ou fria da água, a fauna marinha, o tempo, tudo isso afeta a natação de águas abertas", ela disse.

Monahan, 38, já participou de 75 grandes provas de natação de águas abertas, no gelo e de inverno (o total sobe a 300 se eventos menores entraram na conta), e conquistou muitas vitórias ao longo do caminho.

Ela é sete vezes campeã americana de natação de inverno, este ano entrou para o Hall da Fama da Natação Maratona Internacional e foi escolhida como nadadora do ano pela Associação Mundial de Natação de Águas Abertas em 2016 e 2017.

Como se não bastasse o tempo que dedica à natação, e a vencer provas, Monahan também tem emprego em tempo integral na área de recursos humanos da auditoria e consultoria Deloitte.

Mas este mês ela não vai passar muito tempo no escritório.

Monahan vai tentar obter um recorde para o Livro Guinness, como nadadora a completar mais rapidamente seis maratonas aquáticas, em seis continentes, em prazo de 16 dias (as provas definidas como maratonas de natação têm distâncias variáveis, mas a mínima é de 10 quilômetros).

A primeira prova dela para o recorde será a Pitonof Swim, com largada na rua 26, em Manhattan, e conclusão no Steeplechaser Pier, Coney Island.

Mais tarde, no mesmo dia, ela irá ao aeroporto para viajar à Colômbia. Em seguida, virá uma rápida sucessão de voos para a Austrália, Cingapura, Egito e Suíça.

"Eu na verdade não me vejo como superatlética", diz Monahan. "Sou mais como um pinguim: desajeitada em terra mas graciosa na água".

Monahan sempre nadou — fazia nado borboleta e concorria no medley individual, no segundo grau e na universidade —  mas seu amor pela natação de águas abertas só ganhou força quanto ela começou a treinar para o triatlo, com Arik Thormahlen, 41, com quem namora há 18 anos (ele trabalha como arrecadador de verbas para projetos de saúde e ensino superior).

Ela em seguida leu sobre Rose Pitonof, adolescente que nadou de Manhattan a Coney Island em 1911 (a prova que leva o nome de Pitonof segue sua trajetória original), e sobre Lynne Cox, atleta talvez mais conhecida por sua travessia a nado do Estreito de Bering.

As histórias sobre elas foram tão inspiradoras que o interesse de Monahan pela modalidade cresceu.

Depois de participar de provas na Califórnia e Flórida, como teste, Monahan em 2009 atravessou o Canal da Mancha a nado, em um percurso de 34 quilômetros.

"Jamie tem o mesmo amor e o mesmo espírito que Rose tinha", disse Deanne Drager, fundadora da Urban Swim, que responde pela organização da Pitonof Swim e de outros programas de promoção da natação de águas abertas.

"São ambas vivazes, charmosas e passionais".

Depois de se tornar a primeira pessoa a completar o Ice Sevens Challenge, cuja regra estipula que a temperatura da água deve estar abaixo de cinco graus, e que sete etapas de uma milha (1,6 mil metros) devem ser nadadas em sete continentes, Monahan disse que precisava de uma nova meta.

Dois anos atrás, começou a planejar sua série de maratonas aquáticas.

Quando sua agenda na Deloitte permite, Monahan gosta de se exercitar entre quatro e sete vezes por semana, o que inclui sessões de alta intensidade na academia, ioga e natação, em piscina coberta e ao ar livre.

Nos finais de semana, ela participa de eventos de natação em grupo ou em longas provas solo organizadas pela Cibbows.

E há muita coisa a organizar. Capri Djatiasmoro, que é integrante do conselho da Cibbows, às vezes precisa obter autorização da guarda costeira americana e notificar a unidade portuária da polícia de Nova York sobre as rotas e horários das provas e eventos.

Um barco da polícia sempre acompanha os nadadores e, a depender da localização do percurso, o departamento de parques e recreação da cidade também ter de ser notificado.

Nos eventos de longa distância, Djatiasmoro, em companhia do capitão do barco e de Thormahlen, faz o percurso ao lado de Monahan, em um bote inflável de casco rígido.

Usando radar, sonar e os olhos, Djatiasmoro diz que está sempre olho em barcos, jet skis, destroços e, ocasionalmente, aves.

"Às vezes você olha para cima e encontra muitas aves circulando, o que significa que há peixes abaixo do nadador, e é preciso mudar um pouco o curso", ela diz.

Organizar o desafio que Monahan está começando demorou mais de um ano. Além da logística — reservas de passagens aéreas e acomodações —, Monahan teve de obter permissão das autoridades corretas em várias águas internacionais.

Thormahlen, que disse que se divertiu fazendo a maior parte das pesquisas sobre equipamento, está empolgado com o uso de um novo tipo de caiaque oceânico, inspirado em origamis, que pode ser dobrado em forma de um pacote compacto.

"Quando o abri pela primeira vez, em casa, ocupou a cozinha inteira", ele disse sobre o caiaque Oru.

Thormahlen viajará com Monahan a todos os locais em que ela realizará seus percursos, e usará o caiaque para ajudá-la a manter o rumo.

Além de levar oito maiôs, Monahan, que tem a pele muito clara, planeja também carregar quase 700 gramas de Desitin, um creme para assaduras, que ela usa em lugar de bloqueador solar, e diversos pacotes de pó CarboPro, um suplemento energético que ela bebe a cada 30 minutos durante as provas.

Monahan disse que às vezes canta mentalmente enquanto nada, mas em geral se concentra na natureza que a rodeia.

Houve ocasiões em que ela ouviu os chilreios dos golfinhos, e já nadou com um pinguim, no Oceano Antártico.

Águas-vivas e insetos incomodam, mas ela não se deixa perturbar, porque um estado mental sólido e a capacidade de reagir a mudanças súbitas na água são importantes na natação de águas abertas.

Ainda que Monahan diga que não está se deixando dominar por essa preocupação, ela e Thormahlen sabem que existem piratas em Malaca e no estreito de Cingapura.

Ela vai dedicar duas semanas de suas férias à aventura.

"É divertido quando alguém do escritório me pergunta o que fiz no final de semana", ela disse. "Às vezes eu estava nadando do outro lado do mundo".

OS DETALHES

Projeto: Recorde mundial do Guinness Book para a pessoa que completar com maior rapidez seis provas de maratona aquática em seis continentes.

Locais: Nova York (Manhattan a Coney Island); Colômbia (ilha de Tierra Bomba, no Caribe); Austrália (Bondi Beach a Watsons Bay, no Pacífico Sul); estreitos de Malaca e Cingapura; Egito (golfo de Aqaba, no Mar Vermelho); Suíça (Lausanne a Évian-les-Bains, via lago Genebra).

Em preparo: desde 2016Forças motoras: Jaimie Monahan e Arik Thormahlen

Custo: Cerca de US$ 12 mil

Maiores obstáculos: Tempo, temperatura da água, fauna, piratas

Tradução de PAULO MIGLIACCI
 

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