Cabral vê preconceito racial em acusação de compra de voto para Olimpíada

Ele negou que tenha negociado propina ou se encontrado a sós com o senegalês Lamine Diack

Italo Nogueira
Rio de Janeiro

O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta quinta-feira (9) ver “preconceito racial” na acusação de compra de votos no COI (Comitê Olímpico Internacional) para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016.

Ele negou que tenha negociado propina ou se encontrado a sós com o senegalês Lamine Diack, membro do COI e então presidente da Federação Internacional de Atletismo, acusado de receber US$ 2 milhões (R$ 7,6 milhões) para beneficiar a candidatura brasileira na disputa.

“O Ministério Público Federal está padecendo de preconceito racial. Essa coisa de dizer que africanos se reuniram para vender votos é preconceito racial”, disse Cabral em interrogatório ao juiz Marcelo Bretas.

Ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral é levado à carceragem da PF em Curitiba em 2016
Ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral é levado à carceragem da PF em Curitiba em 2016 - Geraldo Bubniak/Agência O Globo

O procurador Stanley Valeriano da Silva respondeu na audiência às críticas de Cabral.

“O Ministério Público Federal não elege teses, trabalha com fatos. Essa denúncia foi construída em cima de provas que foram discutidas ao longos de meses. O Ministério Público Federal também tem como função combater todas as formas de discriminação”, afirmou o procurador.

Também são acusados o ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) Carlos Arthur Nuzman, o ex-diretor Leonardo Gryner, apontados como intermediários do pedido do senegalês, e o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, apontado como o responsável por fazer o pagamento.

“Nunca estive sozinho com ele [Lamine]. Só um encontro num evento de atletismo em que fomos fazer uma visita protocolar”, disse o ex-governador.

Gryner também negou, em depoimento, ter intermediado o pedido de propina descrito pela Procuradoria. Ele afirmou que Diack pediu apenas para que o Brasil sediasse eventos de atletismo que exigiriam o pagamento de US$ 12 milhões (R$ 45,6 milhões).

O executivo negou que emails em que Papa Massata Diack, filho de Lamine, faz cobrança de transferências bancárias se refiram a propina. Segundo ele, se tratava de uma tentativa de concretizar a realização desses eventos, que acabaram não acontecendo. “Fui enrolando ele”, disse Gryner.

A versão de Gryner, contudo, conflitou com a apresentada por Cabral. O executivo disse que o ex-governador indicou Soares como um possível patrocinador para os eventos. O político negou que tenha feito essa intermediação.

“Se o senhor Leonardo Gryner tratou de futuros negócios com o senhor Arthus Soares, cabe a eles explicarem”, disse Cabral.

Nuzman será ouvido no próximo dia 22 sobre o caso.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.