Justiça dos EUA condena Marin a 4 anos de prisão e multa de US$ 1,2 mi

Ex-presidente da CBF é acusado de receber propinas e lavar dinheiro

O ex-presidente José Maria Marin foi condenado nesta quarta-feirta (22) a quatro anos de prisão
O ex-presidente José Maria Marin foi condenado nesta quarta-feirta (22) a quatro anos de prisão - Don EMMERT - 13.dez.2017/AFP
Nova York

A Justiça americana condenou nesta quarta-feira (22) o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin, 86, a 48 meses de prisão e a pagar multa de US$ 1,2 milhão (R$ 4,8 milhões) por receber propinas e lavar dinheiro no escândalo de corrupção da Fifa.

Marin foi condenado depois de um julgamento de 3 horas pela juíza Pamela Chen, que ordenou ainda o confisco de US$ 3,34 milhões (R$ 13,4 milhões) do cartola.

Pelos cálculos dos advogados de Marin, ele terá que cumprir somente mais 28 dos 48 meses estipulados como pena. A defesa espera que sete meses sejam retirados da sentença por bom comportamento, e outros 13 meses que o cartola já está preso devem ser abatidos por tempo servido.

Neusa, 79, assistiu ao julgamento do marido. Ela passou a maior parte da audiência de cabeça baixa e com as mãos unidas no colo.

Ao lado do intérprete, Marin falou poucas vezes. Em uma das únicas ocasiões em que reagiu ao que a juíza dizia, mostrou irritação quando Chen questionou o serviço público prestado pelo cartola —um dos argumentos usados pela defesa para tentar evitar a imposição de uma sentença maior ao cartola.

Chen levantou dúvidas sobre a contribuição recente de Marin à comunidade, lembrando que ele se afastou do serviço público na década de 1980 —ele governou São Paulo entre 1982 e 1983.

Marin assumiu o posto na condição de vice do então governador Paulo Maluf, que na época deixou o cargo para concorrer à Câmara dos Deputados. 

“O bem que ele fez à comunidade foi ofuscado pelo mal que fez nos últimos anos”, afirmou a juíza. 

Ao ouvir a tradução, o ex-presidente da CBF murmurou “eu estava aposentado”.

Em sua argumentação, a juíza afirmou que o espírito público deixou Marin em 2012, quando ele começou a fazer parte do que a Promotoria qualifica de conspiração para obter ganhos financeiros com a transmissão de partidas oficiais da Fifa.

"Ele não precisava do dinheiro, e é difícil de acreditar que ele não sabia que o que estava fazendo é errado. Não havia razão para que cometesse os crimes", afirmou a juíza. Para ela, Marin “sucumbiu à ganância”.

Chen também afirmou que, apesar da “ligação espiritual” que Marin disse ter com a esposa, Neusa não visitou o cartola uma única vez nos oito meses em que ele esteve preso. Ao fim do julgamento, Marin pediu para falar com a esposa por alguns minutos, em conversa autorizada pela juíza. 

A condenação foi mais branda do que a pena pedida pela promotoria, que era de dez anos de prisão e multa de cerca de US$ 7 milhões (R$ 28,4 milhões).

Marin foi preso em maio de 2015 na Suíça e extraditado em novembro do mesmo ano para os Estados Unidos. 

Condenado nos EUA por seis crimes cometidos durante sua gestão na CBF, José Maria Marin assumiu o cargo em 2012, aos 79 anos, para cumprir o restante do mandato de Ricardo Teixeira, que renunciou.

Ele era o vice mais velho e, por isso, ficou com o posto, seguindo estatuto da confederação. Antes de ser presidente da CBF, foi vereador, deputado estadual e governador de São Paulo.

Os advogados Paulo Peixoto (esquerda) e Julio Barbosa falam com os jornalistas após a divulgação da sentença de quatro anos de prisão para o ex-presidente da CBF, José Maria Marin
Os advogados Paulo Peixoto (esquerda) e Julio Barbosa falam com os jornalistas após a divulgação da sentença de quatro anos de prisão para o ex-presidente da CBF, José Maria Marin - Don Emmert/AFP

As acusações no chamado Fifagate englobam ações de suborno, fraudes e de lavagem de dinheiro. Os cartolas teriam recebido pagamentos ilegais, que começaram em 1991 e atingiram duas gerações de dirigentes e executivos, que movimentaram mais de R$ 564 milhões.

Empresários do marketing esportivo como Alejandro Burzaco, da Torneos y Competencias, J. Hawilla, da Traffic, e Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, pai e filho donos da Full Play, teriam subornado os cartolas com viagens de jatinho, banquetes em restaurantes badalados e suítes de hotéis cinco estrelas.

O objetivo era obter vantagens na negociação de contrato para terem os direitos de transmissão de partidas da Copa do Mundo.

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