Meu ouro não foi bem capitalizado, diz Cesar Cielo dez anos após Pequim-2008

Aos 31, nadador repensa carreira e lembra de feito inédito para o esporte brasileiro

Cesar Cielo nada em piscina no clube Pinheiros, onde treina em São Paulo
Cesar Cielo nada em piscina no clube Pinheiros, onde treina em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress
Marcelo Laguna
São Paulo

A natação do Brasil mudou de patamar há dez anos. Após a geração de Gustavo Borges e Fernando Scherer colecionar pratas e bronzes em Olimpíadas e Mundiais, Cesar Cielo Filho, então com 21 anos, colocou o país no clube dos campeões olímpicos.

Em 16 de agosto de 2008, Cielo deixou para trás os favoritos franceses Amaury Leveaux e Alain Bernard e conquistou a medalha de ouro nos 50 metros livre. O tempo de 21s30 também lhe deu o recorde olímpico.

A medalha em Pequim abriu um caminho de conquistas. Além de uma terceira medalha olímpica (bronze em Londres-2012 nos 50 m livre), foram seis ouros em Mundiais e os recordes do mundo dos 50 e 100 metros livre, que ele detém desde 2009.

Qual foi a importância do Brett Hawke [técnico australiano] na sua conquista?

O legal do Brett é que ele tinha acabado de começar a carreira de treinador dele e havia sido finalista olímpico em 2004 nos 50 m livre. Quando a gente conversava, era de nadador para nadador, não um diálogo técnico-nadador. Ele passava coisas que só quem enfrentou esse processo de uma final olímpica pode falar.

É verdade que ele usou como estratégia de motivação antes da final dos 100 m insistir para que você levasse na mochila o agasalho de premiação, que são usados apenas em caso de pódio?

Sim, ele dizia “leva, você não sabe o que pode acontecer”. Aquela conversa já estava me incomodando e eu respondi: “leva você. Se for levar este negócio, vou me irritar”. Tenho consciência de que foi jeito dele tentar me motivar naquela hora.

A medalha de ouro trouxe algo de positivo para a natação brasileira?

A medalha e a conquista renderam muito mais atenção da mídia para nós, mais dinheiro também, porém não foi um dinheiro bem capitalizado. A gente vê isso pelos números de praticantes nas competições de natação, que foi diminuindo ano a ano. Para o alto rendimento, conseguimos, justamente por ter mais dinheiro na confederação, passar mais tempo treinando fora, disputar algumas competições que hoje ficou mais difícil de conseguir fazer. Se a natação continuar do jeito que está, teremos cada vez menos nadadores na piscina, menos clubes investindo na natação.

Como busca motivação para continuar nadando?

Sinto que na piscina ainda ajudo muito. Desafiar os meninos no treino, passar uma dica, uma correção. São coisas que eu gosto de fazer, com o Gabriel Santos, o Pedro Spajari e o Marcelo Chierighini, a gente fala e eles prestam atenção. Esse lado de mentor é diferente, acho bem gratificante.

Você planeja o seu futuro até quando na piscina?

Vou até dezembro e aí repenso. Depois do Mundial do ano passado, quando levamos a medalha de prata no 4 x 100 m livre, decidi ir mais um pouco, pois estou me divertindo, meu corpo ainda está aceitando o treinamento, está evoluindo. Tem o Mundial [de piscina curta] agora e decidi esperar.

Qual foi o pior momento da sua carreira, o caso de doping em 2011 ou ficar fora da Rio-2016?

O caso de 2011 vejo como algo que aconteceu comigo, mas eu não tive culpa. Não tive influência direta. A reação dos meus adversários, duvidando de mim, foi algo que me chateou. Foi muito difícil ter que lidar com aquilo, mas os outros anos que tive na sequência, e era algo que eu queria muito, mostraram que de fato aquilo não foi algo que eu fiz, foi um acidente, não tive culpa. Em relação a 2016, sei dentro de mim o quanto eu não treinei. Não estava vindo de boas temporadas.

Cesar Cielo Filho, 31

Nascido em Santa Bárbara d'Oeste (SP), foi ouro nos 50 m nado livre na Olimpíada de Pequim-2008. Ganhou também duas medalhas de bronze, nos 100 metros (Pequim-2008) e 50 metros livre (Londres-2012). Conquistou ainda sete medalhas em campeonatos mundiais, sendo seis de ouro: 50 m livre (2009, 2011 e 2013), 100 m livre (2009) e 50 m borboleta (2011 e 2013). Tem ainda uma medalha de prata, no revezamento 4 x 100 m livre, no Mundial de 2017. Ele detém também os recordes mundiais dos 50 m livre (20s91) e 100 m livre (46s91), ambos obtidos em 2009

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