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Timor-Leste atrai e decepciona jogadores de futebol brasileiros

Federação local falsificou certidão de 12 atletas do país em 2015 para tê-los na seleção

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Marcello Oliveira
Dili (Timor Leste)

O sol mal nasceu, e o campo na sede da Federação de Futebol de Timor-Leste está cheio de crianças para acompanhar o treino de equipes profissionais.

O carioca Glauco Trajano, 25, ex-jogador do Bangu e capitão do Atlético Ultramar, time da primeira divisão do Campeonato Timorense, é um dos mais assediados.

Morando na capital, Dili, há cerca de um ano, Glauco subiu com o Atlético no ano passado e pensa em fazer carreira no país. “Estou feliz, em busca do meu sonho. Mas a gente não vem só pelo amor, mas também pelo dinheiro”, diz o atleta, que prefere não revelar seu salário mensal.

Ramon Saro, 27, jogador de futebol revelado pelo Paraná que atuou no Timor-Leste
Ramon Saro, 27, jogador de futebol revelado pelo Paraná que atuou no Timor-Leste - Avener Prado/Folhapress

Segundo a imprensa local, jogadores estrangeiros recebem cerca de US$ 3.000 mensais (R$ 11,6 mil). Além do pagamento, ele ganhou do clube um carro, hospedagem em hotel e alimentação. A equipe ainda paga uma academia particular para o jogador.

Glauco faz parte de um grupo de brasileiros atraído a Timor-Leste. Atualmente, são oito atuando na liga local.

As propostas persistem mesmo após a punição da Fifa à federação nacional pela falsificação de documentos de jogadores brasileiros.

Em 2015, após empate em 1 a 1 com a seleção da Palestina, em jogo pelas eliminatórias da Copa de 2018, o adversário pediu a investigação sobre possível irregularidade na inscrição de jogadores.

Eram oito nascidos no Brasil em campo, o que chamou a atenção. A federação asiática descobriu que a federação de Timor-Leste falsificou a certidão de nascimento de 12 brasileiros, como se eles fossem filhos de timorenses, para legitimar a escalação deles.

A Fifa anulou 29 partidas que tiveram a participação de brasileiros, o que fez com que a seleção fosse excluída das eliminatórias e perdesse vaga nas próximas duas edições da Copa da Ásia.

Os jogadores envolvidos no escândalo dizem que foram vítimas de uma armação.

Ramon Saro, 26, revelado pelo Paraná Clube e convidado a compor a seleção asiática em 2012, jogava em um clube do Bahrein e não pôde renovar o contrato após o termino das investigações. Desde então, não teve mais oportunidades no futebol profissional.

“Quando tive meu passaporte revogado, foi uma das maiores decepções da minha vida, tanto com o Timor-Leste quanto com os empresários, que viraram as costas”, lamenta o jogador, que foi campeão da segunda divisão pelo clube em que atuava no Bahrein.

Hoje, ele mora com a família na zona sul de São Paulo e trabalha com o pai em um negócio próprio. Apesar das dificuldades, não pensa em abandonar o futebol. “Minha intenção é voltar para a Ásia, mas sei que é difícil”, disse à Folha.

O atual gerente de futebol da seleção de Timor-Leste, Frederico Martins, informou que a federação acatou as decisões da Fifa e agora apenas timorenses jogam na equipe. “Viramos a página. Estamos fazendo tudo dentro da lei”, disse.

Vivendo no país, Glauco disse que ofereceram-lhe a naturalização, mas que ainda não pensa nisso e não quer ter o futuro prejudicado. “Só faço se for para ser tudo correto”, diz.

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