Descrição de chapéu Futebol Internacional

Wolverhampton, rival do Manchester City, chega à elite com apoio de agente

Ajuda de empresário português Jorge Mendes levanta suspeitas de outros clubes ingleses

Alex Sabino
São Paulo

Mais jovem capitão do Porto (POR) na história da Liga dos Campeões da Europa, o meia Rúben Neves, 21, era cobiçado por alguns dos principais clubes europeus. Guardiola considerava pedir para o Manchester City oferecer 65 milhões de euros (R$ 293 milhões) para comprá-lo.

Jorge Mendes chega para testemunhar em processo de lavagem de dinheiro envolvendo o colombiano Radamel Falcao, seu cliente
Jorge Mendes chega para testemunhar em processo de lavagem de dinheiro envolvendo o colombiano Radamel Falcao, seu cliente - Sergio Perez - 27.jun.2017

Causou surpresa o anúncio, no início de julho, de que Neves era reforço do Wolverhampton Wanderers, recém-promovido para a primeira divisão do futebol inglês.

Mas quem analisar o elenco e histórico recente da equipe, não ficará tão surpreso assim.

Neves é empresariado por Jorge Mendes. Assim como mais oito titulares da equipe conhecida como Wolves que, neste sábado (25), enfrenta o Manchester City pela terceira rodada do Campeonato Inglês.

Mendes também tem entre seus clientes o técnico Nuno Espírito Santo. Todos são portugueses, assim como sete jogadores do elenco. O agente é conselheiro do conglomerado chinês Fosun, que comprou o clube por R$ 236,5 milhões (valores atuais) em 2016.

Desde então, o Wolverhampton investiu 170 milhões de euros (R$ 766 milhões) em reforços. Saiu da terceira divisão para a elite inglesa. Na temporada passada, ganhou a liga de acesso com um pé nas costas.

A ligação é tão profunda que levanta suspeitas. Em 2017, o Leeds United pediu que a English Football League (Liga Inglesa de Futebol, que organiza os torneios fora da primeira divisão) investigasse esta relação. Não foi comprovado nada de irregular.

“Não há qualquer qualquer reclamação formal de qualquer clube da Premier League a respeito do Wolverhampton Wanderers ou seus dirigentes”, disse a entidade que organiza o principal torneio do país, em e-mail enviado à Folha.

A queixa é que a ligação entre os donos do clube e Mendes vai além da consultoria. Guo Guangchang, presidente do grupo Fosun, conglomerado avaliado em US$ 8,1 bilhões (R$ 40 bilhões) tem participação acionária na Gestifute, a agência de Jorge Mendes.

Como conselheiro, Mendes pode indicar jogadores e fazer intermediação das tratativas. Ao contratar um reforço, o agente deste leva uma comissão. As duas aquisições mais caras da história do Wolverhampton, Rúben Neves e Helder Costa, custaram, somados, 32,1 milhões de euros (R$ 144,7 milhões). Ambos são clientes da Gestifute que, pela participação no negócio, teve direito a 5%: R$ 7,2 milhões.

Raul Jimenez (à esquerda) comemora gol do Wolverhamton contra o Everton, na primeira rodada do Campeonato Inglês
Raul Jimenez (à esquerda) comemora gol do Wolverhamton contra o Everton, na primeira rodada do Campeonato Inglês - Craig Brough - 11.ago.2018/Reuters

“Jorge Mendes não é o encarregado pela contratação de jogadores no clube. Ele não poderia ser porque é contra as regras. É uma pessoa próxima dos donos e isso é um fato reconhecido. Mas temos funcionários no departamento de futebol que procuram atletas e usam várias fontes, inclusive Mendes e a Gestifute”, disse o diretor Laurie Dalrymple.

Ele é responsável também pelas carreiras de Cristiano Ronaldo (que o presenteou com uma ilha há dois anos) e José Mourinho. Jorge Mendes, 52, é o empresário mais influente do futebol mundial. E o que mais movimenta dinheiro. No mundo dos esportes, fica atrás apenas do americano Scott Boras, agente de vários dos principais nomes da Major League Baseball.

O clube inglês não foi o primeiro em que Mendes assumiu o papel de conselheiro. Orientou o magnata chinês Peter Lim na compra do Valencia em 2014 por 420 milhões de euros (R$ 1,9 bilhão hoje). Por causa do agente, Lim sancionou que o técnico da equipe deveria ser o mesmo Nuno Espírito Santo que hoje comanda o Wolverhampton.

A ligação dos dois é antiga. Em 1996, o hoje empresário era DJ de uma casa noturna em Caminha, cidade portuguesa de 17 mil habitantes, depois de se frustrar na tentativa de ser jogador de futebol.

Na boate, conheceu Nuno, goleiro reserva do Vitória de Guimarães. Ficaram amigos e Mendes prometeu que ia lhe arrumar um novo clube. Sem conhecer ninguém, foi à Espanha e durante 14 dias tomou chá de cadeira do presidente do Deportivo La Coruña, Augusto Cesar Lendorio. Quando conseguiu uma reunião, o convenceu de que a contratação do português seria boa ideia.

“Ele era persistente. Não aceitava resposta negativa e estava sempre vestido de maneira impecável”, disse Lendorio, que pagou 2 milhões de euros (R$ 9 milhões) pela contratação.

Espírito Santo ficou uma temporada apenas no La Coruña, jogou quatro vezes e acabou dispensado.

Mas representou o início da carreira de Jorge Mendes como empresário de futebol o que, de uma maneira ou outra, colocou o Wolverhamtpon na primeira divisão inglesa depois de seis anos. 

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