Crise vira rotina, e Santos vota impeachment

Clube vota nesta segunda (10) se aceita pedido para saída de José Carlos Peres

O presidente do Santos, José Carlos Peres, que pode ter o seu pedido de impeachment aprovado nesta segunda-feira (10)
O presidente do Santos, José Carlos Peres, que pode ter o seu pedido de impeachment aprovado nesta segunda-feira (10) - Ivan Storti - 19.abr.2018/Santos FC
Alex Sabino
São Paulo

O mandatário do conselho deliberativo do Santos, Marcelo Teixeira, pediu a palavra para citar José Carlos Peres e o anunciou como o “ainda” presidente do comitê de gestão. A gafe não chamou a atenção porque se existe uma esperança para Peres continuar no cargo, esta é Teixeira.

Nesta segunda (10), o conselho deliberativo vota o impeachment do chefe do executivo. São necessários dois terços dos votos para aprovação.

Caso isso aconteça, será convocada assembleia de sócios. Se estes decidirem, por maioria simples, que Peres merece o impeachment, terá de deixar o cargo.

O cartola tenta barrar o processo na Justiça. Ele já obteve uma liminar, derrubada semanas depois. Alega que não teve tempo para apresentar a defesa. Seu advogado cometeu um erro e entrou com ação contra a comissão de inquérito e sindicância do clube. O correto seria o presidente do conselho deliberativo.

Peres é acusado de ser sócio de empresas de agenciamento de jogadores ao mesmo tempo em que era presidente do clube, algo proibido pelo estatuto social. 

Ele afirma que a empresa jamais atuou no mercado, não emitiu notas e existia apenas no papel. As companhias foram encerradas neste ano.

A oposição busca explicações também sobre a negociação para a contratação do zagueiro equatoriano Jackson Porozo, 17. O Santos prometeu repassar 30% do lucro de uma venda futura para a Hi Talent, empresa que não fez qualquer investimento na negociação e que já teve como um dos cotistas Ricardo Crivelli, ex-sócio de Peres e contratado por ele para ser coordenador das categorias de base. 

Apelidado de Lica, ele está afastado do cargo, acusado de abuso sexual. Crivelli nega ter cometido o crime e o caso é investigado pela polícia.

A possível saída de Peres não seria novidade na história recente do clube. Miguel Kodja Neto foi afastado pelo conselho deliberativo em 1994 por causa do que ficou conhecido como escândalo do telebingo. 
O cartola promoveu evento em que prêmios seriam entregues a torcedores que comprassem as cartelas e fossem sorteados. Os carros e motos prometidos jamais chegaram aos ganhadores, e Kodja Neto foi processado pelo clube.

A partir de 2010, quando a comissão fiscal do conselho passou a ter os membros eleitos e não indicados pela diretoria, todos os presidentes tiveram contas rejeitadas: Marcelo Teixeira, Luis Alvaro de Oliveria Ribeiro, Odilio Rodrigues e Modesto Roma Filho sofreram o mesmo destino.

O déficit e a contratação de funcionários contra a recomendação da comissão fiscal, podem fazer com que o mesmo aconteça com Peres, caso não receba o impeachment.

A mudança no estatuto em 2011 fez com que qualquer chapa que obtenha 20% dos votos tenha direito a colocar seus integrantes (de forma proporcional à votação) no conselho deliberativo. Antes disso, a chapa vencedora preenchia todas as vagas.

Isso fez com que aparecessem dezenas de grupos políticos no clube, o que intensificou as negociações antes de eleições, traições após o pleito, pressão no conselho e troca de apoio por cargos. 

Desde o pleito no fim de 2017, o segundo andar da Vila Belmiro, onde está a presidência, é um campo minado. Menos de três meses após a posse, o vice Orlando Rollo estava rachado com o presidente, que se fechou em um círculo cada vez mais restrito de aliados. Hoje, ele tem ao seu lado alguns assessores e Pedro Dória, do Comitê de Gestão.

A tensão na relação entre presidente e vice também prova que a vida no Santos gira em círculos. Com o apoio de Pelé, Samir Abdul-Hak foi peça fundamental para derrubar Miguel Kodja Neto em 1994. O vice assumiu e governou o clube até o final de 1999. Quando ficou doente, Luis Alvaro se afastou e entregou o cargo a Odilio Rodrigues Filho, em 2012. Não demorou a reclamar que o sucessor tomou decisões que iam contra o que acreditava.

O Santos não ganhou títulos em 2018 e foi eliminado da Libertadores por um erro administrativo que fez com que Carlos Sánchez, suspenso, fosse escalado contra o Independiente (ARG). Em nove meses, o clube teve três gerentes de futebol. Gustavo Oliveira ficou menos de 60 dias, saiu por divergências com Peres e hoje cobra R$ 700 mil de salários, direitos de imagem e trabalhistas não pagos. 

William Machado deixou a Vila Belmiro para trabalhar em uma empresa de consultoria financeira para atletas. Ricardo Gomes durou menos de três meses e foi ser gerente no Bordeaux (FRA). 

É a mesma rotatividade do comitê de gestão, que hoje tem três membros a menos do que os nove recomendados. 

Os que saíram reclamaram que o presidente não escuta o órgão colegiado e quer tomar decisões sozinho por ter sido o eleito. Apesar da reação do time, no fim do mês passado ele consultou integrantes do comitê sobre a possibilidade de trocar Cuca pelo colombiano Juan Carlos Osorio.

Peres ficou bastante irritado com as declarações do treinador, que disse que o Santos tinha muito a melhorar profissionalmente, mas os integrantes do comitê o desestimularam a fazer a troca e Osorio acertou com a seleção paraguaia.

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