Nascido na Bélgica, Andreas Pereira quer ser conhecido como brasileiro

Sem nunca ter jogado no Brasil, nem nas categorias de base, meia foi chamado por Tite para amistosos

São Paulo

Nascido em Duffel, província de Amberes, na Bélgica, Andreas Pereira, 22, tem cidadania brasileira por causa dos pais. Mas ele não quer somente o passaporte. Deseja que as pessoas o vejam como brasileiro. 

Andreas Pereira durante amistoso do Brasil contra El Salvador no FedEx Field em Washington
Andreas Pereira durante amistoso do Brasil contra El Salvador no FedEx Field em Washington - Lucas Figueiredo/CBF

É uma questão pessoal para ele. Andreas rejeitou a chance de jogar pela seleção do país em que nasceu para ser chamado por Tite. Resistiu à pressão de dirigentes belgas e pedidos de jogadores como o atacante Romelu Lukaku, seu companheiro no Manchester United (ING)

“Me sinto brasileiro mas acho que, como fiz minha base no PSV, as pessoas não sabem bem quem eu sou. Não tive essa fase de ser reconhecido quando estava no sub-17 ou sub-20 de um grande clube do Brasil. É nesse momento que o jogador passa a ser reconhecido pelo torcedor, como aconteceu com o Vinicius Júnior, por exemplo. Estou vivendo momento em que me apresento para o povo brasileiro”, diz o meia.

Jogador do Manchester United desde 2014, Andreas apenas nesta temporada tem recebido oportunidades na equipe principal. Antes disso foi emprestado para Granada e Valencia, na Espanha.

Neste sábado (29), o clube enfrentou o West Ham, pelo Campeonato Inglês

Estar na liga de clubes mais rica do planeta ajuda seu desejo de ser identificado no Brasil. Os jogos do United são sempre transmitidos no país.

“Como as partidas passam na América do Sul, apareço na mídia. Estou me vinculando mais ao povo brasileiro, do qual creio que faço parte, e estão me conhecendo melhor.”

O pai de Andreas é o ex-jogador Marcos Pereira, que começou no Inter de Limeira e passou 19 anos como atacante em equipes da Bélgica e da Holanda. As férias da família são divididas entre Londrina e Maringá, no interior do Paraná. A língua portuguesa foi praticada em casa e com os amigos brasileiros nos clubes europeus em que atuou.

Ele fala com fluência, sem sotaque francês ou flamengo. Apenas para por alguns instantes para pensar em alguma palavra específica.

Andreas Pereira controla boa na estreia do Manchester United no Campeonato Inglês, contra o Leicester
Andreas Pereira controla boa na estreia do Manchester United no Campeonato Inglês, contra o Leicester - Andrew Boyers-10.ago.18/Reuters

A pedido de José Mourinho, Andreas ficou no Manchester United neste ano e rejeitou a possibilidade de ser emprestado mais uma vez. Resolveu brigar pela oportunidade porque o treinador português havia prometido que ele seria escalado mais vezes.

Durante a pré-temporada, chamou atenção com um gol de falta contra o Liverpool.

Foi recompensado com convocação para a seleção brasileira antes dos amistosos contra Estados Unidos e El Salvador, neste mês. 

Não entrou na lista para os confrontos com Arábia Saudita e Argentina, em outubro. Mas Tite o avisou para ter paciência e que o está observando o tempo inteiro.

O meia aceitou com tranquilidade, algo que nem sempre aconteceu. Antes impaciente, querendo estar o tempo inteiro em campo, entendeu que necessita esperar a sua hora.

“Tite disse que me analisa desde quando eu estava no Valencia. Ele sabe que jogo em diferentes posições, mas no [Manchester] United tenho atuado como volante. É natural não estar sempre na lista. A seleção passa por um processo de transição e muita gente vai receber oportunidades”, afirmou.

Não é situação diferente da que vive na Inglaterra. A equipe de Mourinho vive fase de turbulência e isso pode fazer com que Andreas receba mais oportunidades. Será cobrado mais também. O Manchester United não ganha o título inglês desde 2013. É o maior jejum do clube desde 1992, quando passou 26 anos em branco.

“Antes eu ficava decepcionado, queria jogar sempre, me irritava. Acho que tem algo a ver com a idade. É difícil ter paciência. Foi algo que aprendi”, completa.

Se tivesse escolhido a Bélgica, seria possível imaginá-lo brigando por uma vaga na lista dos 23 convocados para a Copa do Mundo da Rússia. Poderia ter feito parte do elenco que eliminou o Brasil e terminou na terceira colocação

Ele representou a Bélgica nas categorias de base, mas no momento da convocação para o Mundial sub-20, na Nova Zelândia, em 2015, decidiu atuar pelo Brasil.

Andreas fez um gol na final, mas a seleção perdeu para a Sérvia por 2 a 1.

O meia confessa saber que seria mais fácil e rápido se estabelecer na seleção belga do que na brasileira. Mas isso não fez grande diferença no momento de decidir. 

É com os colegas de elenco no Manchester United que ele reforça mais um traço da brasilidade. Depois de declarar ser torcedor do Santos, recebeu pelo correio uma camisa do clube, enviada pela diretoria. Afirma estar sempre a usando e já foi para concentrações do clube antes das partidas com ela. Está longe de ser algo comum. 

Torcer para o Santos é mais uma herança de família. No Paraná, estado em que passa as férias, está a maior concentração de santistas fora de São Paulo.

Os outros jogadores no elenco inglês disseram que ele não pode ser tão torcedor assim, já que é profissional do futebol.  É comum trocar de camisa durante a carreira. 

No caso de Andreas, pode ser normal mudar para trabalhar. Mas não para torcer.

“Os caras ficam me zoando, falam que não pode ser assim. Às vezes estou na concentração, chego em casa, coloco a camisa. Foi um bonito gesto me mandarem”, finaliza. 

Serve para o seu propósito de mostrar que pode ter nascido na Bélgica e morar em Manchester. Mas é brasileiro.

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