Contra All Blacks Maori, Brasil tem seu maior contato com a elite do rúgbi

Seleção brasileira encara time da Nova Zelândia, país que ajuda a formar seus atletas

All Blacks Maori faz a famosa haka durante jogo em Chicago - Jonathan Daniel/Getty Images/AFP
Marcelo Laguna
São Paulo

O rúgbi do Brasil terá neste sábado (10) um evento considerado histórico pelos representantes do esporte no país: um jogo entre a seleção brasileira e o All Blacks Maori, da Nova Zelândia, país que é uma das potências da modalidade e atual campeão da Copa do Mundo.

O All Blacks Maori é uma equipe que realiza exibições pelo mundo, tendo em campo somente atletas de origem maori, povo nativo da Nova Zelândia.

Apesar de não ser a seleção principal neozelandesa, o time é apoiado pela federação do país e, claro, faz a famosa haka (espécie de dança típica dos maoris que também tem o objetivo de intimidar o adversário).

O jogo será realizado no estádio do Morumbi, às 19h. Cerca de 25 mil ingressos já foram vendidos (ainda é possível comprar no site do evento), mas são esperadas cerca de 30 mil pessoas neste sábado (10), contando também os convidados. Será o recorde de público em uma partida de rúgbi no Brasil.

Além de ter a oportunidade rara de encarar uma das escolas mais fortes do rúgbi mundial, a seleção poderá testar o resultado de uma parceria entre os dois países e que vem ajudando na formação de jovens talentos brasileiros.

Desde 2013, a CBRu (Confederação Brasileira de Rugby) e a Nova Zelândia vêm promovendo um intercâmbio que ajuda no desenvolvimento do rúgbi brasileiro.

Um convênio em parceria com o empresário brasileiro Michel Etlin e o Crusaders, dono de oito títulos do Super Rugby --considerado o campeonato profissional mais forte do mundo--, fornece duas bolsas de estágio anuais para jovens talentos do Brasil, de 17 e 18 anos, treinarem e estudarem na Nova Zelândia por seis meses.

O projeto começou em 2013, e 12 jogadores do Brasil já foram contemplados. Um dos integrantes da seleção brasileira que enfrentará o All Blacks participou do intercâmbio. Cléber Dias, 22, que atua na posição de segunda linha, será um dos escalados para o confronto na noite deste sábado, no Morumbi.

Ele recebeu a bolsa integral no segundo ano do convênio.

“É um projeto que, além do desenvolvimento técnico, visa formar pessoas. A maioria dos meninos escolhidos têm origem muito humilde, e além da oportunidade de jogar ao lado de alguns dos melhores do mundo, vão para lá aprender inglês, adquirem uma maturidade e experiência de vida muito grandes”, avalia Agustin Danza, CEO da CBRu.

O processo para conseguir a bolsa não é simples. Além de ter um determinado nível técnico, o jogador precisa enviar cartas de recomendação de treinadores, colegas de time e também necessita fazer uma carta de próprio punho, explicando porque deseja fazer o intercâmbio e qual o significado do rúgbi em sua vida.

Um grupo de avaliadores analisa todas as candidaturas e escolhe dois ganhadores. As bolsas são integrais, e os jovens são hospedados em casas de família na pequena cidade de Christchurch, na província de Canterbury, na ilha sul da Nova Zelândia, com cerca de 300 mil habitantes.

Neste ano, os escolhidos para participar do intercâmbio foram Rafael Henrique Teixeira, 19, e Leonardo Silva, 18, ambos do São José Rugby, um dos principais clubes do Brasil.

“Acho que a coisa que mais me impressionou lá foi a cultura que eles têm de rúgbi. Em qualquer parque que você vá, tem gente jogando rúgbi. Você liga a televisão e vê um comercial de carros com um jogador de rúgbi da Nova Zelândia. As lanchonetes têm sanduíches com temas ligados ao rúgbi ou a algum time. O esporte está presente na vida de todos lá”, conta Rafael Teixeira.

A rotina no intercâmbio faz com que o jogador tenha uma verdadeira imersão na escola neozelandesa do rúgbi. Pela manhã, aulas de inglês e outras disciplinas na escola. Depois, entre 11h e 16h, treinos intensos no campo do Crusaders. Uma pausa para descanso de duas horas e, no período da noite, entre 18 e 20h, trabalho de musculação, de segunda à sexta.

Aos sábados, é hora de colocar em prática o que treinaram na semana, participando de jogos em vários torneios locais. “A cidade tem uma liga com 20 times. Aqui, eu jogo o Paulista juvenil e, quando a fase está boa, temos oito equipes, no máximo”, diz Teixeira.

Rafael Teixeira em ação em um dos treinos do Crusaders, equipe de rúgbi da Nova Zelândia, durante o estágio que fez neste ano - Arquivo pessoal

Embora a rotina de treinamento seja semelhante nos dois países, o atleta do São José entende que os brasileiros que participam desse convênio voltam com uma outra visão.

“Eu voltei com uma análise mais inteligente do jogo. A Nova Zelândia tem uma escola muito inteligente de rúgbi, não tem um estilo tão frontal, como é o nosso, por exemplo. Eles buscam jogar com mais velocidade”, afirma Teixeira.

A CBRu também vê um ganho técnico nesses seis meses em que os jogadores ficam na Nova Zelândia. “Sempre há uma evolução, pois eles atuam com jogadores de altíssimo nível. Além disso, a confederação recebe relatórios mensais do Crusaders, sobre a performance técnica, as áreas críticas e o comportamento na escola e em casa”, afirma Danza.

Sem ilusões quanto ao resultado do jogo deste sábado, os brasileiros aguardam a derrota, mas sabem que poderão extrair lições para o futuro.

“É sempre importante jogar contra seleções mais fortes do que a nossa, mesmo perdendo. Tudo é aprendizado. E a evolução do rúgbi brasileiro desde que eu comecei a jogar, em 2012, é impressionante. Já conseguimos vencer Estados Unidos e Canadá, coisa que era impossível anos atrás”, diz Rafael Teixeira.

All Blacks Maori, da Nova Zelândia, durante treino em São Paulo - João Neto/Fotojump


 

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