Ronda Rousey, 31, passou sete horas sentada dentro de um ônibus. Era quase cárcere privado. Ela não podia sair e nem queria, para dizer a verdade. Fazia parte do show. Foi naquela noite de janeiro que ela foi apresentada como nova contratação da WWE (World Wrestling Federation), a maior empresa do mundo de luta-livre.
No Brasil, o show ainda é chamado de telecatch, esporte de entretenimento em que as lutas são coreografadas, e os resultados, combinados.
Ficar trancada no ônibus fazia parte do esquema para que sua entrada no final do Royal Rumble, evento em pay-per-view feito pela companhia, fosse uma surpresa e tivesse o maior impacto possível.
Nove meses depois, Ronda Rousey é um dos maiores nomes do elenco da WWE.
Do mesmo jeito que havia sido no UFC (Ultimate Fighting Championship) de 2011 a 2016. Mas o UFC era uma luta real, não marmelada.
O que levaria uma das maiores atletas da história do MMA a abandonar o esporte para ir à WWE?
"Quando eu era criança, a luta livre era algo grande. Eu tinha obsessão por Hulk Hogan e, mesmo depois que cresci um pouco, achava que ele era o maior e mais durão sujeito do planeta. É tudo diferente e estou ainda me adaptando", explica, citando um dos lutadores mais famosos da história do wrestling, em declarações enviadas pela assessoria de imprensa da WWE.
Há outra explicação para a troca. Ronda Rousey abraçou a chance de se tornar ainda mais famosa e rica do que era nos tempos de UFC.
Porque a WWE não para de crescer e é uma máquina de fazer dinheiro.
O contrato dela com a WWE, que não teve o tempo de duração revelado, é lucrativo. Mais do que o acordo com o UFC.
O valor fixo é US$ 1,5 milhão por ano (R$ 5,6 milhões), mas não inclui a porcentagem no faturamento com produtos licenciados e participação em outros empreendimentos do conglomerado, como produções da WWE Filmes ou comerciais para a Tap, empresa de material esportivo da qual a companhia de luta livre detém 50% das ações.
O potencial é para receber bem mais. O maior salário da WWE é de John Cena, lutador que fatura US$ 10 milhões (R$ 37,5 milhões) por ano.
Pelo seu valor de mercado e pelo que pode render, a adaptação de Ronda foi acelerada para que ela logo se tornasse "campeã" da categoria feminina.
Quando venceu o título, ela chorou no ringue. "Foram lágrimas de verdade. Toda a emoção no meu rosto foi real. A maior mudança foi ter de confiar em outra pessoa e trabalhar com ela para criar algo grande, enquanto antes eu trabalhava sozinha para criar algo grande. Foi um alívio não estar sozinha", diz, sobre o trabalho de coreografia da luta contra a adversária.
Ronda não foi a primeira a deixar um esporte profissional de competição e ir para a WWE. O maior nome da história da empresa, The Rock, hoje ator, foi jogador de futebol americano na universidade. Um dos principais nomes do cast da World Wrestling Entertainent hoje em dia é Brock Lesnar (com salário de US$ 6,5 milhões por ano), outro ex-campeão do UFC.
A diferença é que Ronda Rousey entrou na companhia no que deveria ser o auge da carreira como lutadora. Questionada algumas vezes sobre um possível retorno ao UFC, ela nunca disse sim ou não.
Ronda não é também a única medalhista olímpica na WWE (ela foi bronze na categoria 70 kg do judô em Pequim-2008). Kurt Angle ganhou o ouro na categoria até 100 kg da luta olímpica em Atlanta-1996.
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