Ex-chefão da F-1, Ecclestone elogia Bolsonaro e o compara a Vladimir Putin

Dirigente diz querer investir no país e que novo presidente pode 'fazer acontecer'

Gisele Vitória
São Paulo

A salinha de Bernie Ecclestone, 88, no autódromo de Interlagos durante o no GP Brasil de F-1 não tem mais o seu nome na porta. Também foi reduzida no tamanho. Mas a placa na entrada era clara e simbólica. Permanece a sala “número 1”. Para encontrá-lo no domingo (11) em Interlagos, bastava ir até lá, no final do corredor dos boxes.

Após a Liberty Media assumir o controle da maior categoria do automobilismo mundial, Ecclestone foi substituído como chefão da F-1 pelo americano Chase Carey, 64, mas o histórico CEO britânico ainda é reverenciado no mundo do automobilismo.

Defensor do presidente russo Vladmir Putin e apoiador do “Brexit”, Ecclestone falou à Folha sobre sua percepção quanto à onda conservadora que atingiu o Brasil nas eleições de outubro, elogiou o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) —no qual vê semelhanças ao estilo de Putin— e mostrou esperança quanto ao futuro do país.

“Eu quero investir mais no Brasil. Eu quero ver se há algumas companhias brasileiras para vender”, afirmou o britânico, casado com a advogada brasileira Fabiana Ecclestone e dono de uma fazenda de café em Amparo (SP), onde descansam duas vezes por ano e onde Fabiana produz o café gourmet Celebrity Coffee, vendido pela internet e distribuído nos paddocks dos GPs de F-1.

Bernie Ecclestone, ex-chefão da F-1, durante entrevista no GP Brasil de F-1 de 2018, no autódromo de Interlagos
Bernie Ecclestone, ex-chefão da F-1, durante entrevista no GP Brasil de F-1 de 2018, no autódromo de Interlagos - Gisele Vitória/Folhapress

No ano passado, Ecclestone chegou a ser apontado pelo ex-prefeito e governador eleito de São Paulo João Doria como um dos possíveis interessados em participar do leilão de privatização do autódromo de Interlagos. O dirigente, porém, desconversa sobre que tipo de investimento poderia fazer no país.

“Não tenho nenhuma novidade. E se tivesse não diria a você e nem a ninguém, mas estou bastante ocupado.”

 

O senhor disse no ano passado que a F-1 era um restaurante estrelado que virou um fast-food desde que a Liberty Media comprou a FOM [Formula One Management] por US$ 8 bilhões [cerca de R$ 26 bilhões]. Como o avalia a F-1 um ano após sua saída do comando? É o que você está vendo. É a mesma coisa. Eles estão tentando encontrar o melhor caminho. Só que fazem as coisas de uma maneira diferente, mas talvez funcione. As coisas funcionam na América de uma maneira que não funcionam em nenhum outro lugar do mundo.

Há futuro para o GP Brasil? Nós não sabemos. Não tenho ideia. Depende das perspectivas comerciais [na renovação do contrato em 2020]. 

Desde 1970, esta é a primeira temporada em que não há pilotos brasileiros na F-1... Eu não sei o que vai acontecer. Nós precisamos encontrá-los.

Há novas promessas como Sérgio Sette Câmara... Vamos ver. Os nomes ainda não são nada, mas temos que esperar.

O Brasil teve tantos grandes pilotos de F-1. O que aconteceu? Os pilotos brasileiros costumavam ter mais suporte e apoio. A falta de suporte é o problema hoje. 

Lewis Hamilton será o melhor piloto da história? Ainda não é. Nós temos que esperar e ver. Ele é o número 1 do momento, mas não é o melhor que já existiu. Já houve muitos outros bons pilotos.

O que falta para ele ser o melhor piloto de todos os tempos? Ele precisa fazer melhor do que Senna. Senna é uma boa marca para perseguir. Ele foi o melhor.

O senhor arrematou em um leilão a McLaren com a qual Ayrton Senna venceu o GP de Mônaco de 1993. Por que a comprou? Sim. Eu comprei para dar para Sebastian Vettel. Ele me pediu para comprar. O Vettel agora é o dono do carro.

O Brasil acaba de eleger um novo presidente. Como o senhor avalia Jair Bolsonaro? Acredito que ele fará o que é necessário. Ele trará o Brasil de volta ao mapa. O Brasil é um grande país. Todo mundo acha que o Brasil tem um bom futuro, mas o futuro não vem. Talvez ele consiga fazer este futuro acontecer mais cedo. É certo que ele vai precisar fazer o que é necessário.

 

O que exatamente o senhor considera necessário fazer? Ele tem ideias e não tem como voltar atrás. Ele é um político, mas eu não acho que isso é meramente política. Acho que ele vai fazer o que é necessário fazer.

O senhor já disse que o Brasil precisa de alguém como Vladimir Putin. Bolsonaro seria o Putin que o Brasil precisa? Exatamente, o Brasil precisa de um Putin. Nós precisamos esperar para ver. 

O Brasil se mantém polarizado. A maioria elegeu Bolsonaro, mas boa parte da população expressa medo e preocupação. Na América aconteceu a mesma coisa. Bolsonaro não tem que ser influenciado por esse medo. Ele tem que gerir o país. E ele tem que fazer o que ele pensa. É por isso que o Putin é tão bom. Ele toma as decisões e as realiza. Bolsonaro pode trazer isso para o Brasil e fazer acontecer.

Qual é a sua impressão sobre o ódio anti-PT e anti-Lula que fortaleceu o voto em Bolsonaro? Eu não acho que as pessoas no Brasil odeiam o Lula. Acho que as pessoas sabem que ele fez coisas boas para o país. Falando de uma maneira geral, o que ele fez foi bom para muitas pessoas.

Como o senhor avalia a onda conservadora no país? Isso é bom. É importante fazer com que a população entenda: eles são brasileiros e o Brasil é deles. E que eles têm de trabalhar pelo Brasil e não somente para eles mesmos. Os brasileiros têm que trabalhar para que o Brasil se torne maior. Se isso acontecer todos se beneficiarão.

O senhor já disse que, no exterior, o Brasil não é levado a sério. Isso se mantém? Não é que as pessoas não considerem o Brasil um país sério. Essa sensação pode existir, mas não é que ela seja de verdade. O Brasil pode ter o respeito do resto do mundo. O problema é que as pessoas no Brasil não se juntam e não trabalham pelo país. No México, as pessoas estão se juntando e trabalhando pelo país. Essa impressão sobre o Brasil pode mudar. Bolsonaro precisa ter o povo acreditando nele, acreditando no que ele pode fazer e no que ele já está fazendo.

O senhor o conhece? Não. Nunca o encontrei.

O que o senhor sabe sobre as ideias dele? Eu acho que ele é uma pessoa forte e vai fazer o que acha que é certo. 

E sobre as declarações polêmicas sobre gays e sobre mulheres? Acho que ele teve experiências ruins com o que ele viu acontecer com pessoas gays. Acho que, nesse caso, ele não deve ficar preocupado. Não há o que se preocupar. Os brasileiros não devem ter medo.

O senhor acredita que uma onda homofóbica e machista possa crescer no Brasil? As pessoas no Brasil estão sempre procurando reclamar de alguma coisa. É fácil reclamar de alguma coisa. Os grupos minoritários estão sempre com problemas. Isso aos poucos vai ser esquecido. Na minha percepção, as mulheres, gradualmente, estão assumindo cargos de confiança. É importante fazer com que essas pessoas o apoiem para que Bolsonaro possa fazer as coisas.

Como o senhor avalia o futuro do país? Eu quero investir mais no Brasil. Eu quero ver se há algumas companhias brasileiras para vender.

O senhor pretende viver no Brasil? Quero passar mais tempo aqui. 

Algum novo negócio a ser anunciado? Eu não tenho nenhuma novidade. E se tivesse não diria a você e nem a ninguém, mas estou bastante ocupado.

 
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