Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Filosofia de Bolsonaro pode tirar futebol das mesmas mãos, diz Petraglia

Dirigente do Atlético-PR critica Globo e quer formar liga independente da CBF

Alberto Nogueira Diego Garcia
São Paulo

Apoiador de Jair Bolsonaro (PSL), o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR e principal força política no clube, Mário Celso Petraglia, 74, acredita que o presidente da República eleito pode ajudar a tirar o futebol brasileiro das “mãos dos mesmos de sempre” com sua filosofia de combate à corrupção.

Um dos poucos dirigentes com ferrenha oposição à CBF, Petraglia afirma que o caminho para renovar a administração do futebol nacional passa pela criação de uma liga de clubes, que substituiria a confederação na organização do Campeonato Brasileiro.

“É a independência. A CBF cuidaria só da seleção brasileira, e os clubes cuidam da sua vida”, diz à Folha.
O dirigente tem-se notabilizado também por suas críticas à Rede Globo e à maneira como a emissora negocia seus contratos para transmissão de campeonatos no Brasil.

Mário Celso Petraglia , presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR
Mário Celso Petraglia , presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR - Geraldo Bubniak - 29.jun.18/AGB/Folhapress

Acordado com o Grupo Turner, dono do canal Esporte Interativo, para transmissão em TV fechada do Brasileiro a partir de 2019, o clube diz não estar em negociação para exibir seus jogos em TV aberta por considerar os valores baixos.

O dirigente admite que nenhum dos jogos da equipe no Paranaense deve ser transmitido, já que o clube não chegou a acordo com a Globo.

“É um absurdo. São R$ 600 mil pelo campeonato inteiro, enquanto tem time de quinto escalão do Campeonato Carioca e do Paulista ganhando cinco, seis vezes esse valor”, afirma Petraglia.

Fernando Manuel Pinto, diretor de direitos esportivos da emissora, diz que comparar verbas de torneios diferentes faz pouco sentido. “Quanto mais estados e mais pessoas ‘consumirem’ o campeonato, mais valioso ele será.” (leia a íntegra do posicionamento da emissora no fim da entrevista).

Durante a disputa eleitoral, Petraglia foi acusado de utilizar o clube para promover uma campanha pró-Bolsonaro. Nas partidas contra América-MG e Botafogo, válidas pela 28ª e 31ª rodadas —realizadas um dia antes do primeiro e do segundo turno da eleição presidencial—, os jogadores do clube vestiram camisetas amarelas, cor associada ao então candidato pesselista. Petraglia nega conotação político-partidária da ação e qualificou o ato como patriótico.

 

Como estão as negociações com a Globo pelos direitos do Campeonato Paranaense do ano que vem? Onze clubes assinaram [contrato] para a temporada 2018 e 2019 do Paranaense [com a Globo]. O Atlético-PR é o único que está fora. Não temos nenhuma negociação em andamento.

Como fica então a transmissão dos jogos do Atlético-PR? Não vai ter. Nem no Facebook. É culpa dessa lei esdrúxula e absurda que existe, na qual os dois clubes precisam estar de acordo com a transmissão, mas a negociação é em pacote, com valor fechado, apesar do direito de transmissão ser individual. Contraria o princípio da liberdade de mercado, da livre concorrência.

Os valores oferecidos não agradam? É um absurdo. São R$ 600 mil pelo campeonato inteiro, enquanto tem time de quinto escalão do Campeonato Carioca e do Paulista ganhando cinco, seis vezes esse valor.

Não desagrada aos seus patrocinadores ter menor visibilidade? Não. Nossos patrocinadores já sabiam que não haveria exposição nossa no Estadual. Temos compromisso com eles nos campeonatos nacionais e internacionais.

O UOL noticiou que há um movimento liderado pelo Inter para romper com o Esporte Interativo. Eles queriam, inclusive, falar com o Atlético-PR e outros clubes que têm acordo com o canal... Desconheço qualquer atitude do Inter. Não temos nenhum interesse de sentarmos para conversar com eles.

O acordo com o Esporte Interativo para o Brasileiro a partir de 2019 está mantido? Está mantido. Não teve nenhum problema. Para a TV fechada está mantido de 2019 a 2024.

Há alguma negociação pelos direitos de TV aberta em andamento? Não, porque a Globo impõe as condições do contrato. Não há negociação. Ou você assina [o que eles querem] ou assina. Não temos interesse, não nas condições absurdas que apresentaram [para os direitos] a partir de 2019, a injustiça da divisão dos valores entre os clubes. Principalmente no que se refere ao pay-per-view. [Fernando Manuel Pinto diz que os critérios da emissora são transparentes e baseados em meritocracia esportiva e comercial.]

Sobre a CBF, Como será a sua relação com Rogério Caboclo a partir de abril de 2019, quando ele assumir? Temos uma posição clara dos nossos interesses. A relação será a mesma, pois é uma continuidade de gestão. Não mudou nada lá. Eles anteciparam a eleição em um ano e mudaram o peso [do voto dos clubes e das federações] para não correr risco [de perder a eleição] e elegeram a continuidade. É o mesmo establishment, o mesmo status quo do futebol brasileiro. A concentração do poder nos mesmos que cuidam do futebol brasileiro há 50 anos.

Qual seria a solução para mudar isso? A criação da liga dos clubes. É a independência. A CBF cuidaria só da seleção brasileira, e os clubes cuidam da sua vida.

O senhor pretende convencer os clubes a criar uma liga? Com certeza. Governo novo, vida nova. Limpeza da corrupção, independência, moralidade, autonomia, liberalismo. Nós temos que desenvolver o futebol como produto, como negócio, e botá-lo no nível que merecemos, entre os principais do mundo.

O senhor apoiou a campanha do Jair Bolsonaro à Presidência. Acredita que ele possa ajudar de alguma forma? Com certeza, apoiei. O Atlético-PR é apolítico, mas o Mário Celso Petraglia apoiou. Sou apoiador de um novo modelo para o país, que é a independência nossa da esquerda, que estava há 24 anos no poder e só destruiu o Brasil. Eu não diria que ele poderia ajudar especificamente contra A ou B, mas sim de forma filosófica, com a política de acabar com a corrupção em todos os segmentos. É isso que nós buscamos, inclusive no futebol, que é um patrimônio cultural do povo brasileiro e não pode estar nas mãos dos mesmos de sempre e ser administrado da forma que é por tantas décadas.

A entrada em campo com a camisa amarela [na partida contra o Botafogo], que estava proibida, foi uma forma de apoiar o Bolsonaro? Não, aquilo foi uma demonstração de patriotismo. Esse é o nosso lema. Não estava proibida. Não afirme coisas que não são verdade. Você está afirmando na sua premissa. Foi uma camisa desenvolvida pela Umbro [para a Copa] em homenagem à Espanha, e nós a usamos. [Em nota divulgada em abril no seu site oficial, o Atlético-PR afirmou que o desenho da camisa amarela “não foi aprovado” e que o clube “não utilizará e nem comercializará a camisa”.]

Leia íntegra da nota da Rede Globo

"Respeito o ponto de vista e o direito legítimo de cada clube decidir como dispor de seus ativos. Acredito, no entanto, que essa comparação clube a clube, de regiões diferentes, possa fazer pouco sentido ao comparar verbas, estados diferentes. O valor comercial de um campeonato é orientado pelo mercado a que ele se destina como um todo – e não pelo preço clube a clube. Costumo dizer que o bolo não deriva das somas das fatias, são as fatias individuais que decorrem do tamanho do bolo. Entre os pontos que interferem no dimensionamento de cada estadual estão a abrangência territorial e populacional que traz retorno para determinada competição. Ou seja, quanto mais estados e mais pessoas ‘consumirem’ o campeonato, mais valioso ele será. Da mesma forma, o engajamento dos clubes na competição para seu fortalecimento coletivo de forma consistente ao longo do tempo (ou ausência disso) influência, positiva ou negativamente, sua valorização. 

Durante a renovação dos contratos da Série A para 2019 em diante nós nos propusemos a desenvolver um Novo Modelo de contratação e distribuição dos recursos, baseado em critérios de igualmente de meritocracia esportiva e comercial. Em tal modelo, cujo detalhamento contou com concordância e colaboração dos clubes desde que iniciamos esse processo no início de 2016, as verbas estão alocadas em fundos (TV Aberta, TV Fechada e PPV, todos com componente digital acompanhando) dos quais os clubes atuarão como cotistas, rateando verbas de acordo com critérios pré-estabelecidos e transparentes. O Novo Modelo 2019-24 da Série A é uma grande evolução, que certamente encaminhará outros em parceria com os clubes."

​Fernando Manuel Pinto, diretor de direitos esportivos da unidade de Esporte do Grupo Globo.

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