Uma associação australiana de basquete que organiza torneios para adolescentes da comunidade do Sudão do Sul radicada no país informou que atitudes xenófobas a forçaram a cancelar um torneio semestral que aconteceria em dezembro.
A South Sudanese Australian National Basketball Association serve como formadora de atletas, alguns dos quais posteriormente jogam por universidades nos Estados Unidos, e em alguns casos chegaram à NBA. A organização anunciou em comunicado postado terça-feira (27) no Facebook que a cobertura noticiosa exagerada sobre a violência entre gangues havia causado dificuldade para que ela obtivesse ginásios dispostos a receber o torneio deste ano.
"Os administradores dos ginásios estão com medo de sediar o nosso evento por causa das histórias sobre gangues africanas que veem nos noticiários", o comunicado afirma.
Nos últimos anos, incidentes isolados de violência entre jovens oriundos do Sudão do Sul, em Melbourne, vêm recebendo forte atenção da mídia, o que alguns críticos dizem ter alimentado um pânico quanto a supostas gangues africanas. Embora tenham acontecido incidentes criminais envolvendo jovens com origens no Sudão do Sul, a maioria dos crimes no Estado de Victoria são cometidos por pessoas nascidas na Austrália, de acordo com dados do governo.
Mas para a associação de basquete –e a comunidade do Sudão do Sul– o estrago está feito. A associação disse que a cobertura noticiosa extensa e negativa sobre os jovens sudaneses havia dificultado a obtenção de ginásios dispostos a sediar seu torneio de verão. E aqueles que haviam considerado receber o evento impuseram "barreiras pouco realistas", entre as quais restrições quanto ao horário das partidas e limitações ao número de espectadores, e isso torna inviável realizar o torneio.
Requisitos como esses raramente são impostos a outros eventos esportivos, disse Karen Pearce, gerente de estratégia e inclusão da Basketball Victoria, a principal organização de basquete no estado.
Pearce afirmou que embora existisse a possibilidade de que as restrições não tenham base em atitudes racistas, o contrário também poderia ser o caso, "infelizmente".
"Eu odiaria imaginar que é esse o motivo", ela acrescentou, "porque o que estamos realizando é um torneio de basquete para um grupo de pessoas que adoram o esporte".
A South Sudanese Australian National Basketball Association realiza torneios duas vezes por ano –o National Classic em julho e o Summer Slam em dezembro–, e segundo ela os eventos atraem até 500 atletas e mil espectadores.
Nos últimos anos, os torneios vinham sendo realizados no Eagle Stadium, em Wyndham, um subúrbio a sudoeste de Melbourne. Mas este ano o ginásio se recusou a recebê-los.
"Eles disseram que este ano não poderiam realizar o torneio, porque o ginásio tinha preocupações", disse Manny Berberi, o diretor da associação de basquete. Berberi afirmou que o ginásio tinha aceitado receber o torneio, inicialmente, mas que a decisão posteriormente foi bloqueada pelo legislativo local.
Em declaração, o conselho de Wyndham, que supervisiona o ginásio, disse que havia decidido não realizar o torneio por "motivos de capacidade".
Os ativistas que trabalham em favor da comunidade do Sudão do Sul dizem que a impossibilidade de encontrar um anfitrião para o torneio era um golpe.
"Não existem muitos eventos voltados à comunidade do Sudão do Sul na Austrália", disse Nyadol Nyuon, advogada e ativista comunitária nascida no Sudão do Sul. "Isso equivale a negar a toda a comunidade uma oportunidade de celebrar", ela disse.
Berberi afirmou que não queria "invocar racismo cedo demais, porque por enquanto ainda estamos averiguando a situação". Mas ele acrescentou que "existe a possibilidade de que seja uma questão de medo".
Ele e Pearce disseram ter a esperança de encontrar um ginásio que aceite receber o torneio para que este possa ser retomado no ano que vem.
Berberi afirmou que embora alguns jovens do Sudão do Sul possam ser problemáticos, o basquete tinha o potencial de ser "parte importante da solução".
Ele acrescentou que "em última análise, a garotada só quer jogar basquete".
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