Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Treinadores jovens não resistem a má fase e veteranos retornam

Com mudanças, média de idade dos técnicos no Brasileiro aumentou em quase 3,5 anos

Felipão gesticula para orientar jogadores do Palmeiras durante jogo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro
Felipão gesticula para orientar jogadores do Palmeiras durante jogo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro - Paulo Whitaker/Reuters
Bruno Rodrigues Luiz Cosenzo
São Paulo

Com 25 trocas de técnicos até agora, o Campeonato Brasileiro, que começou com a média de idade mais baixa entre os treinadores nesta década, mostra que a aposta por novatos no banco de reservas foi uma iniciativa apenas efêmera.

Sete meses após o início da competição, os clubes atenderam à pressão de torcedores por profissionais mais experientes, que chegam com a expectativa de mexer com o emocional dos atletas para tentar salvar a temporada.

Com as mudanças, a média de idade dos treinadores aumentou em quase 3,5 anos. De 48,25 na primeira rodada para 51,6 na 32ª, que começa neste sábado (3). O número é impulsionado pela chegada de alguns velhos conhecidos do mercado, entre eles quatro nomes com mais de 60 anos.

O último a aderir à prática foi o Atlético-MG, que dispensou Thiago Larghi, 38, segundo mais jovem no início do torneio (atrás apenas de Maurício Barbieri, ex-Flamengo), e contratou Levir Culpi, 65, que dirige o time pela quinta vez.

“Entendemos que a troca era necessária porque acreditávamos que era o momento de um sprint emocional, já que o time tinha dado uma estagnada. Procuramos um treinador mais experiente e que mexesse mais com o emocional. Ele [Levir] é experiente para esses momentos importantes, em que o emocional é até mais válido do que a capacitação técnica e tática”, disse à Folha Alexandre Gallo, que exercia o cargo de diretor de futebol do clube até a última terça-feira (30), quando foi demitido.

A estratégia do clube mineiro, porém, ainda não vingou. O novo treinador coleciona duas derrotas pelo time.

Além de Larghi, Maurício Barbieri (37), Jair Ventura (39), Roger Machado (43) e Fernando Diniz (44) foram outros treinadores da turma dos mais jovens demitidos durante o torneio. Dos que começaram, apenas Odair Hellmann (41), Alberto Valentim (43) e Ventura estão empregados.

Destes, Hellmann é o único que continua no mesmo clube. Ele dirige o Internacional, terceiro colocado com 58 pontos —cinco atrás do Palmeiras, líder do campeonato.

Valentim e Ventura trocaram de time. O primeiro deixou o Botafogo após receber uma proposta melhor do Pyramids, do Egito, onde se desentendeu com o dono da equipe e voltou ao Brasil para assumir o Vasco. Jair Ventura foi dispensado pelo Santos e assumiu o Corinthians.

Os resultados também estão aquém do esperado no Brasileiro. No Vasco, Valentim tem 33,3% de aproveitamento, enquanto Ventura soma 26,6% no time alvinegro.

O Santos, ex-clube de Jair Ventura, subiu de patamar após contratar um treinador experiente assim como fez na sequência o Palmeiras na saída de Roger Machado e, mais recentemente, o Flamengo após a queda de Barbieri.

Cuca (esq.), treinador do Santos, e Diego Aguirre, técnico do São Paulo, durante jogo na Vila Belmiro, pelo Brasileiro
Cuca (esq.), treinador do Santos, e Diego Aguirre, técnico do São Paulo, durante jogo na Vila Belmiro, pelo Brasileiro - Paulo Whitaker/Reuters

O alvinegro paulista, que estava na 16ª posição, pulou para sétimo lugar com 46 pontos —mesma pontuação do Atlético-MG, que hoje estaria classificado para a Libertadores—, com Cuca, que é 16 anos mais velho que o antecessor.

O salto do Palmeiras foi ainda maior. Em julho, após a saída de Roger Machado, a equipe ocupava a sétima colocação no Nacional. Tanto é que o foco do clube era a Copa do Brasil e a Libertadores.

A história, porém, mudou com a chegada de Felipão –26 anos mais velho. Ele colocou o clube na liderança do torneio. O treinador, que não trabalhava no Brasil desde 2015, ainda chegou às semifinais da Libertadores e da Copa do Brasil. 

“É porque nós temos um pouco mais de experiência, de vivência. Na dificuldade e galgando posições, em um ano ou dois eles estarão em nossos lugares. A imprensa dá um valor grande e cobra muito os jovens. Tem que dar valor, mas ir devagar para que eles deem seus passos nas equipes médias. Teremos uma safra maravilhosa. Não é questão de estudar mais ou menos, é de oportunidade de gerenciar um grupo, que não é fácil, é a pior coisa do mundo. A experiência dá isso ao técnico”, diz Felipão, que faz 70 anos no próximo dia 9.

Seu principal concorrente na busca pelo título Nacional é o Flamengo, que também trocou a juventude pela experiência no comando. Trocou Barbieri, 37, que caiu após as eliminações nas duas competições de mata-mata, por Dorival Júnior, 56.

Com 11 pontos conquistados em 15 possíveis, o time foi do quarto lugar para a vice-liderança do Nacional —quatro atrás do time paulista.

Demitido do Flamengo, Barbieri afirma que as trocas acontecem porque os diretores procuram escudos quando os resultados não aparecem.

“Os treinadores mais novos sofrem com uma desconfiança maior por parte da torcida e da imprensa. Assim, a pressão recai sobre a diretoria, não banca a permanência. Os mais experientes também sofrem com isso, mas a desculpa é que estão ultrapassados. Enquanto os mais novos são taxados de inexperientes. São duas desculpas usadas para o mesmo problema que é a questão do imediatismo do resultado”, disse o treinador.

Levir Culpi, 65, observa jogo do Atlético-MG contra o Fluminense no Rio, pelo Brasileiro
Levir Culpi, 65, observa jogo do Atlético-MG contra o Fluminense no Rio, pelo Brasileiro - Pilar Olivares

O ex-atleticano Thiago Larghi compartilha a mesma opinião. “Não vejo qualquer relação com idade. O que vejo são as trocas muito em função das decisões dos clubes, da diretoria. Os resultados conquistados por Felipão e Dorival não significam que terão a mesma validade para outros clubes”, completou o treinador. 

Já Paulo Angioni, diretor executivo de futebol do Fluminense, defende o trabalho conjunto do treinador novato com um coordenador de futebol mais experiente.

Contudo, apostou em treinadores mais conhecidos desde o início do ano. Começou com Abel Braga, 66, e agora está com Marcelo Oliveira, 63.

O desempenho até agora é modesto, está em 10º lugar. Por outro lado, está na semifinal da Copa Sul-Americana. 

“Não é da noite para o dia que você vai tirar todas as pessoas de grande maturação mercadológica e de conhecimento e excluir para colocar o jovem de uma vez só. A transição tem que ser mais leve. Se tiver uma pessoa mais antiga por trás, você protege a chegada do novo”, disse Angioni.

“Nós pensamos também num outro treinador mais jovem, não tenha dúvidas. Mas com o Marcelo seria uma transição, sem mudança exagerada no meio da competição”, completa o dirigente.

Com pensamentos diferentes, dois clubes apostam em novatos. O Atlético-PR, que ainda sonha com uma vaga na Libertadores, efetivou o auxiliar técnico Tiago Nunes, 38, no lugar de Fernando Diniz. 

O Paraná, lanterna do Brasileiro e que luta para não fazer a pior campanha da história dos pontos corridos, tem o treinador mais novo neste momento da competição.

Após iniciar o torneio com Rogério Micale, 49, que tinha apenas a seleção olímpica e o Atlético-MG em seu currículo, tem agora Dado Cavalcanti, 37. Ao contrário de equipes que buscaram profissionais experientes para tirar as últimas forças de seu elenco na competição, o discurso no Paraná é o de antecipação do planejamento para o ano que vem.

“Eu assumi o time também pensando em 2019. Meu contrato vai até o fim do ano que vem e a ideia é tentar antecipar algo pensando no próximo ano”, disse Dado, que considera o mercado de técnicos no Brasil muito inchado e não acredita que um coordenador técnico, escolhido para fazer o meio-campo entre o treinador e a diretoria, respaldaria os comandantes mais jovens. 

“Existem alguns clubes no Brasil que têm esse cargo, mas posso te garantir que ele não muda muito a vulnerabilidade do treinador”, completa.

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