Descrição de chapéu F1

Não perdi título em Interlagos, diz Felipe Massa sobre GP de 2008

Dez anos depois, piloto relembra vitória que acabou marcada por conquista de Hamilton

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Felipe Massa no pódio do GP do Brasil e 2008, faz gesto positivo com o polegar esquerdo
Felipe Massa venceu a corrida e Lewis Hamilton, da McLaren, terminou na quinta posição e ganhou o campeonato por 1 ponto de diferença. - Fernando Donasci-28.nov2008/Folhapress
Marcelo Laguna
São Paulo

Há dez anos, o Brasil experimentou pela última vez a sensação de brigar pelo título mundial de F-1. Em menos de um minuto, foi da euforia em ver o sonho concretizado à frustração.

O GP Brasil de 2008 encerrou um dos mais acirrados campeonatos da história recente da categoria. Os dois protagonistas que brigavam pelo título eram o brasileiro Felipe Massa, da Ferrari, e o ainda novato britânico Lewis Hamilton, da McLaren –​hoje pentacampeão mundial.

Hamilton tinha uma vantagem de seis pontos sobre Massa, que teve um final de semana irretocável: largou na pole position e liderou praticamente toda a corrida. Quando Hamilton caiu para a sexta posição, na volta 69, a duas do final, o brasileiro via o título cair no seu colo.

Mas a festa feita por Massa e por toda a torcida em Interlagos após ele cruzar a linha de chegada acabou em cerca de 30 segundos, quando o britânico ultrapassou o alemão Timo Glock, da Toyota, na altura da curva da Junção. Com isso, terminou a prova em quinto lugar, posição que lhe bastava para ser campeão.
Antes de participar de um evento promocional do principal patrocinador do GP Brasil, Felipe Massa conversou com a Folha. Ele relembrou o GP histórico e comentou o fato de o país não ter um piloto local na prova pela primeira vez desde 1972.

 


Neste ano completam-se dez anos da sua última vitória na F-1, quando você foi campeão mundial por alguns instantes. Foi também a última vez que um brasileiro ganhou em Interlagos. Quais as lembranças mais fortes que você tem daquele GP? Muita gente tem na memória que eu perdi o campeonato naquela prova, mas na verdade foi um final de semana perfeito para mim. Eu fiz a pole position, mas no dia da corrida caiu uma chuva muito forte que atrasou a largada. Depois foi liberado para sairmos mesmo com chuva. Eu larguei muito bem, fiz uma parada para colocar pneu de pista seca e desapareci na corrida, ninguém me alcançou, botei 13 segundos de vantagem sobre o [Fernando] Alonso, que foi o segundo. Mesmo com toda a pressão de ter que tirar seis pontos de vantagem do [Lewis] Hamilton, consegui usar toda a força da torcida a meu favor. Infelizmente, o que aconteceu no final não tinha nada a ver comigo, mas sim com o Hamilton tendo a chance de ultrapassar o Timo Glock na última curva. Aí, os seis pontos viraram cinco e ele ganhou o título.

Quando você foi avisado que o Hamilton havia passado o Glock e vencido o campeonato? Já estava na Curva do Sol, andando bem devagar, esperando para ver qual seria a mensagem que iriam me passar. Foi lá que meu engenheiro me chamou e disse “infelizmente o Hamilton chegou em quinto e foi campeão”.

Foi a maior frustração da sua carreira? Não, de forma alguma. Por eu ter vencido a corrida, o resto não dependia de mim. A vitória naquela prova me deixou menos frustrado, pois, no que dependia de mim, eu fiz 100%. E não foi ali que eu perdi aquele campeonato. Perdi aquele título em outras corridas, onde desperdicei um ponto ou mais do que um ponto, como na prova de Singapura [chegou em 13º], ou na Hungria, onde estava vencendo e quebrou o motor a duas voltas do final. Ou seja, teve muita coisa antes, não foi aquele ponto que pesou.

Como foi a disputa de título com o Hamilton? Foi muito boa, ao longo de todo o campeonato. A gente ficava se alternando na liderança da classificação e, depois do GP da França, consegui abrir uma vantagem em três corridas, depois ele me passou de novo. Foi um campeonato muito equilibrado, tanto que foi decidido apenas no último Grande Prêmio. E não teve só a disputa entre o Hamilton e eu. Até a metade do ano, tinha o Kimi [Raikkonen] e o [Robert] Kubica. Foi um campeonato disputado entre quatro pilotos. Foi também o primeiro título do Hamilton, sendo que no ano anterior ele havia perdido o campeonato por um ponto, por alguns erros deles e pelos problemas de relacionamento dele com o Fernando Alonso na McLaren.

Este será o primeiro GP Brasil sem a presença de um piloto brasileiro no grid. Qual o significado de não ter um representante do país correndo em casa? Acho que é um momento que merece muita atenção. O Brasil sempre foi um país que teve representantes na F-1, alguns de muita história na categoria, começando pelo Emerson [Fittipaldi], o Nelson Piquet, o Ayrton Senna, depois o Rubinho Barrichello e eu que foram os que correram por mais tempo, além de tantos outros. Não podemos nos esquecer do Roberto Pupo Moreno, do [Maurício] Gugelmin, do Ricardo Zonta, que correram pouco tempo, mas que fizeram parte da história do automobilismo brasileiro na F-1. Este é um momento de preocupação pelos rumos do nosso automobilismo, pelas categorias, e a necessidade de o Brasil criar pilotos que tenham talento para seguir com esta tradição e levar a nossa bandeira.

Os dirigentes do automobilismo brasileiro não se preocuparam com esta entressafra de pilotos? Não, e faz muito tempo que não só eu, mas muita gente, vem alertando para esta situação do automobilismo brasileiro. Uma hora isso iria acontecer. As cobranças são antigas. Eu mesmo montei uma categoria-escola [Fórmula Futuro], que não deu certo, até para ajudar a molecada. Montei em 2010, mas já se falava antes sobre este problema.

Você vislumbra alguma mudança neste cenário para um brasileiro retornar à categoria? A F-1 sempre foi uma categoria cara. Em alguns momentos, quando o real está bem fraco em comparação ao dólar, é muito mais caro ainda para o piloto brasileiro arrumar o dinheiro necessário para correr. Se não tivermos categorias-base e ajuda para que você possa chegar no exterior e ter a chance de ser competitivo, fica ainda mais difícil.

Como você vê o atual estágio de competitividade da F-1? Sem dúvida é sempre agradável acompanhar a F-1 e torcer para seu piloto favorito, acompanhar o desenvolvimento das equipes, a tecnologia, o glamour em geral. Lógico que quando você vê só duas equipes disputando as vitórias e o título não é legal. Ainda mais este ano, em que o campeonato foi decidido bem antes da última corrida. As pessoas querem ver mais disputas, querem ver o título sendo decidido na última prova, querem mais do que duas equipes na briga. Na verdade, esse é um problema que a F-1 tem há muito tempo. Os momentos em que tivemos a disputa até o final foram bacanas.

Esse quadro pode mudar nos próximos anos? Isso pode acontecer de 2020 para 2021, quando mudará o regulamento. É a chance de ter uma grande virada, se os chefes que comandam a categoria conseguirem tirar o poder das equipes. Eles querem tentar fazer um motor menos complexo, com um regulamento mais simples. Há também uma ideia de diminuir a carga aerodinâmica já para o ano que vem, para ver se o número de ultrapassagens aumenta. Mas o principal seria ter alguma mudança pelo lado financeiro, pois se as equipes grandes podem gastar US$ 500 milhões (R$ 1,8 bilhão) e as pequenas US$ 100 milhões (R$ 370,8 milhões), é impossível para esta equipe ter chance de disputar um título. Esse é o ponto principal para tentar equilibrar um pouco mais a categoria.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do infográfico informou incorretamente que Felipe ​Nasr chegou em 19º lugar no GP Brasil 2016. Ele chegou em 9º. A informação foi corrigida.

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