Inexperiente, Jardine assume São Paulo por trabalho na base

Técnico é elogiado por ex-colegas, mas nunca comandou equipes profissionais

João Gabriel
São Paulo

Quem acompanha as categorias de base do futebol brasileiro certamente já está acostumado a ouvir falar de André Jardine, 39, que será o comandante do São Paulo nas últimas cinco rodadas do Campeonato Brasileiro após a saída de Diego Aguirre.

 

Auxiliar permanente da comissão técnica do clube tricolor, ele tem um extenso currículo nas competições de jovens jogadores.

Natural de Porto Alegre, Jardine trocou a engenharia civil pela educação física aos 20 anos pelo sonho de ser treinador. Em 2003 foi contratado pelo Internacional e, em 10 anos, passou do sub-10 ao sub-20, antes de ser chamado para as categorias de base do Grêmio. Somou mais de 30 taças conquistadas pelos dois clubes gaúchos.

Sua história com o São Paulo começou em 2015, quando o então coordenador da base do São Paulo Júnior Chávare, que havia levado o treinador para o Grêmio, resolveu contratá-lo.

Andre Jardine dá instruções durante treino do São Paulo em março de 2018.
Andre Jardine dá instruções durante treino do São Paulo em março de 2018. - Luis Moura-9.mar.2018/WPP/Agencia Globo

"Quando vim para o São Paulo nós identificamos uma estrutura muito bem montada, qualidade de material humano, mas faltava lapidação, um trabalho específico, um técnico que trabalhasse a individualidade dentro do conjunto. Talvez seja esse o grande diferencial do Jardine", contou Chávare, hoje executivo da K2 Soccer, empresa que administra o Tubarão de Santa Catarina, à Folha.

No São Paulo, recebeu a missão de ser a linha de frente de um dos departamentos de base com maior investimento do Brasil. E os resultados não decepcionaram: levou o sub-20 do São Paulo aos títulos da Copa Ouro, Copa do Brasil, Copa Rio Grande do Sul e Copa Libertadores.

“André é uma pessoa de fino trato, culto, educado e muito ligado à família. Mostrou-se excelente companheiro de trabalho, honesto e leal”, disse Luiz Cunha, ex-diretor das categorias de base do São Paulo que trabalhou com Jardine, à Folha. Ele também exaltou os "métodos modernos" do treinador de trabalhar.​

Nos últimos anos, André teve a chance de trabalhar com grandes nomes do futebol brasileiro, como Luiz Felipe Scolari e Muricy, Ramalho. Além disso, é fã confesso de nomes como Tite, Paulo Roberto Falcão e Abel Braga.

O que falta ao treinador, porém, é experiência treinando equipes profissionais. Em sua carreira, teve apenas curtas participações como interino nos clubes em que trabalhou.

“Ele representa um projeto, do clube, de ter uma comissão permanente e ter uma política de carreira aqui dentro. A chegada de Jardine não é algo inesperado, mas que estava planejado”, disse Raí, diretor-executivo de futebol do clube, no início deste ano, após a saída de Dorival Júnior, em um dos momentos em que Jardine assumiu a equipe principal interinamente.

Na ocasião, Jardine comandou a equipe nas vitórias sobre o Red Bull Brasil por 3 a 1, no Campeonato Paulista, e sobre o CRB, por 3 a 0, pela Copa do Brasil.

Ele nunca escondeu o desejo de, um dia, assumir o posto de maneira definitiva.

“É um sonho que a gente tem, [...] as pessoas de uma forma geral devem ter sonhos. Não existe data, não me cobro e não tenho pressa também”, declarou em depoimento ao site oficial do São Paulo, em fevereiro.

"Jardine teve a oportunidade de ser interino no Grêmio e passou por esse processo no São Paulo. Ele precisa de tempo e paciência. Sabemos que no profissional são duas variáveis que muitas vezes os técnicos não se têm", complementou Chávare.

O dirigente afirma que Jardine sabe como administrar o vestiário, o que será necessário para conter as recentes tensões no elenco. A última com Nenê, que mostrou descontentamento por ter sido deixado na reserva por Aguirre.

Buscando a realização do seu sonho, Jardine fez em outubro uma viagem para o exterior, bancada pelo próprio clube, com o objetivo de acompanhar treinos e jogos de grandes equipes do futebol mundial. Um dos clubes visitados foi o Barcelona, onde o técnico se encontrou os brasileiros Arthur e Phillippe Coutinho.

Em seu perfil nas redes sociais, Jardine defende o futebol ofensivo. Compartilha trechos do livro de Guardiola, vídeos com análises táticas da seleção espanhola e de Sergio Busquets, além de entrevistas com jogadores como Xavi, volante ex-Barcelona.

O profundo conhecimento da base deve contar a favor de Jardine, já que o São Paulo passa por um momento delicado, com um elenco enxuto e com jogadores importantes já em idade avançada para o futebol, como Nenê, 37, e Diego Souza, 33.

O melhor aproveitamento dos jovens do CT de Cotia, inclusive, é um dos principais debates dentro do departamento de futebol do São Paulo nos últimos anos e foi fator determinante para o então técnico do sub-20 conquistar a vaga de auxiliar permanente da comissão técnica, em fevereiro.

"O Jardine vai ser primordial porque conhece os jovens, para melhorar a transição da base ao profissional", declarou Raí na ocasião.

Já nesta segunda-feira, o diretor-executivo voltou a se pronunciar, agora sobre a saída de Aguirre, mas aproveitou para comentar a situação do atual treinador.

Raí ressaltou que Jardine "faz parte da comissão permanente e vai continuar fazendo" independentemente dos resultados obtidos em campo e não descartou sua efetivação.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.