Norueguesa que se negou a rebolar em premiação deixou seleção por protesto

Ada Hegerberg, de apenas 23 anos, venceu premiação da France Football

Hegerberg durante a cerimônia de premiação da France Football, em Paris
Hegerberg durante a cerimônia de premiação da France Football, em Paris - Benoit Tessier/Reuters
Bruno Rodrigues
São Paulo

A tradicional premiação da Bola de Ouro, organizada pela revista France Football, coroou nesta segunda-feira (3) as grandes temporadas de Luka Modric, eleito o melhor do ano, e Kylian Mbappé, escolhido o melhor atleta sub-21. Mas o que era para ser uma noite de festa também para a norueguesa Ada Hegerberg acabou se transformando em desconforto para a jogadora.

Após receber seu prêmio de melhor da temporada, a atacante foi perguntada pelo DJ francês Martin Solveig, que apresentava a cerimônia, se ela sabia dançar o "twerk", um movimento de dança que basicamente consiste em agachamentos e mover o quadril.

Desconfortável, Hegerberg respondeu apenas "não", e imediatamente se virou para deixar o palco.

Atletas como o tenista britânico Andy Murray e a meio-campista da seleção norte-americana Lindsey Horan se posicionaram nas redes sociais em repúdio à atitude --sexista, na visão deles-- de Solveig, que depois pediu desculpas a Hegerberg. A jogadora do Lyon minimizou o ocorrido, afirmando que não ficou chateada.

"Ele veio até mim depois disso e se desculpou, mas de nenhuma forma eu vi assim. Eu ganhei a Bola de Ouro", disse a atleta.

Apesar de minimizar o caso, discussões sobre a forma como o futebol feminino é visto e conduzido são muito sensíveis à jogadora. Segundo ela, na Noruega, assim como no Brasil, também há muito que se fazer para o desenvolvimento da modalidade.

Atacante do Lyon (FRA), Ada Hegerberg foi campeã da liga francesa e da Champions League com a equipe na última temporada. Potência no futebol feminino, o clube francês chegou ao terceiro título consecutivo no torneio continental, muito graças à norueguesa, que na edição 2017/2018 anotou 15 gols, recorde da competição.

A norueguesa em ação pelo Lyon durante jogo do Campeonato Francês contra o Paris Saint-Germain
A norueguesa em ação pelo Lyon durante jogo do Campeonato Francês contra o Paris Saint-Germain - Franck Fife/AFP

Contudo, apesar do auge, a atleta não joga por sua seleção nacional desde a eliminação na Eurocopa de 2017. De acordo com Hegerberg, por frustração pela maneira como o futebol feminino tem sido trabalhado no país, que já conquistou Copa do Mundo (1995), medalha de ouro na Olimpíada (2000) e duas vezes a Eurocopa (1987 e 1993).

"Futebol é o maior esporte na Noruega para as meninas e tem sido assim há anos, mas ao mesmo tempo garotas não têm a mesma oportunidade que meninos. Nós paramos de falar sobre desenvolvimento e outros países nos ultrapassaram", disse a atacante, em entrevista ao Guardian.

No ano que vem, a Noruega disputará a Copa do Mundo que será disputada na França. Nem mesmo o fato de estar atuando no país (com contrato até 2021) faz com que ela mude de ideia em relação a um possível retorno à seleção.

"Às vezes você tem de tomar decisões duras para se manter fiel a si mesma. Eu fiz com que eles soubessem, de forma bastante clara, que o que encontrei não estava funcionando", afirmou nesta segunda, depois de receber o prêmio da France Football.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.