Com estádio de Copa e fora da Série A, Pernambuco vive maior crise recente

Principais clubes do estado, Sport, Santa Cruz e Náutico acumulam fracassos nos últimos anos

Na Arena Pernambuco, jogadores do Náutico lamentam eliminação na Série C deste ano
Na Arena Pernambuco, jogadores do Náutico lamentam eliminação na Série C deste ano - Diego Nigro - 26.ago.2018/JC Imagem
Alberto Nogueira Alexandre de Aquino Bruno Rodrigues
São Paulo

Há pouco mais de dez anos, o Sport superava o Corinthians na Ilha do Retiro e conquistava o título da Copa do Brasil, que o levou à Libertadores do ano seguinte. O ápice de uma equipe pernambucana neste século.

Em 2019, porém, com o rebaixamento do clube, o futebol do estado se encontra em situação complicada. Pela primeira vez desde 2011, a Série A do Campeonato Brasileiro não terá times pernambucanos.

Para piorar o cenário, Santa Cruz e Náutico continuarão por mais uma temporada na Série C, o que coloca em risco o uso da Arena Pernambuco.

Construído para a Copa do Mundo de 2014, o estádio, usado principalmente pelo Náutico, poderá ficar ocioso para partidas de futebol.

“O momento é ruim. É o pior do nosso futebol desde a minha assunção”, diz à Folha Evandro Carvalho, presidente da Federação Pernambucana de Futebol desde 2011.

Na edição de 2018, o Sport encarou uma série de problemas que culminaram no seu rebaixamento. A começar pelas seguidas trocas de comando. Ao longo das 38 rodadas, o time rubro-negro teve quatro treinadores: Nelsinho Baptista, Eduardo Baptista, Claudinei Oliveira e Milton Mendes.

Na campanha, foram 11 vitórias, 9 empates e 18 derrotas, com saldo negativo de 22 gols (35 marcados e 57 sofridos). 

O elenco também sofreu com salários atrasados. Os atletas não receberam os vencimentos referentes aos últimos quatro meses, conforme apurado pela reportagem.

O impacto do momento institucional já poderá ser visto na próxima eleição do clube, no dia 18 deste mês. Escolhido para ser o candidato da situação na sucessão do presidente Arnaldo de Barros, Augusto de Carreiras retirou sua candidatura na semana passada.

Com isso, concorrerão dois candidatos da oposição: Eduardo Carvalho e Milton Bivar, irmão de Luciano Bivar, ex-presidente do Sport, deputado federal e fundador do PSL (Partido Social Liberal), sigla de Jair Bolsonaro.

A reportagem tentou contato com Barros, sem sucesso.

Outro clube local em situação delicada é o Santa Cruz. Desde que disputou pela última vez a Série A, em 2016, a agremiação não conseguiu se reerguer e amargou duas quedas seguidas. Neste ano, chegou às quartas da Série C, mas perdeu para o Operário-PR.

 

“Quando o Santa Cruz subiu para a primeira divisão [em 2016], passos maiores que o permitido foram dados. Não havia um alicerce para se manter, então, quando caiu, o tombo foi grande”, afirma Luciano Sorriso, 35, ex-jogador e executivo de futebol do clube desde novembro.

“Fazemos uma projeção de retorno à Série A dentro de quatro anos. Ano que vem temos o Pernambucano, a Copa do Nordeste e a Copa do Brasil, mas nossa prioridade é a Série C, garantir o acesso para a segunda divisão”, completa.

Quem também estacionou no terceiro escalão nacional foi o Náutico. Assim como o rival, caiu nas quartas. Mas o clube alvirrubro, ao contrário dos demais, celebra o ano.

Campeão estadual, o Náutico voltará a jogar no estádio dos Aflitos no ano que vem, após cinco anos como mandante na Arena Pernambuco.

“Considero que foi um ano muito bom. Fomos campeões estaduais depois de 13 anos e voltamos para casa, um Aflitos reformado, moderno”, diz Edno Melo, presidente da equipe.

Para ele, a situação ruim do futebol pernambucano se deve às péssimas gestões dos dirigentes dos clubes e também à falta de apoio da Federação Pernambucana.

“É preciso fazer a mea-culpa e rever conceitos”, afirma.

Já a volta para os Aflitos é vista como “o resgate do orgulho alvirrubro”. O Náutico, segundo o dirigente, perdeu financeiramente e esportivamente longe de sua casa.

Ele apontou o difícil acesso à arena —ela fica em São Lourenço da Mata, a 20 km do centro do Recife— como razão para a diminuição de público nos jogos.

Sem o Náutico, o futuro da Arena Pernambuco é outra preocupação para o futebol do estado. A frequência de torcedores só vem caindo desde 2014, quando o estádio teve seu auge de média de público: 15.270 espectadores. Em 2018, foi de 6.391 torcedores.

Para a gestão do estádio, a sustentabilidade do negócio passa por intensificar a agenda de eventos e shows.

“Ainda existe o estigma no Brasil de que arena só serve para futebol. Já abri mão de um mega show por um jogo do Pernambucano numa quarta-feira. Troquei mais de R$ 1 milhão de lucro por R$ 30 mil”, diz Kleber Borges, diretor-presidente do estádio.

Outra alternativa que a arena estuda é levar os jogos do CSA, de Alagoas, que retornará à Série A depois de 31 anos, para a arena pernambucana.

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