Decisão em Madri entre River e Boca antecipa nova Libertadores

Após confusão na Argentina, final será jogada em campo neutro, assim como as dos próximos anos

Loja em Madri expõe camisetas nas cores de Boca Juniors e River Plate, com referências à final da Libertadores
Loja em Madri expõe camisetas nas cores de Boca Juniors e River Plate, com referências à final da Libertadores - Andrea Comas/Associated Press
São Paulo

​A final de Libertadores disputada em campo neutro, objeto de desejo do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, chegou com um ano de antecedência.

A copa continental será decidida em apenas uma partida a partir de 2019. Santiago, no Chile, foi escolhida. Um dos motivos para acabar com o formato de ida e volta, utilizado desde a criação do torneio, em 1960, foi tirar do clube mandante a organização de tudo relacionado ao evento, desde a venda de ingressos, dinheiro e segurança.

River Plate e Boca Juniors entram em campo no Santiago Bernabéu, em Madri, neste domingo (9) às 17h30 para definir o vencedor do troféu deste ano. Será a primeira vez que a Libertadores conhecerá o campeão fora do seu continente.

A Espanha foi selecionada após sugestão do presidente da Fifa, Gianni Infantino, de que seria melhor realizar o jogo na Europa do que no Qatar, país que fez a proposta mais vantajosa para receber a final.

O formato de partida única é uma tentativa de fazer a Libertadores se aproximar da europeia Champions League, a competição de clubes mais rentável do mundo.

“Não é questão de imitar a Uefa, mas perceber que eles estão fazendo as coisas melhor. [A final em jogo único] ajuda na questão da segurança, que passa a ser uma responsabilidade da Conmebol e não de uma associação nacional. É boa em todos os aspectos. Os patrocinadores investem mais, o jogo vai gerar muito mais recursos”, afirma Domínguez à Folha.

A primeira partida foi realizada em La Bombonera, no último dia 11, e terminou empatada em 2 a 2. Quem vencer no estádio Santiago Bernabéu será campeão. Nova igualdade levará a decisão para a prorrogação e, se for necessário, disputa de pênaltis.

O confronto de volta, marcado para 24 de novembro, no estádio Monumental de Nuñez, não aconteceu porque o ônibus que levava a delegação do Boca Juniors foi atacado por torcedores do River Plate próximo ao estádio.

Janelas foram quebradas por garrafas e pedras. O jogador mais ferido foi Pablo Pérez, que sofreu cortes no braço e teve úlcera no olho por causa dos estilhaços de vidro. 

O Boca se recusou a entrar em campo, e a final foi adiada para o dia seguinte. Por pressão dos jogadores, o presidente do clube, Daniel Angelici, também descartou voltar ao Monumental e entrou com pedido dos pontos (e o título) no tribunal disciplinar da Conmebol. A solicitação foi recusada, mas Domínguez considerou que não havia possibilidade de remarcar a final para a Argentina, o que irritou o River Plate e até o presidente do país, Mauricio Macri.

O Qatar, mesmo sem receber o jogo, quitará todos os custos. Deu as passagens Buenos Aires-Madri às duas delegações e ofereceu o dinheiro para o River reembolsar os torcedores que compraram os ingressos para a decisão que não aconteceu. Pagará US$ 7 milhões (cerca de R$ 28 milhões) a serem divididos entre os clubes e mais US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 10 milhões) para o Real Madrid.

A Qatar Airways é patrocinadora da Conmebol e do Boca. A empresa é ligada à família real do país, que receberá a Copa do Mundo de 2022 e possui excelente relacionamento com os dirigentes da confederação sul-americana.

Em Madri, a Conmebol terá a chance de testar como será realizar a final em uma partida apenas, com duas torcidas presentes. Será um protótipo do que acontecerá a partir de 2019. Os ingressos foram divididos entre os times, patrocinadores, sócios do Real Madrid e torcedores locais.

“Sabemos que 70% das finais em jogos de ida e volta são vencidas pela equipe que faz a segunda partida em casa. Quando eu entrei no futebol, há 20 anos, a América do Sul tinha mais títulos de Copa do Mundo e do Mundial de Clubes do que a Europa. Hoje a Europa é mais vencedora. Por que isso? Porque eles fazem as coisas melhor e têm mais dinheiro. Precisamos melhorar”, diz Domínguez. ​

“Precisamos gerar recursos para todos. Conmebol, federações nacionais e clubes. É uma saída para manter nossos craques mais tempo no nosso continente”, completa o dirigente, a força política por trás da mudança.

Levar a decisão para a Europa não eliminou os problemas comuns em eventos esportivos importantes na América do Sul. Sócios do Real Madrid usam o privilégio de ter acesso aos ingressos para revendê-los no mercado paralelo. Entradas de 70 euros (cerca de R$ 300) são oferecidas por até mil euros (R$ 4,2 mil).

As diversas confusões na Libertadores deste ano jogaram por terra a intenção de Domínguez de vender a imagem de que comanda uma “nova Conmebol”. A confederação nos últimos anos teve dirigentes envolvidos no escândalo de corrupção da Fifa e nos pedidos de propina nas negociações de direitos de TV, chamado de Fifagate.

O discurso do presidente ainda é o de refundar a entidade que comanda.

“Refundar a Conmebol é uma boa maneira de ver as coisas. É necessário virar a imagem da Conmebol. Não só por causa do Fifagate. A Conmebol parou no tempo. Era uma debilidade da instituição e que foi aproveitada por algumas pessoas. Era uma organização fraca. O mundo mudou, e a Conmebol, não.”

Para ele, o futebol é o mesmo em campo, mas a cultura do esporte mudou. “A Conmebol deve ter um discurso modernizador e se modernizar. Com isso, vai gerar mais dinheiro para as associações nacionais e os clubes”, finaliza.

Nem todos acreditaram. Para Juan Román Riquelme, meio-campista histórico do Boca Juniors, a final na Espanha não passará de “o amistoso mais caro da história”.

Mas a Conmebol estima que o confronto em Madri terá o recorde de audiência da Libertadores. A entidade acredita que 350 milhões de pessoas verão o jogo. No ano passado, a final entre Grêmio e Lanús (ARG) foi assistida por 60 milhões de telespectadores.

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