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Jogos da base duplicam em dez anos, e jovens têm rotina de profissionais

Atletas de Palmeiras e São Paulo atuam pelas suas categorias e também por profissional

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São Paulo | Agora

Luan Cândido, 17, é considerado uma das grandes promessas das categorias de base do Palmeiras. O lateral e ponta-esquerda atuou 52 vezes com a camisa alviverde no ano, tanto pela categoria sub-17 quanto pela sub-20. Mas a temporada ainda não acabou. Ele ainda disputará a Copa RS e, no início do ano que vem, a Copa São Paulo.

Não é uma exceção. Com aumento de competições, jogadores das categorias de base dos grandes clubes brasileiros atuam tanto ou mais do que atletas profissionais. Em dez anos, a quantidade de jogos mais que duplicou em alguns casos.

Luan fez jogos pelo sub-17 e sub-20 neste ano e pela seleção brasileira sub-20. Além disso, foi chamado diversas vezes pelo técnico do time principal, Luiz Felipe Scolari, para participar de treinos. Chegou a ser, inclusive, relacionado para partidas do Nacional, mas não jogou.

Jovem revelação do São Paulo, Antony, de 18 anos, chuta durante treino no CT da Barra Funda
Jovem revelação do São Paulo, Antony, 18 anos, durante treino no CT da Barra Funda - Leo Martins/FOLHAPRESS

“Fico muito feliz por jogar no sub-20 e mais ainda pelas oportunidades no profissional. São muitos jogos, mas é bom estar sempre jogando”, diz o atleta, na lista dos 60 jovens sub-20 mais promissores do mundo, publicada pelo jornal inglês The Guardian.

Promessa do São Paulo, o meia-atacante Antony, 18, vive uma situação semelhante. Ele, que já foi profissionalizado, atuou pelo time principal contra o Sport na última segunda-feira (26) e no dia seguinte ajudou o sub-20 a ganhar o título da Supercopa do Brasil sobre o Palmeiras. 

No próximo domingo (2), ele deve enfrentar a Chapecoense na última rodada do Brasileiro. Na temporada, fez 48 jogos até o momento. Como comparação, o atleta dos clubes da Série A do Brasileiro que mais atuou em 2018 foi o atacante Willian, que participou de 68 partidas.

“[Fazer tantos jogos] de ruim não tem nada. Há o desgaste físico, mas estamos fazendo aquilo que amamos”, diz.

Em 2007, o time sub-15 do São Paulo fez 48 jogos. Dez anos depois, o número de partidas da equipe saltou para 79. No mesmo ano, a equipe tricolor profissional atuou 64 vezes. Algo semelhante aconteceu no sub-17 e sub-20.

Esse crescimento ocorreu em razão do aumento de competições nas categorias de base, patrocinadas pelas emissoras de TV, federações estaduais e CBF (Confederação de Brasileira de Futebol), que em 2012 criou a Copa do Brasil sub-20. Antes disso , não havia competições de base organizadas pela entidade nacional.

“São seis competições de base. Em 2012, nós tivemos 57 jogos pela Copa do Brasil. No ano passado, foram 247 [na soma dos torneios]. Um acréscimo de 400%”, disse Manoel Flores, diretor de competições da confederação.

Os torneios são, na categoria sub-20, Copa do Brasil, Brasileiro, Copa do Nordeste e Supercopa —mata-mata entre o campeão do Brasileiro e da Copa do Brasil que que define o representante brasileiro na Libertadores. A entidade organiza ainda a Copa do Brasil sub-17 e o Aspirantes sub-23.

“Nós queremos dar experiência ao atleta, da viagem, do hotel, do estádio, dar volume de jogo. Isso para ele ter uma experiência mais próxima do que ele vai viver no profissional”, afirmou Flores.

O coordenador das categorias de base do Palmeiras, João Paulo Sampaio, é um entusiasta da ideia da CBF de proporcionar cada vez mais rodagem aos jovens atletas.

“Nós, gestores da base, esperamos um Campeonato Brasileiro [sub-20] com mais jogos. Assim fica mais parecido com o calendário que eles irão encontrar no profissio­nal”, argumentou Sampaio.

“Com mais competições, conseguimos dar mais minutagem [soma de tempo de partidas disputadas] ao elenco, e não somente ao time titular”, concluiu.

Já para Pedro Smania, coordenador de futebol de base do São Paulo, um estudo mais criterioso é necessário antes de colocar em prática esse aumento na quantidade de partidas disputadas pelos jovens atletas da base.

“Já existe um número ideal de jogos para as categorias sub-17 e sub-20, mas dá para pensar em algo para o sub-15”, afirmou o dirigente.

Com mais jogos, o risco de lesões aumenta. Os coordenadores dizem que, para evitar isso, é feito um rodízio no elenco e um acompanhamento minucioso dos departamento físico e médi­co.

Palmeiras e São Paulo têm, respectivamente, 43 e 37 jogadores em seu elenco sub-20.

O fisiologista Turíbio de Leite Barros, que trabalhou no São Paulo durante 25 anos, aponta alguns cuidados que devem ser tomados com os garotos em fases distintas.

“O racional seria ter em média no máximo uns 60 jogos disputados por um atleta por ano. Claro que uma frequência tamanha que você tenha 70 jogos, para um garoto abaixo de 15 anos, não é recomendável. Do sub-17 e sub-20 já muda um pouco, mas, mesmo assim, continua valendo essa premissa de que o ideal seria no máximo 60 jogos por temporada”, afirmou Turíbio.

O fisiologista aponta outro fator importante, o intervalo entre partidas.

“Qual é a carga de treinamento a qual esses garotos têm sido submetidos nos intervalos entre os jogos? Esse é um fator fundamental, principalmente para o jovem em fase de desenvolvimento físico. Isso pode prejudicar sua formação”, conclui.

A Folha solicitou aos quatro grandes clubes paulistas, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, os números de partidas disputadas em 2007 e 2017 para identificar se houve aumento da atividade na base e compará-lo com os times profissionais. Apenas os palmeirenses e tricolores responderam em sua totalidade. O Santos e o Corinthians afirmaram que não tinham dados completos sobre o número de jogos das categorias de base.

Para que a atividade dos jovens atletas não seja enquadrado como trabalho infantil, os clubes precisam obedecer uma legislação específica. 

Os atletas menores de 14 anos não podem ter contrato com o clube. Dos 14 aos 16 anos, os jogadores podem assinar acordos de formação, com duração máxima de dois anos e pagamento de bolsa.

Só depois dos 16 anos os jogadores podem assinar contratos de trabalho profissional com o clube, mas com vínculo máximo de quatro anos

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