Ministério Público vê organização criminosa em gestão do Inter

Órgão investiga crimes que teriam ocorrido no clube gaúcho entre 2015 e 2016

São Paulo | UOL

​O Ministério Público do Rio Grande do Sul cumpriu, na manhã desta quinta-feira (20), mandados de busca e apreensão em investigação de crimes de apropriação indébita, estelionato, organização criminosa, falsidade documental e lavagem de dinheiro na gestão 2015/2016 do Internacional. Os promotores compararam o esquema instalado no clube ao de uma organização criminosa. 

O então presidente do Inter, Vitorio Piffero, fala ao telefone durante treino do time durante o Brasileiro de 2016
O então presidente do Inter, Vitorio Piffero, fala ao telefone durante treino do time durante o Brasileiro de 2016 - Marcos Nagelstein-4.out.16/Agência Freelancer/Folhapress

"O Inter é vítima de todos esses fatos e colaborou durante a investigação inteira. Estávamos diante de uma organização criminosa. Quando há todos esses desvios em braços importantes do clube, como financeiro, jurídico, patrimonial, esportivo, havia organização criminosa e a participação do presidente. Não se imagina que cada um dos dirigentes estivesse agindo por conta própria, sem a ciência" disse o Flávio Duarte, promotor e coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público.

De acordo com o órgão, foram 20 diligências. Os mandados incluem residências dos dirigentes do clube à época e sede de empresas em Porto Alegre, Eldorado do Sul e Viamão.

A lista de investigados cita seis dirigentes da gestão comandada por Vitório Piffero. Além de Piffero, são citados Pedro Affatato, ex-vice-presidente eleito e vice de finanças; Alexandre Limeira, ex-vice de administração; Emidio Marques Ferreira, que ocupou cargo de vice de patrimônio; Marcelo Domingues de Freitas e Castro, ex-vice jurídico; e Carlos Pellegrini, ex-vice de futebol.

Em outubro, o Internacional tornou Vitório Piffero, Pedro Affatato, Emídio Ferreira e Alexandre Limeira inelegíveis no clube por 10 anos.

A administração de Piffero foi marcada pela queda do Internacional para a Série B  em 2016. Uma série de supostas irregularidades administrativas também foram apontadas na gestão. Tanto que ao fim do último ano de comando, as contas foram rejeitadas na avaliação do Conselho, que criou uma comissão especial para analisar o que havia acontecido.

Esta comissão realizou uma sindicância e formulou um relatório em que 15 itens foram separados. Destes, cinco configuraram, segundo o documento, gestão irregular ou temerária.

 

Foram eles: adiantamentos em valores dos cofres do clube de aproximadamente R$ 10 milhões sem apresentação de nota fiscal, pagamentos de faturas de cartões de crédito de forma irregular, R$ 1,1 milhão em pagamentos a empresas responsáveis por obras não verificadas no Beira-Rio e gastos no cartão corporativo do clube com alimentação.

"No braço financeiro foi algo escandaloso. Foram retirados do clube cerca de R$ 10 milhões em espécie. A questão do futebol é a mais delicada e a que tem a maior expectativa. Está provado que tem sacanagem no futebol. Há vários contratos em que claramente houve contratação, pagamento a intermediário e, com simulação de outras empresas, o dinheiro voltando para o dirigente", completou Mauricio Dorneles, subprocurador-geral do MP. 

Em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, o ex-presidente Vitorio Piffero negou as irregularidades e disse que vai se defender quando for chamado pelo Ministério Público. 

"Eu me dediquei de corpo e alma ao Inter e ser tratado desta maneira pelo clube é um absurdo. Quero que provem qualquer ato da minha gestão que eu tenha praticado e tenha sido desabonatório. Espero que o MP me chame logo. Porque se eu depender da minha defesa no Inter, não tenho a menor chance", afirmou o ex-dirigente.

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