Descrição de chapéu The New York Times

Motor, pilotos e estratégia de pneus são vantagens da Ferrari na F-1 em 2019

Equipe italiana ficou atrás da Mercedes na última temporada

Sebastian Vettel, da Ferrari, durante teste na pista de Abu Dhabi
Sebastian Vettel, da Ferrari, durante teste na pista de Abu Dhabi - Kamran Jebreili - 27.nov.18/Associated Press
Kate Walker
The New York Times

Depois de conquistar seu quinto título mundial consecutivo de construtores na F-1, este ano, a preocupação da equipe Mercedes é evitar a complacência quanto a continuar vencendo.

Para a segunda colocada, a Ferrari, complacência não é o problema. A questão, diz o comandante da equipe, Maurizio Arrivabene, é a postura mental. A equipe precisa ver a vitória como regra e não como exceção.

"O hábito de vencer é bem simples", ele declarou em entrevista. "Se você chega em primeiro e segundo, não deveria ver esse fato como um evento excepcional", ele disse, sobre colocar dois pilotos na liderança de uma corrida. "Isso precisa ser um hábito, como eu disse. Dessa forma, você mudará e transformará sua mentalidade, deixando de ser batalhador para se tornar vencedor".

Ele tinha uma mensagem parecida na Ferrari Finali Mondiali, uma competição não relacionada à Fórmula 1, no começo de novembro.

"Existem áreas em que somos superiores, outras em que eles são", ele disse sobre a Mercedes. "Mas acho que ainda nos falta o hábito de vencer".

"No tênis, isso é chamado de 'braccino': o medo de vencer que surge quando você está perto dessa meta. Devemos confiar em nós mesmos e fazer da vitória um bom hábito", declarou Arrivabene.

A Ferrari era vista por muita gente como dona do melhor carro na temporada de 2018, com um modelo perfeitamente capaz de desafiar a Mercedes na luta pelo título, ainda que Sebastian Vettel, piloto da equipe e quatro vezes campeão mundial, tenha dito que seu carro não era o melhor.

"É absolutamente verdade afirmar que temos um carro muito forte, mas a percepção das pessoas, de que tínhamos um carro dominante - não creio que isso fosse verdade", ele disse. "Se você observar os resultados, não vejo onde estava esse domínio", ele afirmou, acrescentando que: "Não me entenda mal. Não estou aqui afirmando que eu tinha um mau carro. De forma alguma, eu sei que tinha um carro forte. Mas ao contrário da percepção de algumas pessoas, não acho que tivéssemos um carro dominante".

Um aspecto em que a equipe dominou foi a duração dos pneus. Em corridas nas quais a Mercedes ocasionalmente encontrou problemas para extrair o melhor desempenho dos pneus, a Ferrari conseguiu extrair velocidades maiores e maior duração, dos mesmos pneus usados por seus rivais.

Em um esporte no qual cada centésimo de segundo faz diferença, essa vantagem é importante. Mas a Ferrari deixou de se beneficiar dessa fator diversas vezes por erros de estratégia - colocar pilotos na pista na hora e com os pneus errados, nos treinos; ou fazer más escolhas quanto aos pit-stops. Mesmo com o devido desconto para os erros humanos, houve claros sinais de problemas de comando na equipe.

 

Alguns dos erros humanos foram cometidos por Vettel, que foi muito criticado ao longo do ano por enganos que custaram pontos à equipe, especialmente no Grande Prêmio da Alemanha, quando ele bateu e deixou a prova depois de ter largado na pole position. Lewis Hamilton saiu bem atrás no grid mas terminou por vencer a corrida.

No Grande Prêmio de Abu Dhabi, no dia 25 de novembro, a última prova da temporada, Arrivabene descartou as críticas ao seu piloto. "Começamos a temporada em muito boa forma, e em seguida, como Sebastian disse ontem, de Monza em diante não estávamos lá com um bom carro, e isso também é um fato".

"Não quero acusar a equipe ou o piloto. Se estamos perdendo, estamos perdendo juntos. Se estamos ganhando, estamos ganhando juntos. E é isso".

Para um líder de equipe, defender seus comandados não deveria ser incomum, mas representa uma mudança de atitude na Ferrari. Nos últimos anos, a equipe vem sofrendo de uma cultura em que encontrar culpados se tornou importante, e que resultou não só na perda de pessoal talentoso e importante para outras escuderias como criou um clima de medo dentro da Ferrari, o que causou medo de arriscar, tanto na pista quanto no projeto de novos modelos.

 

Para ajudar a reorientar a equipe, a Ferrari por fim contratou um diretor esportivo, posto que estava vago desde que Massimo Rivola deixou a escuderia no final de 2016.

O novo diretor, Laurent Mekies, antes empregado da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), fez sua primeira aparição no boxe da equipe em Abu Dhabi.

O papel de um diretor esportivo é organizacional. Como o diretor de um time de futebol, o diretor esportivo de uma equipe de Fórmula 1 representa a equipe em discussões técnicas de alto nível sobre mudanças de regulamento. Mas o dia a dia do trabalho também envolve gerenciar o pessoal, o orçamento e a logística da corridas, para garantir que a equipe funcione sem solavancos.

Que um profissional como esse tenha faltado à Ferrari nos dois últimos anos, quando eles tiveram um carro competitivo mas não conseguiram vencer, é revelador. Sem o comando de alguém encarregado de manter o espetáculo na estrada, pequenos problemas às vezes crescem e se tornam questões sérias.

Uma Ferrari unida e organizada, liderada por um chefe que não esteja disposto a atribuir culpa pelos erros a alguns de seus subordinados, e com um diretor esportivo altamente respeitado pronto para ajudar a equipe na temporada 2019, será uma escuderia muito mais forte. Mas é claro que a Ferrari entrou na temporada que acabou recentemente tendo mais ou menos essas expectativas

  Tradução de Paulo Migliacci

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