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'Nem consegui pegar a taça', diz Prass sobre festa do Brasileiro com Bolsonaro

Goleiro do Palmeiras afirma ser contra mistura do futebol com política

O goleiro Fernando Prass, do Palmeiras, concede entrevista em sua casa
O goleiro Fernando Prass, do Palmeiras, concede entrevista em sua casa - Nelson Antoine/Folhapress
São Paulo | Agora

Em seis anos no Palmeiras, Fernando Prass, 40, viveu a Série B, o retorno à elite e conquista dos títulos da Copa do Brasil, em 2015, e dos Brasileiros de 2016 e 2018. Em campo, tornou-se ídolo da torcida e já foi capitão do time.

No dia 2 de dezembro, Prass recebeu o cumprimento do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), convidado na festa do título palmeirense, no gramado do Allianz Parque. O político foi saudado com entusiasmo por jogadores, como Felipe Melo, e pelo técnico da equipe, Luiz Felipe Scolari. 

“Ali é um momento dos jogadores”, diz o goleiro. “Não sou a favor de misturar política e futebol”, completa.
Após a conquista do Brasileiro, Prass renovou o seu contrato com o clube por mais uma temporada.

“Quero jogar mais dois anos e me aposentar aqui”, afirma o goleiro que foi titular em sete partidas na temporada 2018. 

 

Você renovou seu contrato por mais um ano. Já pensa em se aposentar? Ainda não. No mínimo, vou jogar por mais dois anos e depois vou avaliar ano a ano para ver como vou estar. A minha ideia é me aposentar no Palmeiras, mas nunca se sabe o que pode acontecer. Ano passado minha renovação foi meio arrastada, complicada. Então, futebol é muito das pessoas que estão comandando naquele momento. Eu vou aproveitar agora e deixo para me preocupar com renovação no fim do ano que vem.

A torcida do Palmeiras está muito exigente. Vencer o Brasileiro deixa um peso maior para 2019?  Vencemos o título mais importante dentro do futebol brasileiro. Pelo que se criou, vi gente falando que o Felipão deu sorte, que encaixou uma sequência de 23 jogos de invencibilidade, então fala pra alguém acertar 23 vezes na loteria (risos). Ano que vem temos que ganhar desde o Paulista até o Mundial. Se o Felipão conseguir implementar novamente o que fez, que montou dois times para rodar nas competições, teremos condições de disputar todos os títulos.

O que achou do Bolsonaro estar em campo e levantar a taça? Ali é um momento dos jogadores. Nos cobravam muito para estarmos mais organizados, essas festas para entrega de troféus são sempre muito complicadas. Na Europa é tudo limpinho e no Brasil sempre aquela confusão. Tanto que quando o pessoal saiu para dar a volta olímpica eu mesmo não consegui pegar a taça em momento nenhum, pois era tanta gente em volta querendo pegar. Só fui tirar foto com a taça no fim, quando a colocaram de volta no palanque. É sempre muito complicado misturar três coisas: futebol, política e religião. Se quiserem misturar essas coisas vai ter pano pra manga, briga em família, discussão com amigos. São assuntos muito delicados. A festa, na realidade, é um evento da CBF, é no estádio do Palmeiras, mas quem entrega os crachás e autoriza quem sobe e quem não sobe é a CBF, não é o clube. Com certeza se o Palmeiras quisesse colocar o Joãozinho para entregar o troféu, a CBF não iria deixar, foi um evento de responsabilidade da CBF. Eu não sou a favor de misturar.

O corte da seleção olímpica em 2016 foi o momento mais frustrante da sua carreira?  Sim, o mais complicado, o mais dolorido. Era uma convocação para a seleção olímpica no Brasil, era também numa troca de comando. Tanto que alguns jogadores que foram convocados para a Olimpíada também foram para a seleção principal. Foi um momento que eu perdi. Teve uma lesão, uma fatalidade. Quis o destino que eu me machucasse na semana que antecedesse a estreia. Não tem como esquecer, mas já trabalho isso melhor na minha cabeça e tento olhar o lado positivo. Bem ou mal, fui convocado, treinei, vesti a camisa, e tive essa oportunidade. 

Acredita que poderia ter ido para a seleção principal?  Sendo campeão olímpico como o Brasil foi, acho que as chances aumentariam. Quando se começa um trabalho novo, o treinador abre um leque de observação muito grande. Com certeza poderia ter tido uma chance na seleção principal.

Como você está fisicamente? Muito bem. Quando eu tinha 20, 21 anos pesava 87,5 kg e 12,5% de gordura. Hoje tenho 94 kg e 9,8% de gordura, 7kg a mais e uma diferença de 10 kg de massa muscular. A tendência é que depois dos 30 anos a gente comece e perder massa muscular e potência. E pelos testes que temos no clube, do ano passado para cá, ganhei 10% de potência. Então, estou conseguindo não só manter, mas aumentar a condição física. É claro que mudei algumas coisas na minha rotina de treinamento: alimentação, suplementação. Isso porque tenho vontade jogar por mais tempo e sei que só a vontade não vai me fazer jogar. Eu tenho que me preparar. Hoje eu sou muito mais atleta. Abro mão de muitas coisas para me manter em alto nível por mais tempo.

Fernando Prass segura o troféu da Copa do Brasil de 2015
Fernando Prass segura o troféu da Copa do Brasil de 2015 - Rubens Cavallari - 2.dez.15/Folhapress

Acha possível ter rodízio também no gol? Isso é com o treinador, não gosto muito de falar. Pela experiência que o Felipão tem, ele saberá fazer da melhor forma possível. Além do Felipão ter essa confiança de rodar o elenco, a resposta do elenco também foi fundamental. Se ele roda o elenco e o time perde, ele não conseguiria manter. Isso também dá mais confiança para ele.

No gol palmeirense há um medo maior de perder posição? A pressão será sempre muito grande pela comparação da academia de goleiros que o clube teve ou com quem está de fora, no caso, hoje, eu e o Jailson. Eu sempre estive muito tranquilo, muitos de fora falavam que tinham receio da minha condição física e do Jailson quando o assunto era renovação, mas tivemos um ano inteiro sem lesões.

O Felipão foi o diferencial na conquista do Brasileiro? Ele montou dois times e fez algo que ninguém conseguiu aqui no Brasil. O Roger, o Mano, o Barbieri, quando estava no Flamengo, o Dorival, o Renato [Gaúcho] tentaram, mas não conseguiram. Temos que dar méritos ao Felipão por isso [revezar dois times na temporada].

Felipão transformou o grupo numa família? Os trabalhos dele se baseiam muito nisso. Acho que só se consegue criar isso com transparência. Às vezes tem treinador que quer agradar todo mundo, fala uma coisa para um ou para outro e não cria um ambiente bom, não tem união porque gera desconfiança. O Felipão sempre foi muito claro e muito verdadeiro e isso facilita muito no relacionamento. É difícil comandar 28 jogadores que sabem que têm condições de jogar.

Por que o Bom Senso acabou? Porque muitos que estavam encabeçando o projeto pararam de jogar. Conseguimos, entre aspas, uma primeira vitória, que era um negócio de fair play financeiro, que ia ser aprovado de um jeito totalmente deturpado. Conseguimos através de debates colocar algumas coisas que achávamos interessantes. Na verdade, o fair play vinha junto com o refinanciamento das dívidas dos clubes para melhorar a situação financeira deles. Só que se não tivesse contrapartidas, daqui a 10 anos os clubes estariam na mesma situação. Então, tinha que tratar a causa, que era a má gestão. Queríamos proteger os clubes desta má gestão, que era ter um limite de gastos de acordo com o orçamento, comprovação de pagamentos, ou seja, estar em dia com salários de jogadores, funcionários, com a receita e obrigações, não poder adiantar verbas de televisão, a não ser que fosse pra investir em patrimônios. E daí tinha uma série de punições se não cumprisse, mas como não foi colocado no regulamento das competições, tem-se o fair play e nada acontece. Vimos que com o clube melhor estruturado, teríamos melhores condições de trabalho, o atleta vai receber em dia. Vemos clubes hoje que estão em situações difíceis. Se fossem empresas e não clubes de futebol teriam falido.

É difícil unir os jogadores? Sim, é difícil. Sabemos que a realidade é a seguinte: não querendo desmerecer jogadores da Série C ou B, mas quem tem força são os jogadores da Série A. Esses, muitas vezes, estão com nível de vida estabilizado e têm preguiça, estão acomodados, não querem perder um tempo da vida pessoal para ir ao Rio de Janeiro, Brasília ou São Paulo falar com alguém. Não têm consciência de coletividade.

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