Nova crise política faz basquete brasileiro reviver fantasmas recentes

Exigências acentuam racha entre confederação e liga que organiza o NBB

Daniel E. de Castro
São Paulo

Fato recorrente no basquete brasileiro, uma crise entre entidades chegou ao ápice nesta semana e pode se transformar em ameaça ao futuro da modalidade no país.

O conflito da vez tem em lados opostos a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e a Liga Nacional de Basquete (LNB). Desde 2008, a liga tem os clubes como associados e organiza o principal torneio nacional da modalidade.

O NBB (Novo Basquete Brasil) surgiu após uma série de fracassos da CBB na organização de um campeonato brasileiro de basquete. Nos últimos anos, o torneio se consolidou, inovou ao transmitir suas partidas nas redes sociais e atualmente é exibido em seis plataformas diferentes: Band, BandSports, ESPN, Fox Sports, Facebook e Twitter.

Apesar de a confederação brasileira dar a chancela para a liga administrar o torneio, a relação entre as entidades nunca foi das melhores.

Nesta semana, a CBB publicou documento em que lista várias exigências para manter o reconhecimento do NBB.

O que mais gerou revolta na liga foi o fato de a portaria dar publicidade a uma discussão ainda em andamento sobre o Superior Tribunal de Justiça Desportiva da modalidade.

Segundo o documento, a LNB é obrigada a reconhecer a competência do tribunal da confederação para julgamento de infrações ocorridas nas suas competições. Insatisfeita com a atuação dele, a liga quer ter uma corte própria.

O tema já havia figurado no centro do embate entre as entidades nos últimos anos. Reapareceu agora em meio a outras disputas que já indicavam o acirramento de ânimos.

No mesmo dia em que a liga lançou a temporada 2018/19 do NBB, a confederação anunciou que voltará a comandar um campeonato brasileiro no ano que vem. A ideia é que ele substitua a divisão de acesso, atualmente organizada pela LNB.

Isso foi decidido em acordo entre as entidades, mas a resistência da CBB em chamar seu torneio de segunda divisão incomodou a liga.

Em novembro, uma declaração do técnico da seleção brasileira, o croata Aleksandar Petrovic, também causou ruído. Contratado pela CBB, ele criticou o basquete jogado pelos times do NBB, na sua opinião muito acelerado e com excesso de arremessos de três pontos.

O técnico Aleksandar Petrovic em jogo das eliminatórias do Mundial de basquete
O técnico Aleksandar Petrovic em jogo das eliminatórias do Mundial de basquete - Gaspar Nobrega - 11.nov.17/Inovafoto/Divulgação

Com a publicação do documento, a disputa que até então se dava nos bastidores ficou escancarada. Publicamente, porém, as entidades adotam tom mais ameno.

A liga afirma que seu departamento jurídico está analisando o caso e que em 2019 levará o assunto para discussão na Fiba, a federação internacional da modalidade.

Não seria a primeira vez nos últimos anos que o basquete brasileiro ficaria na dependência da entidade. De novembro de 2016 a junho de 2018, a CBB esteve suspensa pela Fiba por “falta de controle total” do esporte. Nesse período, uma intervenção na confederação foi cogitada pela federação internacional.

Antes disso, a seleção teve sua participação na Olimpíada do Rio ameaçada após a CBB demorar para quitar uma dívida de R$ 4 milhões com a Fiba, referente a um convite para participar do Mundial de 2014 após não conseguir a vaga na competição em quadra.

O diretor da CBB Ricardo Trade afirma não ver uma crise política com a liga. 

“Já conversei com o Kouros [Monadjemi, presidente da LNB] quinta. Vamos conversar depois do Natal, sentar e tentar ajustar as coisas. A liga é extremamente importante para nós”, afirma. 

Ao blog Olhar Olímpico, do UOL, Monadjemi disse que não há diálogo franco entre as entidades: “A liga não tem nenhum problema com a CBB, a CBB que tem problema conosco”. Procurado, o Comitê Olímpico do Brasil não quis se manifestar. A Fiba não respondeu às perguntas enviadas.

Problemas de relacionamento entre ligas e federações não são exclusividade brasileira. Na Europa, desde o começo do século existe um racha entre a Euroliga, que organiza a principal competição de clubes do continente, e a Fiba-Europa.

O braço da federação internacional é responsável por uma competição secundária para equipes e também administra os torneios de seleções.

Os efeitos desse racha foram sentidos nas eliminatórias para o Mundial de 2019, evento da Fiba. As equipes da Euroliga não liberaram seus atletas para a maioria das janelas de jogos do torneio classificatório e ajudaram a diminuir o interesse pela competição.

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